Moro defende chefe da PF e admite "reveses" no combate à corrupção
Declaração vem em meio a questionamentos da PF e da Receita Federal sobre tentativas do presidente Jair Bolsonaro de interferir nos órgãos de controle
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de agosto de 2019 às 16h41.
Última atualização em 27 de agosto de 2019 às 19h52.
Brasília — Após ter seu poder contestado pelo presidente Jair Bolsonaro , o ministro da Justiça, Sergio Moro , defendeu nesta terça-feira, 27, o trabalho do diretor-geral da Polícia Federal, disse que o presidente tem "compromisso" com o combate à corrupção, mas admitiu "reveses", sem detalhar ao que se referia.
"O presidente Jair Bolsonaro tem um compromisso com prevenção e combate à corrupção. Esse foi um dos temas centrais que me levaram a aceitar esse convite, e eu creio que o governo tem avançado nessa área", disse Moro, na abertura do seminário Métodos de Combate à Corrupção, organizado pela Polícia Federal e sediado no Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). "Claro que às vezes há alguns reveses, mas nós temos avançado no enfrentamento da corrupção", acrescentou.
A defesa pública vem em meio a questionamentos de dentro da Polícia Federal e da Receita Federal sobre tentativas do presidente de interferir nos órgãos de controle. Na sexta-feira, 23, um antigo aliado de Moro, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, o procurador da República Deltan Dallagnol, disse em entrevista à Gazeta do Povo que o presidente está se distanciando da pauta de combate à corrupção. O presidente também está sendo pressionado para vetar artigos do projeto de lei de abuso de autoridade, pedido por parlamentares de seu partido, PSL, e pelo próprio Moro.
No evento, o ministro também fez uma defesa do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ao afirmar que ele tem feito "um trabalho extraordinário à frente da PF". Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro falou publicamente na possibilidade de demitir o diretor-geral, após a reação negativa por parte da corporação com a possibilidade de interferência política na indicação de superintendentes. "Se eu não posso trocar o superintendente, vou trocar o diretor-geral", disse Bolsonaro na ocasião.
Reveses
Desde que assumiu o cargo, Moro sofreu alguns reveses, como a transferência do Conselho de Controle de Administração Financeira (Coaf) para o Ministério da Economia, e o seu pacote anticrime, que reúne iniciativas para endurecer a legislação penal do País, mas não recebeu o respaldo do governo para ver votada com celeridade no Congresso.
O ministro e equipe, contudo, entendem que é preciso seguir o trabalho e que bons resultados podem ser alcançados no combate à criminalidade. Um dos principais auxiliares diz que Moro tem serenidade, equilíbrio e a pasta está unida com ele.
No seminário em Brasília, Moro disse também que, no combate à corrupção, é preciso atuação dos Estados e que é preciso fiscalizar também os "vigilantes", para impedir que se corrompam os próprios policiais, membros do Ministério Público e auditores. "Precisamos ter integralidade máxima dentro dos órgãos de controle e fiscalização. Estamos tentando no MJSP desenvolver mecanismos para aprimorar corregedorias e fiscalização no âmbito das polícias", disse.