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Ministério da Saúde tem 9,5 milhões de testes para covid-19 estocados

O Ministério da Saúde distribuiu menos de um terço dos 22,9 milhões de exames do tipo RT-PCR, considerados "padrão ouro" para diagnóstico da covid-19

Canan Emcan, 31, chief nurse of the infection and virologist ward of the university clinic of Essen closes a sample of a smear test to be used in case of coronavirus patients during a media event in Essen, Germany, March 5, 2020. REUTERS/Wolfgang Rattay (Wolfgang Rattay/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de setembro de 2020 às 13h46.

Sete meses após o Brasil entrar em estado de emergência pública por causa da pandemia, o Ministério da Saúde distribuiu menos de um terço dos 22,9 milhões de exames do tipo RT-PCR, considerados "padrão ouro" para diagnóstico da covid-19 . Até esta quinta-feira, foram 6,43 milhões de unidades enviadas a Estados e municípios da rede pública de saúde, o que equivale a 28% do total, destaca o Estadão. No mesmo período, o governo enviou 8 milhões de testes do tipo rápido - que localizam anticorpos para a doença, mas não são indicados para diagnóstico -, obtidos por meio de doações.

O principal motivo para os exames já comprados não serem usados é a falta de insumos necessários na primeira etapa, para a coleta e extração do material genético de pacientes. Segundo gestores locais, os testes encalham tanto no ministério como em unidades de saúde, pois o governo federal enviou kits incompletos para processar as amostras colhidas. Há 9,46 milhões de unidades estocadas na pasta, número próximo do revelado pelo Estadão no fim de julho (9,85 milhões).

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Isso porque o número de cotonetes "swab" e tubos, usados para coleta de amostras, está abaixo do necessário. Foram 2,48 milhões do primeiro e 1,8 milhão do segundo. Os insumos para "extração" do material genético (RNA), segunda fase do processo de testes, foram entregues em escala ainda menor: somente 622,6 mil chegaram aos Estados. Os dados sobre reagentes e insumos distribuídos constam em documentos internos da pasta, obtidos pelo Estadão.

O Ministério da Saúde afirma que pretende regularizar a situação pois contratou 10 milhões de unidades de "extração", que devem ser distribuídas nos próximos 15 dias. Questionada em julho sobre os testes encalhados, a pasta disse que não havia recebido alertas dos gestores dos Estados sobre a falta de insumos. Relatórios internos, no entanto, já apontavam o problema. O governo afirmou ainda que teve dificuldades para encontrar todos os insumos no mercado internacional.

Outro motivo para a não distribuição da maior parte dos exames já adquiridos é que 7,65 milhões ainda estão em fabricação na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), laboratório público vinculado à pasta. O resultado da falta do material é que o Sistema Único de Saúde (SUS) executou apenas 2,65 milhões de testes moleculares, ou seja, menos da metade das unidades entregues pelo ministério. A conta não considera que alguns Estados e municípios ainda fizeram compras próprias de exames.

"A distribuição de insumos para extração do material genético viral, utilizado na primeira etapa do processamento nos laboratórios, ainda não está regularizada e afeta a realização dos testes", afirma o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Meta mantida

Com kits incompletos, o Brasil está distante da meta de exames "padrão ouro" traçada em maio pelo próprio ministério, no programa "Diagnosticar para Cuidar". A ideia era analisar 20 milhões de amostras no SUS até agosto, mas a rede pública só cumpriu 13,25% da meta. O governo esperava fechar o ano com outros 4,2 milhões de testes feitos.

"Esse processo (do exame) envolve três grandes etapas. O preparo e a extração do material genético, converter esse material genético e a amplificação em tempo real", explica Mellanie Fontes-Dutra, pós-doutoranda em Bioquímica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Apesar do atraso, a Saúde mantém a meta de testagem. Além dos 10 milhões de unidades de extrações que promete distribuir em 15 dias, a pasta deve instalar máquinas para automatizar o processamento das amostras em nove Estados e no Distrito Federal. "A média diária de exames RT-PCR realizados no Brasil passou de 1.148 em março para 22.943 em agosto. A meta é ampliar a capacidade laboratorial para realizar até 115 mil testes diários", afirma.

Presidente do Conass e secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula afirma que "os laboratórios ficam impedidos de iniciar a análise de diversas amostras", quando o ministério só envia parte dos insumos. O Maranhão, por exemplo, não recebe reagentes de extração desde maio do governo federal.

O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, tem minimizado a falta de testes. Na gestão do militar, o discurso é de que o médico deve fazer o diagnóstico com base na análise dos sintomas do paciente, por exemplo, e já prescrever medicamentos. "A ampliação da capacidade de testagem não está atrasada. Há mais de 60 dias que o diagnóstico é clínico", disse Pazuello na Segunda-feira.

Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o médico Leonardo Weissmann afirma que o exame clínico não pode substituir a testagem em massa. "No começo da pandemia imaginávamos que covid-19 era doença basicamente respiratória. Hoje sabemos que atinge vários órgãos e tem um quadro bastante inespecífico." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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