"Meu recorde é R$ 35 milhões em um dia", diz delator da Odebrecht
Delator contou ainda que havia um "conceito de segurança" para as entregas para que os valores não ultrapassassem os R$ 500 mil
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de abril de 2017 às 13h48.
São Paulo - O ex-executivo da Odebrecht Fernando Migliaccio da Silva, que confessou ser o responsável pelas entregas em dinheiro vivo do Setor de Operações Estruturadas - o departamento da propina -, afirmou em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que seu "recorde" foi a entrega de R$ 35 milhões em um único dia.
E que havia um "conceito de segurança" para as entregas para que os valores não ultrapassassem os R$ 500 mil.
"Só que, devido à pressão e à demanda, teve um dia que eu fiz R$ 30 milhões. Então, a gente dividia em tranches para não passar de R$ 500 (mil)", afirmou Miagliaccio, ao ministro do TSE Herman Benjamin, relator da ação contra a chapa Dilma Rousseff (PT), presidente, e Michel Temer (PMDB), vice, de 2014.
O ex-executivo da Odebrecht explicou que trabalhou de 2009 a 2015 no Setor de Operações Estruturadas. Ele afirmou que o departamento existia na estrutura da empresa e era apresentado como responsável pelo "planejamento fiscal" do grupo.
O juiz auxiliar do TSE Bruno César Lorencini perguntou ao depoente qual a função, na prática, do Setor de Operações Estruturadas.
"Na prática, não sei na gênese da coisa qual era, mas quando eu entrei, que ele já existia, era para fazer pagamentos paralelos", explicou o delator. "(Pagamentos) Fora de contabilidade."
Os valores que abasteciam o setor eram retirados de contratos internacionais do grupo Odebrecht. Segundo explicaram os delatores para o TSE, a empresa acertou o repasse de R$ 150 milhões para a campanha de reeleição de Dilma, em 2014.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da ex-presidente da República Dilma Rousseff afirmou:
"1. A ex-presidenta Dilma Rousseff não tem e nunca teve qualquer relação próxima com o empresário Marcelo Odebrecht, mesmo nos tempos em que ela ocupou a Casa Civil no governo Lula.
2. É preciso deixar claro: Dilma Rousseff sempre manteve uma relação distante do empresário, de quem tinha desconfiança desde o episódio da licitação da Usina de Santo Antônio.
3. Dilma Rousseff jamais pediu recursos para campanha ao empresário em encontros em palácios governamentais, ou mesmo solicitou dinheiro para o Partido dos Trabalhadores.
4. O senhor Marcelo Odebrecht precisa incluir provas e documentos das acusações que levanta contra a ex-presidenta da República, como a defesa de Dilma solicitou - e teve negado os pedidos - à Justiça Eleitoral. Não basta acusar de maneira leviana.
5. É no mínimo estranho que, mais uma vez, delações sejam vazadas seletivamente, de maneira torpe, suspeita e inusual, justamente no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral, órgão responsável pelo processo que analisa a cassação da chapa Dilma-Temer, está prestes a examinar o relatório do ministro Herman Benjamin.
6. Espera-se que autoridades judiciárias, incluindo o presidente do TSE, Gilmar Mendes, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, venham a público cobrar a responsabilidade sobre o vazamento de um processo que corre em segredo de Justiça.
7. Apesar das levianas acusações, suspeitas infundadas e do clima de perseguição, criado pela irresponsável oposição golpista desde novembro de 2014 - e alimentada incessantemente por parcela da imprensa - Dilma Rousseff não foge da luta. Vai até o fim enfrentando as acusações para provar o que tem reiterado desde antes do fraudulento processo de impeachment: sua vida pública é limpa e honrada."