Meirelles turbina entrevistas em investida para candidatura
Meirelles reconhece que considerará receptividade do eleitorado antes de tomar decisão; os frutos da intensa aparição midiática ainda não foram colhidos
Reuters
Publicado em 8 de março de 2018 às 16h48.
Última atualização em 8 de março de 2018 às 16h51.
Brasília - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles , turbinou sua exposição na mídia nos últimos três meses, com 52 entrevistas exclusivas a veículos de comunicação e foco basicamente em tevês e rádios regionais, movimento que coincide com o trabalho que tem feito para tentar se cacifar como pré-candidato à Presidência da República.
O número é mais de cinco vezes superior ao observado no mesmo período do ano anterior, quando Meirelles concedeu apenas 10 entrevistas, sendo que nenhuma a rádios.
Em outra comparação, a marca supera com folga a cravada pelo presidente Michel Temer , que também flerta com eventual candidatura na corrida presidencial deste ano. De dezembro a fevereiro último, Temer participou de 18 entrevistas.
O levantamento, feito pela Reuters com base em registros públicos de agenda, não considera as entrevistas coletivas, mas apenas aquelas acordadas diretamente com os veículos. Os números foram confirmados pelas assessorias de imprensa do ministério e do Palácio do Planalto.
Por meio do visível esforço de comunicação, Meirelles dá corpo à estratégia de fazer seu nome circular em diferentes regiões do país, popularizando suas propostas e sua biografia a um público mais amplo.
Só para rádios, foram 23 entrevistas entre dezembro e fevereiro, de diferentes regiões, como rádio Paiquerê, de Londrina (PR), Capital, de Campo Grande (MS), Correio, de João Pessoa (PB), Verdes Mares, de Fortaleza (CE), e Guaíba, de Porto Alegre (RS). A investida também incluiu duas entrevistas para o programa de rádio do popular apresentador José Luiz Datena.
A exposição em tevês também foi catapultada, com destaque para a maratona realizada em 18 de janeiro. Depois de falar pela manhã à rádio Metrópole, de Salvador (BA), e gravar à tarde para o programa Canal Livre, da Band, Meirelles deu entrevista à noite para outras 17 TVs, a maior parte delas religiosa, incluindo a TV Silas Malafaia e a TV IURD, da Igreja Universal do Reino de Deus.
No cômputo geral, foram 23 entrevistas para televisão, incluindo gravação em fevereiro para o programa do Ratinho, no SBT, outro apresentador de forte apelo popular.
Dessa leva dos últimos três meses, apenas cinco entrevistas foram para veículos impressos e online e uma para um grupo de comunicação com diversos meios. Um ano antes, Meirelles deu total de sete entrevistas a jornais e agências de notícias e três para tevês.
Procurado via assessoria de imprensa do ministério, Meirelles não se pronunciou sobre o assunto.
Em suas declarações, Meirelles tem dito que se sente preparado para ser presidente da República, mas que somente decidirá se sairá candidato ou não em abril.
Xadrez político
Meirelles tem reconhecido que considerará a receptividade do eleitorado antes de tomar uma decisão. Mas os frutos da intensa aparição midiática ainda não foram colhidos.
Na pesquisa Datafolha do início de dezembro, o ministro ainda patinava com 1 a 2 por cento das intenções de voto, quadro que não se alterou no levantamento feito em 31 de janeiro. Há quem considere seu nome associado em demasia aos interesses do mercado financeiro, enquanto outros veem falta de carisma.
Contra as ambições políticas de Meirelles também pesa o intrincado jogo de apoios que se desenha nos bastidores.
O ministro é filiado ao PSD, mas o presidente licenciado do partido, o ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicação, Gilberto Kassab, vem dando indicações concretas que apoiará o projeto do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) à Presidência em troca de um lugar na chapa dos tucanos ao governo de São Paulo.
Diante do panorama, Meirelles já admitiu a possibilidade de ir para o MDB, de Temer. Para os caciques da legenda que apoiam a investida, o nome do ministro é menos vulnerável a escândalos do que o do presidente e, por isso, poderia ser melhor na defesa do legado do atual governo.
Com patrimônio considerável, o ministro também seria capaz de bancar sua própria campanha, vantagem para o partido em tempos em que o financiamento empresarial não é mais permitido.
Seja como for, o ministro tem até 7 de abril para tomar uma decisão, prazo máximo de desincompatibilização e também de filiação a outro partido. Mesmo se ingressar no MDB e deixar a Fazenda por causa da eleição em outubro, o ministro ainda não garante que será o nome do partido.
Isso porque o último dia para registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é 15 de agosto, e o MDB pode optar por outro nome.