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Os efeitos da ação na Cracolândia para a imagem de Doria

Para o publicitário Renato Meirelles, fundador do instituto de pesquisas Locomotiva, ação aproxima imagem do prefeito a de um político tradicional

RENATO MEIRELLES: “medidas como a da Cracolândia são vistas como as de um político tradicional, e não como as de um gestor” / Divulgação
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Isabel Seta

Publicado em 24 de maio de 2017 às 19h37.

Última atualização em 23 de junho de 2017 às 15h00.

Um tumulto impediu que o prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciassem novas habitações populares e o plano de revitalização na Cracolândia, região de São Paulo onde vivem centenas de usuários de crack, nesta quarta-feira. Foram interrompidos por gritos de “fascistas” e “higienistas” por funcionários e ONGs que atuam na região. O projeto de remoção de dependentes químicos e a demolição de imóveis tem sido alvo de críticas desde a primeira operação policial, no domingo. Doria foi criticado pelo Ministério Público de São Paulo, que afirmou que a Cracolândia “apenas mudou de lugar”. Para Renato Meirelles, fundador do instituto de pesquisas Locomotiva, a forma como a ação foi executada pode trazer consequências negativas a um dos prefeitos mais populares do país.

A Cracolândia já era um tema delicado para a gestão anterior. O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) criticado ora por ser higienista, ora por ser muito brando. Esse é um tema relevante para a maior parte dos eleitores paulistanos?
A proporção que isso ganha na mídia faz com que o tema vire uma pauta. Mas virar uma pauta é um pouco diferente de realmente ser um fator relevante na hora de escolher entre o candidato A, B ou C, do ponto de vista da opinião pública. Uma coisa é falar sobre política de drogas, boa parte das famílias conhece alguém que é ou já foi usuário de droga, mas quando falamos de crack existe um recorte claro. Quando se trata de crack a questão da humanização da política pública fala pouco para a opinião pública. No caso do crack, a própria diferenciação entre quem é o dependente e quem é o traficante não é muito clara. Então, posturas mais radicalizadas com relação a esse tema, como por exemplo desalojar as pessoas que vivem na cracolândia, internar, etc, tendem a ser aceitas pela população ou interferir muito pouco no eleitorado médio do Doria.

E para a imagem do prefeito João Doria?
O que pode acontecer é que ele começa a se consolidar mais como um político tradicional ao não dialogar com uma outra esfera de eleitorado não votou nele. É importante lembrar que ele teve a maioria dos votos válidos, mas teve só um terço do eleitorado, e ganhou no primeiro turno com o discurso do gestor e não do político. Mas quando as medidas que ele toma são vistas mais como as de um político tradicional e não como as de um gestor, isso desgasta a imagem dele.

Quais as possíveis consequências?
A ação na Cracolândia dá munição para as críticas e consolida um núcleo de rejeição a ele. Ao mesmo tempo que consolida um núcleo tradicional de eleitores que são mais conservadores. Mas essas consolidações tornam mais difícil a ampliação do eleitorado e, como eu disse, tornam a imagem dele mais próxima a de um político tradicional – e os políticos tradicionais são rejeitados pela população. As decisões que foram tomadas, com as secretarias não estando informadas, e demolir o prédio quando havia gente no local, não parecem as decisões de um gestor que planeja e pensa antes de fazer, e sim medidas tomadas num rompante por um político tradicional. Não é que ele perde eleitores, mas aquela imagem dele de um gestor eficiente vai se desgastando, especialmente quando decisões como essa são somadas a outras medidas que não foram vistas como bem planejadas pela população.

Por exemplo?
Como por exemplo o caso dos grafites, que não foi bem visto.

A ação de domingo foi orquestrada em sua maior parte pelo governo do Estado. A imagem do governador Geraldo Alckmin sai afetada de alguma forma?
Acho que não. Tem pouca relevância. Isso pode mudar se por exemplo novas cracolândias começarem a ser formadas e a sensação de insegurança crescer. Mas há uma questão clara de postura também. O Doria tem posturas bem mais assertivas que o Alckmin, tudo que o prefeito faz ganha muito mais repercussão.

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Um tumulto impediu que o prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciassem novas habitações populares e o plano de revitalização na Cracolândia, região de São Paulo onde vivem centenas de usuários de crack, nesta quarta-feira. Foram interrompidos por gritos de “fascistas” e “higienistas” por funcionários e ONGs que atuam na região. O projeto de remoção de dependentes químicos e a demolição de imóveis tem sido alvo de críticas desde a primeira operação policial, no domingo. Doria foi criticado pelo Ministério Público de São Paulo, que afirmou que a Cracolândia “apenas mudou de lugar”. Para Renato Meirelles, fundador do instituto de pesquisas Locomotiva, a forma como a ação foi executada pode trazer consequências negativas a um dos prefeitos mais populares do país.

A Cracolândia já era um tema delicado para a gestão anterior. O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) criticado ora por ser higienista, ora por ser muito brando. Esse é um tema relevante para a maior parte dos eleitores paulistanos?
A proporção que isso ganha na mídia faz com que o tema vire uma pauta. Mas virar uma pauta é um pouco diferente de realmente ser um fator relevante na hora de escolher entre o candidato A, B ou C, do ponto de vista da opinião pública. Uma coisa é falar sobre política de drogas, boa parte das famílias conhece alguém que é ou já foi usuário de droga, mas quando falamos de crack existe um recorte claro. Quando se trata de crack a questão da humanização da política pública fala pouco para a opinião pública. No caso do crack, a própria diferenciação entre quem é o dependente e quem é o traficante não é muito clara. Então, posturas mais radicalizadas com relação a esse tema, como por exemplo desalojar as pessoas que vivem na cracolândia, internar, etc, tendem a ser aceitas pela população ou interferir muito pouco no eleitorado médio do Doria.

E para a imagem do prefeito João Doria?
O que pode acontecer é que ele começa a se consolidar mais como um político tradicional ao não dialogar com uma outra esfera de eleitorado não votou nele. É importante lembrar que ele teve a maioria dos votos válidos, mas teve só um terço do eleitorado, e ganhou no primeiro turno com o discurso do gestor e não do político. Mas quando as medidas que ele toma são vistas mais como as de um político tradicional e não como as de um gestor, isso desgasta a imagem dele.

Quais as possíveis consequências?
A ação na Cracolândia dá munição para as críticas e consolida um núcleo de rejeição a ele. Ao mesmo tempo que consolida um núcleo tradicional de eleitores que são mais conservadores. Mas essas consolidações tornam mais difícil a ampliação do eleitorado e, como eu disse, tornam a imagem dele mais próxima a de um político tradicional – e os políticos tradicionais são rejeitados pela população. As decisões que foram tomadas, com as secretarias não estando informadas, e demolir o prédio quando havia gente no local, não parecem as decisões de um gestor que planeja e pensa antes de fazer, e sim medidas tomadas num rompante por um político tradicional. Não é que ele perde eleitores, mas aquela imagem dele de um gestor eficiente vai se desgastando, especialmente quando decisões como essa são somadas a outras medidas que não foram vistas como bem planejadas pela população.

Por exemplo?
Como por exemplo o caso dos grafites, que não foi bem visto.

A ação de domingo foi orquestrada em sua maior parte pelo governo do Estado. A imagem do governador Geraldo Alckmin sai afetada de alguma forma?
Acho que não. Tem pouca relevância. Isso pode mudar se por exemplo novas cracolândias começarem a ser formadas e a sensação de insegurança crescer. Mas há uma questão clara de postura também. O Doria tem posturas bem mais assertivas que o Alckmin, tudo que o prefeito faz ganha muito mais repercussão.

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