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Lula e Bolsonaro fazem último debate antes da eleição; veja os destaques

Candidatos trocaram acusações de corrupção e prometeram aumentar o salário mínimo

 (Globo/ Sérgio Zalis/Divulgação)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 29 de outubro de 2022 às 00h42.

No último debate presidencial antes do segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) mantiveram a dinâmica dos confrontos anteriores, com falta de propostas e excesso de acusações entre os candidatos. O embate foi transmitido pela TV Globo, na noite desta sexta-feira, 28. O segundo turno será no domingo, 30. 

Logo no início do debate, para desmentir notícias de que o governo estaria planejando congelar salários e aposentadorias, Bolsonaro disse que o salário mínimo será reajustado acima da inflação em 2023. O presidente prometeu que, se for reeleito, o valor subirá para R$ 1,4 mil no ano que vem. 

Perguntado sobre a participação do PT nas veiculações que dizem que Bolsonaro cortaria benefícios, como o 13º, Lula lembrou que o presidente não deu nenhum aumento real, apenas reajustou o salário mínimo de acordo com a inflação, o que é obrigatório.

"A verdade nua e crua é que o salário mínimo hoje é menor do que quando ele [Bolsonaro] entrou. A verdade é que, durante o meu governo, aumentei o salário mínimo em 74%, e ele não aumentou", disse Lula. "É muito fácil chegar perto das eleições e prometer [aumento]. Por que durante quatro anos não aumentou?", questionou.

"Nós concedemos o reajuste no mínimo igual à inflação. Tivemos uma pandemia e fizemos o possível", afirmou Bolsonaro. "Falaram que eu ia mexer nas aposentadorias, que eu ia acabar com as férias, e isso não é verdade", disse o candidato à reeleição. 

Ainda sobre temas econômicos, Lula disse que Bolsonaro "prometeu muita coisa e não cumpriu, inclusive sobre o Imposto de Renda". O petista disse que, se eleito, atualizará a tabela de isenção do Imposto de Renda, para que pessoas que ganhem até R$ 5 mil por mês não precisem pagar.

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Lula também comentou que, embora Bolsonaro prometa manter o Auxílio Brasil em R$ 600 no ano que vem, o projeto de diretrizes para o Orçamento de 2023 enviado pelo governo ao Congresso prevê um valor menor, de R$ 400. 

O petista lembrou que, inicialmente, Bolsonaro queria aprovar um auxílio de R$ 200 e só aumentou o valor após pressão do Congresso. O presidente afirmou que a bancada do PT votou contra o auxílio e que o valor do Bolsa Família era menor do que o do atual benefício.

"Nós não deixamos de lado os aposentados, não deixamos de lado o salário mínimo. Você se comporta como pai dos pobres, mas nós demos o auxílio de R$ 600. Gastamos o equivalente a 15 anos de Bolsa Família", disse Bolsonaro.

Para Lula, "é uma bobagem" comparar o antigo programa Bolsa Família com o atual Auxílio Brasil. O ex-presidente ressaltou que o Bolsa Família "era apenas um dos programas da política de distribuição de renda que fazíamos". Ele apontou o PNAE, as cisternas e o programa Luz Para Todos. "Era um conjunto de políticas públicas."

Ao questionar o presidente sobre combate à pobreza, Lula disse que, durante os governos petistas, "o povo brasileiro tinha dinheiro para comprar comida, trocar de fogão, trocar de geladeira", e afirmou que "hoje esse país está empobrecido". "Gostaria de perguntar por que o povo ficou tão miserável depois que ele [Bolsonaro] assumiu a Presidência."

Em resposta, Bolsonaro disse que, durante o seu governo, a pobreza diminuiu. Ele citou dados creditados ao Ipea. "O Brasil tinha 5,1% da população na linha da pobreza, e agora são 4%. Lembrando que pobreza é quem ganha até R$ 10 por dia. E o Auxílio Brasil é R$ 20 por dia. Se fosse no Bolsa Família, era R$ 40 por mês. Hoje temos 20 milhões de pessoas recebendo o auxílio, antes eram 13 milhões", afirmou.

O presidente também disse que fez “muita reforma” e “marco regulatório que criou emprego e deu possibilidade de o Brasil seguir na prosperidade". 

Perguntado sobre a geração de empregos, Lula afirmou que, se eleito, vai “rediscutir a CLT, para que os trabalhadores não sejam tratados com descaso". Ele também disse que vai garantir aumento do salário mínimo acima da inflação, como nos antigos governos petistas.

"Mudaram a lógica da medição de emprego. Colocaram MEI (microempreendedor individual) como se fosse emprego. Colocaram emprego informal como se fosse emprego. No meu tempo, era carteira assinada", comparou Lula. "Agora, eles inventaram, colocam trabalho eventual, informal, MEI. Quero saber de emprego registrado", disse.

Respeito à Constituição

Lula disse que Bolsonaro não tem respeito pela Constituição. "O que você tem é medo. Respeito, você não tem", afirmou. "Vive todo santo dia ameaçando ministro da Suprema Corte, dizendo que não vai respeitar decisão. Me parece que o que ele [Bolsonaro] tem é um militar que, de vez em quando, fala para ele 'para de ameaçar, para de ameaçar'."

O ex-presidente negou que o PT tenha entrado com ação para "calar a Jovem Pan", como disse Bolsonaro. "A Jovem Pan, por acaso, é aquele seu canal de televisão? Os advogados do PT entraram com pedido de isonomia. Sabe o que é isonomia? É igualdade, direito de resposta", disse Lula.

Bolsonaro disse que sempre atuou dentro da Constituição. "Há três anos e dez meses eu jogo dentro das quatro linhas da Constituição", afirmou.

O candidato à reeleição fez diversos ataques ao petista, principalmente o questionando sobre o que ele chamou de mentiras que foram veiculadas no programa do horário eleitoral gratuito de Lula. O presidente criticou a gestão do PT e elencou os valores de prejuízos que, segundo ele, foram deixados pelos petistas. 

"Dívida de R$ 900 bilhões na Petrobras, US$ 170 bilhões. Ainda roubou o fundo de pensão da Petrobras, da Caixa e dos Correios. Deixou no BNDES algo em torno de R$ 400 bilhões. Deu US$ 1 bilhão para Cuba e está nos dando o calote", disse Bolsonaro.

Política externa

Lula afirmou que Bolsonaro "isolou o Brasil" nos últimos anos. "O Brasil hoje é mais isolado do que Cuba. Você não tem relação com ninguém, ninguém quer te receber, ninguém vem aqui. Graças a Deus, nós deixamos uma história que as pessoas ainda têm confiança", disse o ex-presidente.

"Foi recebido pelo rei da Arábia Saudita, que ele acha que é democrático", disse Lula. "Diga por que você isolou o Brasil do mundo?", questionou. “Pai, perdoai os ignorantes, eles não sabem o que fazem. Se ele [Bolsonaro] tivesse uma mínima noção do que é política externa, perceberia o significado de exportar engenharia", acrescentou. "Se o Brasil tem política externa, é porque nós fizemos no período em que eu governava."

Questionado sobre como pretende colocar o Brasil em destaque internacional, Bolsonaro disse que o país tem, sob seu governo, três vezes mais acordos que na época em que o petista comandava o Brasil.

O presidente ainda emendou explicações sobre Roberto Jefferson, dizendo que ele foi delator do esquema que ficou conhecido como Mensalão, durante o governo do PT. Bolsonaro negou ser amigo do ex-deputado, preso no último domingo após resistir à prisão e atirar contra policiais federais.

Bolsonaro ainda criticou o TSE: "O sistema todo está contra mim. Grande rede de televisão, como esta aqui. No Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quase todas as queixas que fizemos são ao seu favor. O TSE toma conta de tudo", disse.

Meio ambiente

Ao elencar propostas que serão seu foco em um eventual próximo governo, Bolsonaro destacou a questão energética. Disse que vai construir geradoras de energia eólica, com um parque capaz de produzir mais energia que 50 hidroelétricas de Itaipu "O Nordeste vai ser um oásis para a geração de energia eólica, limpa. Vamos também fazer o metrô de Belo Horizonte", disse.

O presidente ainda apontou números de desmatamento durante a sua gestão. Bolsonaro citou o Inpe como fonte: "No teu governo o desmatamento foi de 430 mil quilômetros quadrados por ano. No meu foi 195 mil. Quem tratou melhor o clima fui eu", afirmou.

"Eu dei título para quase 420 mil assentados. Eu dei liberdade a essas pessoas. Só nesses 8 meses deste ano eu entreguei mais título da reforma agrária do que 8 anos no seu governo. Usava essas pessoas para tocar terror no Brasil", afirmou Bolsonaro. Segundo o presidente, ele conseguiu "dar dignidade" aos agricultores.

Aborto e saúde

Bolsonaro disse que Lula é a favor ao aborto. O petista, por outro lado, trouxe o trecho de uma fala antiga do atual presidente em que ele estimulava uma ex-mulher a abortar. Mesmo no tempo em que era para falar do combate à pobreza ou respeito à Constituição, gastaram os minutos para abordar assuntos que não era pertinentes aos temas.

Após ter sido chamado de "abortista" por Bolsonaro, Lula reforçou que não é a favor do aborto. "Eu sou contra o aborto, e a minha mulher é contra o aborto. Eu respeito a vida, porque tenho cinco filhos, oito netos e uma bisneta", afirmou o ex-presidente.

Sobre saúde pública, Lula disse que Bolsonaro "fez pouco caso" de pessoas que estavam morrendo por covid-19. "Por que negligenciar a saúde? Por que passar 45 dias negando vacina? Por que esconder seu cartão de vacinação?", perguntou ao presidente.

"Por que não atendeu à questão da covid com rapidez, como fez o restante do mundo?", continuou Lula. O candidato do PT aproveitou o tema para afirmar que Bolsonaro reduziu os recursos para o programa Farmácia Popular.

Bolsonaro criticou o extinto programa Mais Médicos, que possibilitava a contratação emergencial de profissionais da saúde estrangeiros. "O seu governo PT fez o programa Mais Médicos cubanos. Eles ganhavam R$ 12 mil e R$ 8 mil iam para Cuba. Com o Médicos pelo Brasil vamos ter 5 mil médicos até o fim do ano", afirmou.

Bolsonaro ainda elencou alguns números da sua gestão: novos 7 mil leitos de UTI, 41 novos equipamentos de radioterapia e 300 milhões de cirurgias eletivas. Questionado por Lula sobre dinheiro no orçamento para fazer as promessas de campanha na área da saúde, o presidente afirmou que não pode fazer por decreto, mas que haverá mais dinheiro. 

Segurança

Lula afirmou que é contra a "facilitação" da compra de armas. "Ninguém compra armas para fazer o bem. Compra para matar. Quem está se beneficiando das suas armas é o crime organizado, que compra arma facilitada e compra até 2 mil cartuchos", disse o ex-presidente.

"No meu governo, não vai ter. Para ter armas, vai ter que ter autorização das Forças Armadas, e a gente vai fiscalizar", afirmou Lula. O ex-presidente disse que, para Bolsonaro, "modelo de paz é o [Roberto] Jefferson, armado, atirando em policiais". "Se fosse um negro de favela, você tinha mandado matar", acrescentou.

Bolsonaro elencou números de combate à criminalidade para mostrar resultados do seu governo. "Você pegou o governo com 49 mil homicídios por ano e entregou com 61 mil. Só em 2021, os homicídios caíram para 41 mil por ano. Os números são gerais, mas há a diminuição, em especial, da mortes de mulheres", afirmou.

Os candidatos também comentaram sobre saúde da mulher e o combate à pandemia de covid-19. Houve várias acusações mútuas de corrupção, com citação de aliados de Lula e de Bolsonaro que foram presos ou investigados pela Justiça.

Assim como no debate da Band, Bolsonaro trouxe o assunto da transferência de Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, e chefe de uma das maiores facções criminosas do país. Segundo o presidente, a transferência do criminoso de um presídio estadual, em um regime mais brando, para uma unidade federal, em que as regras são mais restritas, só ocorreu no seu governo. Além disso, disse que o crime organizado diminuiu durante sua gestão.

Nas considerações finais, Bolsonaro se dirigiu a sua própria base eleitoral. Ainda cometeu uma gafe ao dizer que quer ser "deputado federal", mas logo corrigiu o cargo para presidente. "Somos um país de 90% cristãos. Vamos escolher se o aborto vai continuar sendo aborto ou não. Não queremos a liberação das drogas, respeitamos a propriedade privada. Somos da ordem e progresso. Até a vitória", finalizou.

Já Lula pediu o voto dos eleitores para "voltar a consertar esse país, fazer o país crescer, gerar empregos e para o povo voltar a comer bem". "Se depender de você, eu poderei ser o próximo presidente, para restabelecer a harmonia neste país", disse. "Possivelmente, os melhores momentos que o país viveu nas últimas décadas foi o tempo que governei esse país, porque não tinha briga, confusão, ódio", concluiu.

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