Lula conta detalhes de "prisão VIP" à Comissão da Verdade
Ex-presidente contou que chegou a ter medo de morrer, mas não reclamou do tratamento dado a ele pelo então delegado da Polícia Federal Romeu Tuma
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2014 às 18h23.
São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva , falou, em vídeo divulgado pela Comissão Nacional da Verdade, sobre o tempo em que foi vigiado pela ditadura militar e deu detalhes de sua 'prisão vip', entre abril e maio de 1980.
O ex-presidente contou que chegou a ter medo de morrer, mas não reclamou do tratamento dado a ele pelo então delegado da Polícia Federal Romeu Tuma e chamou o período de "prisão vip".
"O tratamento foi bom, o Tuma me tratou dignamente. Minha mãe estava com câncer e o Tuma teve atitudes humanísticas, eu saía algumas vezes à noite para ver minha mãe", conta o ex-presidente, que foi autorizado a deixar a prisão para acompanhar o enterro da mãe.
Em um depoimento com vários momentos de descontração, Lula lembrou da TV que os presos conseguiram para assistir a um jogo do Corinthians e da comida enviada pela Igreja: "Carne moída, pimenta, era bom pra cacete".
O petista lembrou ainda da bronca que levou de Tuma ao ser flagrado fazendo uma "assembleia" com os investigadores.
O bom tratamento recebido foi creditado por Lula à mobilização de diversos setores da sociedade que ficaram sensibilizados com a prisão.
"A gente foi tratado com certo respeito porque tinha muita gente do lado de fora, não era um preso comum. Tinha trabalhadores, estudantes, intelectuais, igreja, todo mundo."
Durante quase uma hora, Lula falou ao sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro e à psicanalista Maria Rita Kehl, membros da Comissão Nacional da Verdade, sobre as conquistas do movimento sindical do ABC.
Lula disse que sua prisão foi uma "burrice" que só postergou o fim da greve de 1980.
"Acho que eles devem ter se arrependido de ter me prendido porque a minha prisão acabou fazendo o movimento crescer, ficar mais forte e politizar o movimento. Se eles tivessem ficado quietos, a greve acabava por si só", contou.
O ex-sindicalista admitiu que, ao ser preso de madrugada em São Bernardo do Campo, teve medo de ser assassinado.
"Quando eles me prenderam, era uma madrugada com muita serração. Pela primeira vez eu tive medo. Não custa nada aparecer morto na via Anchieta e dizerem que foi uma negócio qualquer".
O alívio só veio quando ouviu no rádio a notícia de sua própria prisão. "Falei: 'porra, tô salvo.'"
Lula afirmou que nos anos anteriores à prisão foi vigiado com frequência pelos órgãos de repressão, mas disse que isso pouco alterava sua rotina.
"Eles me vigiavam em cinema (...) Disfarçados, iam no bar do sindicato. Eles paravam a perua em frente de casa, passavam a noite. Aí, para encher o saco, a Marisa fazia café e levava pra eles. A peãozada queria tocar fogo na perua e eu não deixava".
Comissão da Verdade
O ex-presidente se mostrou cético quanto à possibilidade de encontrar provas abundantes de abusos nos arquivos das Forças Armadas.
Lula acredita que, enquanto concediam a abertura lenta e gradual, os militares prepararam a "queima de arquivo" dos tempos da ditadura.
"Eu acho que isso fez parte do acordo com o Tancredo Neves, fez parte do processo de abertura política. Estou convencido disso", disse.
O ex-presidente acredita que haja documentos guardados com oficiais e familiares para autopreservação ou uso político, o que dificulta o trabalho da Comissão da Verdade.
"Eu não sei o que vocês encontraram de grande novidade nas instituições, eu achei que ia encontrar pouquíssima coisa. Imagino que tenha muita coisa na mão de alguém. De vez em quando, quando morrer um, vai aparecer material", disse.
São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva , falou, em vídeo divulgado pela Comissão Nacional da Verdade, sobre o tempo em que foi vigiado pela ditadura militar e deu detalhes de sua 'prisão vip', entre abril e maio de 1980.
O ex-presidente contou que chegou a ter medo de morrer, mas não reclamou do tratamento dado a ele pelo então delegado da Polícia Federal Romeu Tuma e chamou o período de "prisão vip".
"O tratamento foi bom, o Tuma me tratou dignamente. Minha mãe estava com câncer e o Tuma teve atitudes humanísticas, eu saía algumas vezes à noite para ver minha mãe", conta o ex-presidente, que foi autorizado a deixar a prisão para acompanhar o enterro da mãe.
Em um depoimento com vários momentos de descontração, Lula lembrou da TV que os presos conseguiram para assistir a um jogo do Corinthians e da comida enviada pela Igreja: "Carne moída, pimenta, era bom pra cacete".
O petista lembrou ainda da bronca que levou de Tuma ao ser flagrado fazendo uma "assembleia" com os investigadores.
O bom tratamento recebido foi creditado por Lula à mobilização de diversos setores da sociedade que ficaram sensibilizados com a prisão.
"A gente foi tratado com certo respeito porque tinha muita gente do lado de fora, não era um preso comum. Tinha trabalhadores, estudantes, intelectuais, igreja, todo mundo."
Durante quase uma hora, Lula falou ao sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro e à psicanalista Maria Rita Kehl, membros da Comissão Nacional da Verdade, sobre as conquistas do movimento sindical do ABC.
Lula disse que sua prisão foi uma "burrice" que só postergou o fim da greve de 1980.
"Acho que eles devem ter se arrependido de ter me prendido porque a minha prisão acabou fazendo o movimento crescer, ficar mais forte e politizar o movimento. Se eles tivessem ficado quietos, a greve acabava por si só", contou.
O ex-sindicalista admitiu que, ao ser preso de madrugada em São Bernardo do Campo, teve medo de ser assassinado.
"Quando eles me prenderam, era uma madrugada com muita serração. Pela primeira vez eu tive medo. Não custa nada aparecer morto na via Anchieta e dizerem que foi uma negócio qualquer".
O alívio só veio quando ouviu no rádio a notícia de sua própria prisão. "Falei: 'porra, tô salvo.'"
Lula afirmou que nos anos anteriores à prisão foi vigiado com frequência pelos órgãos de repressão, mas disse que isso pouco alterava sua rotina.
"Eles me vigiavam em cinema (...) Disfarçados, iam no bar do sindicato. Eles paravam a perua em frente de casa, passavam a noite. Aí, para encher o saco, a Marisa fazia café e levava pra eles. A peãozada queria tocar fogo na perua e eu não deixava".
Comissão da Verdade
O ex-presidente se mostrou cético quanto à possibilidade de encontrar provas abundantes de abusos nos arquivos das Forças Armadas.
Lula acredita que, enquanto concediam a abertura lenta e gradual, os militares prepararam a "queima de arquivo" dos tempos da ditadura.
"Eu acho que isso fez parte do acordo com o Tancredo Neves, fez parte do processo de abertura política. Estou convencido disso", disse.
O ex-presidente acredita que haja documentos guardados com oficiais e familiares para autopreservação ou uso político, o que dificulta o trabalho da Comissão da Verdade.
"Eu não sei o que vocês encontraram de grande novidade nas instituições, eu achei que ia encontrar pouquíssima coisa. Imagino que tenha muita coisa na mão de alguém. De vez em quando, quando morrer um, vai aparecer material", disse.