Lava-Jato completa cinco anos com uma pergunta: até onde ela vai?
Desde 2014, foram 60 fases, com 1.196 mandados de busca e apreensão, 227 mandados de condução coercitiva e 155 pessoas condenadas
Da Redação
Publicado em 15 de março de 2019 às 06h57.
Última atualização em 15 de março de 2019 às 12h44.
A Lava-Jato completa cinco anos neste domingo em meio a controvérsias sobre seu futuro. O dia 17 de março marca o aniversário da operação, deflagrada pelo Ministério Público Federal (MPF) do Paraná em 2014 para investigar a conexão entre doleiros e políticos, mas que acabou chegando a desvios bilionários na Petrobras.
Desde 2014, só em Curitiba (PR), quartel-general da operação, foram 60 fases, com 1.196 mandados de busca e apreensão, 227 mandados de condução coercitiva e 155 pessoas condenadas, segundo dados do MPF. Os alvos de prisão incluíram nomes como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o empresário Marcelo Odebrecht.
Dizia-se que a Lava Jato acabaria em 2019, o que não parece perto de acontecer. Para este ano, um dos principais focos dos procuradores será tomar conta dos pelo menos 25 inquéritos que virão de Brasília, relativos a quem perdeu o foro privilegiado (como os ex-senadores Romero Jucá e Edison Lobão).
Além de Curitiba, foram criadas forças-tarefas no Rio de Janeiro e em São Paulo, que também podem seguir ganhando os holofotes neste ano.
Para Sérgio Praça, professor da FGV e colunista de EXAME, a Lava-Jato cujo cerne são as investigações sobre a Petrobras de fato ruma para o fim. “A questão é que os procuradores decidem chamar de Lava-Jato tudo que é combate à corrupção no Brasil”, diz.
A operação trouxe lições importantes como uma diminuição da impunidade de políticos e empresários, mas nos últimos anos, não faltaram críticas a uma possível parcialidade na operação e ao que é considerado poder excessivo dos procuradores de Curitiba.
Uma das polêmicas mais recentes gira em torno de um fundo de 2,5 bilhões de reais em recursos recuperados de corrupção na Petrobras, que seriam empregados em atividades de combate à corrupção escolhidas pelos procuradores. A Procuradoria-Geral da República abriu procedimento para investigar o caso, incluindo como alvo o procurador Deltan Dallagnol, um dos principais líderes da Lava-Jato.
O juiz Sergio Moro, à frente da operação até o ano passado, também foi criticado por conflito de interesses ao aceitar o cargo de Ministro da Justiça no governo do presidente Jair Bolsonaro — após ter decretado a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato, meses antes.
Uma crítica frequente é o grande foco no MPF e na punição, deixando de lado mecanismos de controle e prevenção de atos corruptos, como a Controladoria Geral da União e do Tribunal de Contas. Nos cinco anos de Lava-Jato, a reflexão que fica é que o combate à corrupção não pode ser feito só pela força-tarefa.