A história vai nos julgar, diz Bolsonaro a Mandetta na posse de Teich
Em cerimônia no Planalto, o presidente agradeceu ao trabalho de Mandetta e disse que lá na frente ele saberá se fez certo
Clara Cerioni
Publicado em 17 de abril de 2020 às 12h17.
Última atualização em 17 de abril de 2020 às 13h55.
O presidente Jair Bolsonaro se despediu nesta sexta-feira (17) do agora ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta reforçando que ele deu o melhor de si no combate à pandemia do novo coronavírus, mas que sua visão era focada somente "na saúde e na vida".
Em pronunciamento na sessão de posse do novo chefe da pasta, Nelson Teich, o presidente explicou que a troca foi necessária porque "o combate ao vírus não pode ser mais danoso que o próprio remédio", em referência às medidas de isolamento social que afetam renda e emprego.
"Lá na frente a história vai nos julgar e eu espero que estejamos certo", sustentou Bolsonaro em breve agradecimento à atuação de Mandetta na chefia da Saúde. O presidente desejou, ainda, sorte ao novo ministro e o cumprimentou por sua "coragem".
"Torcemos para o seu sucesso. Porque o seu sucesso poupa vidas, poupa pessoas que podem ser jogadas ao desemprego e poderá buscar uma alternativa para isso", disse Bolsonaro.
Ele voltou a defender abertura do comércio e fronteiras. "Essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro. Se agravar (a doença) vem ao meu colo. Agora, o que acredito, que muita gente está tendo consciência que tem de abrir", afirmou.
O presidente disse desejar reabertura de fronteiras com Uruguai e Paraguai, o que, segundo ele, já teria sido discutido com o ministro da Justiça, Sérgio Moro. "A gente vai tendo informações e vai decidindo", afirmou.
O presidente mandou também recados a governadores. Ele disse que apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que estados e municípios tem autonomia para decidir regras locais sobre quarentena, é contra a ideia de fazer prisões por descumprimento do isolamento social. Ele afirmou que não prega desobediência civil, mas rechaça estas medidas.
Posse de Teich
Em sua fala, o novo ministro não apresentou as medidas que deve determinar para combater o novo coronavírus. Ele, no entanto, afirmou que o trabalho que fará terá "foco nas pessoas".
"O foco que a gente tem aqui é nas pessoas. Por mais que se fala em saúde e economia, não importa o que se falem, o final é sempre gente",disse.
Ele afirmou que quem mais vai sofrer os efeitos da pandemia são os mais pobres e destacou que assumir o comando da Saúde é o "maior desafio" de sua carreira profissional.
Teich também salientou que quer trabalhar com informação para que o país "entenda o que está acontecendo", porque "quando se sabe o que está acontecendo, as soluções vem naturalmente".
O novo ministro destacou que há uma "pobreza" de informação sobre o novo coronavírus e defendeu a integração de informações dos ministérios sobre a doença para embasar melhor o planejamento de combate ao vírus. O novo ministro também defendeu que a pasta acompanhe indicadores sociais. "Pessoas que perderem planos de saúde vão impactar no SUS (Sistema Único de Saúde)".
Com tom otimista, citou que já existem medicamentos em estudo para o tratamento da doença e que a solução para a pandemia pode ser encontrada "mais rápido do que se imagina".Ele agradeceu, ainda, o esforço de Mandetta e disse esperar "continuar fazendo um bom trabalho".
Despedida de Mandetta
Já Mandetta, em seu discurso de despedida, desejou "toda a sabedoria para conduzir nesse nosso país" e fez agradecimentos a Bolsonaro pelo convite em 2018 para integrar o governo.
Mandetta e Bolsonaro divergiram sobre a estratégia para combate à covid-19. O presidente defende isolamento apenas para idosos e doentes crônicos, além de reabertura de serviços.
Já Mandetta, na linha das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da maior parte dos líderes mundiais, sugere postura cautelosa e afirma que ainda é necessária quarentena mais ampla.
No discurso, Mandetta citou que o Brasil precisa de autonomia científica de forma a não ser mais tão dependente de produtos comprados no exterior, especialmente da China. Ele afirmou que a Fiocruz se revela "necessária à soberania do País".
Mandetta disse ainda que o ministério repassou em 40 dias mais de R$ 6 bilhões para Estados e municípios contra o novo coronavírus. O ex-ministro afirmou também que o os primeiros 180 respiradores feitos pela indústria nacional estão sendo entregues para tratamento da covid-19.
"No mês de maio teremos sistema mais eficaz", disse, ressaltando ainda que o governo fechou parceria com a Opas/OMS para compra de 10 milhões de testes RT-PCR.
(Com Estadão Conteúdo)