Hospital 9 de Julho doou R$ 5,3 mi a partidos e políticos
No relatório, a PF não aponta irregularidades nas doações, apenas rastreia as movimentações financeiras do hospital
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de novembro de 2016 às 12h45.
São Paulo - A Lava Jato encontrou na residência de Branislav Kontic - ex-assessor de Antonio Palocci e acusado de atuar como emissário do ex-ministro no contato com a Odebrecht para beneficiar a empreiteira no governo federal -, extratos de consultorias prestadas por Brani (como ele era conhecido) ao Hospital 9 de Julho e à empresa Multiplan, responsável pela gestão de shoppings e empreendimentos imobiliários em todo o País.
Assim como o ex-ministro, Brani abriu empresas de consultoria após deixar a assessoria de Palocci na Casa Civil, em 2011 (governo Dilma).
Ele fez parte do quadro da Projeto Consultoria, do ex-ministro, até agosto de 2012 e é o dono da Anagrama Consultoria, empresa que tem apenas ele como sócio.
Foi justamente a Anagrama que recebeu, segundo os extratos encontrados em sua residência, R$ 924,2 mil do Hospital 9 de Julho e R$ 755,2 mil da Multiplan de 2013 a 2015 a título de consultorias a estas empresas.
Chamou a atenção da PF o fato de a empresa ter apenas Brani como sócio e não possuir nenhum funcionário, além de ter como atividade "consultoria em gestão empresarial, exceto consultoria técnica específica".
"Chama atenção um hospital, que de acordo com banco de dados à disposição da Polícia Federal, possui diversos contratos com a administração pública, que realizou diversas doações para vários partidos políticos, possuir um contrato de consultoria com uma empresa que sua atividade econômica é consultoria em gestão empresarial, exceto consultoria técnica específica", aponta o agente da PF Antonio Chaves Garcia, que assina o relatório.
O tradicional hospital doou o total de R$ 5,370 milhões a candidatos e partidos nas eleições de 2012 e 2014.
Dentre os destinatários das doações registradas na Justiça Eleitoral estão PT, PMDB, PSDC, PSD e PSDB.
Entre os nomes dos destinatários de doações do hospital destaca-se Olavo Calheiros Filho (PMDB), irmão do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB) e que recebeu R$ 400 mil do hospital.
No relatório, a PF não aponta irregularidades nas doações, apenas rastreia as movimentações financeiras do hospital, bem como seus contratos com a administração pública.
O Hospital 9 de Julho, segundo a PF, aparece como destinatário de recursos do Tesouro Nacional, do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) por meio do Hospital Geral de São Paulo, Hospital de Aeronáutica de São Paulo e Comando do 8.º Distrito Naval.
A instituição também aparece como fornecedora do Hospital Militar de Área de São Paulo - Unidade compradora Fundo do Exército) e Serpro - Regional São Paulo (Serviço Federal de Processamento de Dados).
Atualmente, Brani está preso no Complexo Médico Penal de Pinhais, nos arredores de Curitiba, base da Lava Jato, e responde a uma ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro relacionados à obtenção, pela Odebrecht, de contratos de afretamento de sondas com a Petrobras.
Segundo as investigações, Brani atuava como intermediário de Palocci no contato com a empreiteira. Além da denúncia, a Lava Jato segue apurando as atividades de Brani e, por isso, rastreia seus contratos de consultoria.
Defesas
Consultado, o Hospital 9 de Julho não retornou os contatos da reportagem. O Criminalista José Roberto Batochio, que Defende Branislav Kontic, disse que a empresa de seu cliente é regular.
"Esta é uma empresa absolutamente regular, de prestação de serviços, da qual ele é sócio e, pelo que eu saiba, o hospital não é entidade publica e nem a remuneração paga por ele (a Brani) sai do erário. Se trata de um contrato entre particulares, da mesma forma que ocorre com a Multiplan, que também é uma pessoa jurídica de direito privado", disse.
A Mutiplan esclareceu que "assinou um contrato com a empresa Anagrama Consultoria e Assessoria Ltda em julho de 2014. O contrato tinha finalidade específica de prestação de serviços de análise sobre as modificações no Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, na Lei de Uso e Ocupação do Solo e seus impactos no desenvolvimento dos empreendimentos que a empresa possui na cidade. Os serviços foram pagos em bases mensais e prestados por arquitetos e profissionais qualificados, com expertise técnica em regulação urbanística, tendo sido encerrado o contrato em junho de 2015."