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Homem, branco e conservador: o perfil do manifestante pró-Bolsonaro em SP

Pesquisa mostra que mudança de pauta para uma agenda positiva deu certo e traz uma surpresa: da eleição para cá, houve perda de identificação com o PSL

Protesto: Avenida Paulista registrou uma das maiores manifestações pelo governo (NurPhoto / Contributor/Getty Images)

Protesto: Avenida Paulista registrou uma das maiores manifestações pelo governo (NurPhoto / Contributor/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 27 de maio de 2019 às 18h33.

Última atualização em 27 de maio de 2019 às 19h27.

São Paulo — Homem, branco, de direita, conservador e muito antipetista.

Esse foi o perfil predominante do manifestante que esteve na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (26), para apoiar o governo de Jair Bolsonaro. A capital registrou, ao lado do Rio de Janeiro, o maior ato a favor do presidente e de sua agenda e em oposição ao chamado Centrão.

O levantamento é de uma pesquisa do Monitor do Debate Político no Meio Digital, divulgada nesta segunda-feira (27), que entrevistou 436 pessoas durante o ato. A margem de erro é de 5 pontos percentuais para mais ou para menos.

Os dados mostram que dentre os participantes, 65% eram do sexo masculino, com mais de 35 anos (78%), branco (66%), e com remuneração mensal acima de 5 salários mínimos (54%).

A identificação política predominante foi a de direita (76%), muito antipetista (88%) e conservadora (72%), no que diz respeito a temas como família, drogas e punição a criminosos.

O perfil demográfico de quem esteve nas ruas da capital paulista neste fim de semana se aproxima daqueles que participaram da passeata "PT nunca mais", que aconteceu dias antes do segundo turno das eleições de 2018.

Na ocasião, o percentual de pessoas brancas era de 68%, com renda acima de cinco salários mínimos (63%). O perfil dos manifestantes, no entanto, ficou mais envelhecido e masculino.

A participação de faixas mais jovens da população, entre 25 e 34 anos, era de 36% no ano passado e caiu para 13%. Além disso, a maior parte (57%) dos manifestantes do primeiro ato eram do sexo feminino.

Pauta do protesto

Durante toda a última semana, a direita brasileira se enfrentou por conta da pauta defendida para o protesto deste domingo.

Pautas radicais de ataques às instituições, como fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, estiveram presentes na convocação das manifestações e geraram críticas de aliados do governo.

Com a retaliação do próprio presidente Jair Bolsonaro, que afirmou que essas reivindicações poderiam ser "pautas de Maduro", os bolsonaristas mudaram o tom dos atos para defender as reformas do governo.

Segundo os números, a estratégia deu certo: 75% dos presentes responderam que o motivo para estar na manifestação era "apoio às reformas propostas pelo governo".

"Parece que o esforço das lideranças do bolsonarismo de ressignificar a manifestação, de uma agenda anti-elites políticas para uma agenda positiva repercutiu entre as pessoas mobilizadas", afirma o relatório do Monitor Digital.

Para especialistas, as manifestações ajudaram a fortalecer a agenda do governo, mas não resolvem a dificuldade da aprovação no Congresso Nacional.

Inspiração política

Os dados do levantamento revelam, ainda, que o partido do presidente Bolsonaro, o PSL, não conseguiu emplacar como a legenda bolsonarista por excelência apesar de ter feito a maior bancada do Congresso.

Em outubro do ano passado, 44% diziam se identificavam com o PSL, enquanto no ato mais recente o apoio era de apenas 13% enquanto 55% disseram não se identificar com nenhum partido.

"Isso pode ser explicado tanto pelo fortalecimento da identidade partidária no período eleitoral, como por uma possível desilusão com o partido que foi alvo de denúncias de corrupção. Outra chave explicativa é que a retórica populista, que é marca deste governo, tende a fortalecer a liderança em detrimento de instituições como os partidos políticos", escrevem os pesquisadores.

Outra distância também pode ser notada pelos números de confiança ao MBL (Movimento Brasil Livre), uma das forças centrais para o impeachment de Dilma Rousseff e que não deram apoio formal ao protesto de ontem. No ato deste domingo, a desconfiança com o movimento chegou a 66%. 

Quem mais se destacou foi o filósofo Olavo de Carvalho, com confiança de 65% dos manifestantes, e do grupo Vem Pra Rua (66%), que mobilizou o protesto. 95% não confiam no jornal Folha de São Paulo e 98% não confiam na Rede Globo.

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