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Greve dos caminhoneiros deflagra guerra dos lobbies por benefício fiscal

Acordo repassou a conta do desconto no combustível para outros setores da indústria e deflagrou uma guerra de lobbies em Brasília por benefícios

Impasse: ninguém quer pagar a conta da “bolsa caminhoneiro”. (Andre Coelho/Bloomberg)

Impasse: ninguém quer pagar a conta da “bolsa caminhoneiro”. (Andre Coelho/Bloomberg)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 17 de junho de 2018 às 14h17.

Última atualização em 17 de junho de 2018 às 16h10.

A indústria de bebidas da Zona Franca de Manaus briga para retomar o benefício que lhe dava desconto no pagamento de impostos. A indústria química e os exportadores também estão fazendo barulho em Brasília para não perderem incentivos tributários.

Empresas de outros 39 segmentos lutam contra o fim da desoneração da folha de pagamentos. Ninguém quer pagar a conta da "bolsa caminhoneiro" - o subsídio de R$ 0,46 dado pelo governo no preço do diesel para encerrar a greve de 11 dias que paralisou o País em maio. 

O acordo do Planalto com os grevistas, oficializado há 20 dias, repassou a fatura do desconto no combustível para vários setores da indústria e deflagrou uma guerra de lobbies em Brasília por benefícios fiscais. Em outra frente, ruralistas começaram a fazer pressão, com uma enxurrada de ações na Justiça, pelo fim da tabela que instituiu preços mínimos para o frete rodoviário - outra concessão do Planalto aos caminhoneiros. 

No centro dessa disputa está um governo fragilizado e sem capital político para fazer frente aos lobbies. "Diversos grupos vão tentar extrair benefícios e dificilmente vai sair uma resposta coordenada do Planalto", diz o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria. 

Os setores que não conseguiram se livrar do pacote em prol dos caminhoneiros agora se movimentam no Congresso para que deputados e senadores derrubem as medidas. Essa pressão tem a ajuda de parlamentares que defendem seus interesses. A bancada do Amazonas, por exemplo, não quer perder o apoio da indústria de bebidas na Zona Franca de Manaus, em pleno ano eleitoral. 

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) arregimentou parlamentares de confiança para lutar contra o fim do programa de incentivo tributário aos exportadores (Reintegra), do programa da indústria química (Reiq), e da desoneração da folha de pagamento. 

Todos esses programas foram criados em gestões petistas e são criticados por economistas liberais, por custarem caro e não surtirem os efeitos esperados. Alguns desses incentivos estavam na mira do governo há um tempo. A equipe econômica aproveitou para incluí-los no pacote de medidas que compensam o custo de R$ 13,5 bilhões com o subsídio do diesel - mas agora está sendo pressionada de todos os lados a voltar atrás. Para analistas políticos, a chance de a indústria conseguir reverter o pacote no Congresso é grande. 

"O episódio dos caminhoneiros foi apenas o exemplo mais recente da longa trajetória de sucesso de grupos de interesse, que chantageiam o governo", diz o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper. "Deixamos a situação se degradar ao não enfrentar as corporações e as consequências serão danosas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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