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Governo Lula nomeará pastor no Palácio do Planalto para abrir diálogo com igrejas

Paulo Marcelo Schallenberger buscará pontes com denominações evangélicas de pequeno e médio porte

Lula em discurso: presidente apontará Paulo Marcelo Schallenberger para criar pontes como evangélicos (Andressa Anholete/Bloomberg)
AO

Agência O Globo

Publicado em 6 de janeiro de 2023 às 08h06.

O governo Lula (PT) negocia com o pastor Paulo Marcelo Schallenberger, com histórico de atuação na Assembleia de Deus, a nomeação em um cargo na estrutura do Palácio do Planalto com a atribuição de abrir diálogo com igrejas de todo o país.

As tratativas, confirmadas por Paulo Marcelo ao GLOBO, culminaram em uma reunião na noite desta quinta-feira entre o pastor e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo.

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Em nota após a publicação da reportagem, o ministério disse que não houve “convite” na audiência desta quinta-feira, mas registrou que Macêdo tratou do “trabalho desenvolvido pelo pastor junto aos evangélicos” na agenda em questão.

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A função buscada por Paulo Marcelo deve ficar vinculada ao segundo escalão da Secretaria-Geral da Presidência, localizada no 4º andar do Palácio do Planalto.

O pastor se aproximou de Lula e de lideranças no PT no fim de 2021, e sugeriu a abertura de um canal de relacionamento do novo governo voltado especialmente para denominações evangélicas de médio e pequeno porte.

Após a reunião com Macêdo, Paulo Marcelo afirmou que ouviu da equipe de Lula que sua nomeação deve ocorrer no fim de janeiro, após a resolução de questões burocráticas na estrutura da Secretaria-Geral.

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-- O propósito da nomeação é ter legitimidade para falar em nome do presidente Lula para as pequenas igrejas deste país -- declarou Paulo Marcelo ao GLOBO.

O pastor já vem cumprindo agendas em Brasília como interlocutor do novo governo entre os evangélicos. Na manhã desta quinta-feira, ele atendeu a um convite para uma reunião na Embaixada de Israel na capital federal. O país, que abriga marcos bíblicos como Jerusalém e o Rio Jordão, tem papel relevante para o segmento evangélico.

A iniciativa de estreitar relações com evangélicos foi defendida por diferentes interlocutores da campanha de Lula logo após a vitória no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL), em outubro.

O ex-ministro Gilberto Carvalho, por exemplo, um dos aliados mais próximos do novo presidente, afirmou que seria necessária uma “ação abrangente” com os evangélicos, de olho em “reconstruir uma ampla base popular de governo” e chegar à população mais pobre, “que está sendo cuidada pelas igrejas”.

Carvalho reuniu-se com Paulo Marcelo em dezembro, poucas semanas antes da posse, em um encontro que ajudou a alinhavar a relação com o segmento evangélico na nova gestão.

No início desta semana, após a posse, o pastor teve reuniões com Macêdo, que redesenhou a Secretaria-Geral com quatro secretarias – Participação Social, Articulação de Políticas Públicas, Juventude e Relações Sociais – para funcionar como um guarda-chuva de canais de relacionamento do novo governo com os movimentos sociais.

A tendência é que Paulo Marcelo ocupe um braço à parte dentro da Secretaria-Geral, que será criado com enfoque no segmento religioso. O objetivo, de acordo com interlocutores do governo, é mirar a "base" das lideranças evangélicas.

Paulo Marcelo é egresso da Assembleia de Deus do Belém (SP), uma das maiores denominações evangélicas do país, mas tem trajetória como pregador "itinerante" em templos de igrejas de diferentes portes.

Após uma campanha eleitoral em que as principais lideranças evangélicas — como Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, José Wellington, da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB) e Edir Macedo, da Igreja Universal — apoiaram Bolsonaro, o governo Lula busca formas de aprimorar sua relação com as igrejas.

Em paralelo a sinalizações de trégua com essas lideranças, há também a intenção de não depender de pastores que mais se alinharam ao bolsonarismo nesta busca por dialogar com os evangélicos.

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Na série Salto Evangélico, em setembro de 2022, O GLOBO revelou que há pelo menos 78,5 mil igrejas evangélicas “diversas”, que não pertencem a nenhuma grande denominação, por vezes compostas por uma dezena de templos ou menos. O número é quase o dobro dos 43 mil templos da Assembleia de Deus, maior rede de igrejas do país.

Em nota enviada por sua assessoria de imprensa ao GLOBO após a publicação da reportagem, a Secretaria-Geral da Presidência negou que tenha havido "qualquer convite ao pastor Marcelo Schallenberger durante audiência concedida a ele pelo ministro Márcio Macêdo nesta quinta-feira".

"Assim como em audiência anterior, concedida ainda durante a transição de governo, os temas tratados foram o trabalho desenvolvido pelo pastor junto aos evangélicos e questões de interesse desta comunidade religiosa", completou a nota.

Ex-aliado de Feliciano

Ex-apadrinhado político do deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), uma das principais vozes bolsonaristas no meio evangélico, o pastor Paulo Marcelo se aproximou da pré-campanha de Lula, ainda no início de 2022, com o projeto de um podcast voltado para os evangélicos pentecostais.

A ideia não vingou em meio a divergências internas no PT que respingaram na campanha de Lula, mas o pastor seguiu frequentando o círculo político petista -- ele concorreu a deputado federal em São Paulo pelo Solidariedade, partido que se coligou a Lula em âmbito nacional, mas não se elegeu.

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Durante a campanha, outros interlocutores de Lula no meio evangélico buscaram aproximar o então candidato à Presidência do segmento. Um desses nomes foi o pastor Ariovaldo Ramos, coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, que participou do evento em que Lula leu uma carta de compromissos voltados para os evangélicos. Em outra frente de atuação, a deputada federal reeleita Benedita da Silva (PT-RJ) coordenou núcleos de evangélicos do PT (NEPTs) em cerca de 20 estados.

Paulo Marcelo, por sua vez, participou do núcleo de comunicação da campanha no segundo turno, e chegou a gravar uma inserção, divulgada pelas redes sociais de Lula, na qual dava um "testemunho" sobre a defesa da liberdade religiosa em governos petistas.

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