Governo abre hospital de campanha em área ianomâmi de garimpo ilegal
Segundo o advogado indígena Ricardo Weibe Tapeba, é preciso um reforço maior na ação emergencial
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de janeiro de 2023 às 15h50.
Última atualização em 24 de janeiro de 2023 às 16h16.
O advogado indígena Ricardo Weibe Tapeba, que assumiu nesta semana a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde , confirmou que mais de mil indígenas ianomâmis estão precisando de atendimento emergencial nas aldeias.
Ele explicou que foi instalado nesta terça-feira, 24, um hospital de campanha na comunidade Surucucu, em Roraima, centro da área indígena, para intensificar o atendimento emergencial, mas disse que essas primeiras ações são apenas para "enxugar gelo". Segundo ele, é preciso um reforço maior na ação emergencial.
"Instalamos hospital de campanha hoje na área ianomâmi. Já visitamos por três vezes o local e o que encontramos foi um cenário de guerra — e isso não é apenas modo de falar. A situação requer de fato muitos esforços, por isso é a emergência sanitária que vai permitir estratégias mais intensificadas e avaliação das ações articuladas", disse.
"Temos hospital de campanha em Boa Vista e no Surucucu dando assistência a quem chega e precisamos de material, insumos, ação interministerial. Estamos focados em salvar vidas", afirmou o secretário.
Tapeba disse ainda que foram detectadas irregularidades em contratos e que será feita auditoria interna na saúde indígena. "Por isso a importância da intervenção, pois precisamos de suporte do Ministério da Saúde aqui para acompanhar os processos licitatórios", completou.
Apesar do número de 100 indígenas em estado emergencial, segundo o secretário, existe uma subnotificação da situação por falta de registros precisos. A informação foi confirmada por Junior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Ianomâmi e Yek'wana, que disse que ao todo 120 aldeias e mais de 14 mil ianomâmis estão sem atendimento de saúde.
Garimpo
No total, o território ianomâmi é formado por 378 comunidades, com 31 mil indígenas. "Fui em três comunidades com a Força Aérea Brasileira (FAB). Precisamos compreender que tem locais que nem chegamos a pousar por conta do garimpo, que ocupou a pista. Os garimpeiros invadiram as aldeias e as comunidades estão à mercê do crime organizado, que não se intimida nem com a presença da Força Aérea Brasileira no local", afirmou Tapeba.
O Secretário Especial de Saúde Indígena disse que o governo se comprometeu com a retirada desses garimpeiros. "Instalamos um comitê para trabalhar nessa ação e é um caminho sem volta. Mas vamos planejar ações mais efetivas de segurança alimentar para os ianomâmis. Enquanto os garimpeiros não forem retirados, isso não acaba. Vários rios morreram, o que é assassinato direto do povo indígena."
Ele explicou que será essencial a ajuda do governo de Roraima nessa retirada. O governador do Estado, Antonio Denarium (Progressistas), durante visita do Lula, já se prontificou a colaborar na ação.
"O apoio do governo é importante e também a ação do Fundo Amazônia que será acionado. Nós da Sesai não conseguiremos sozinhos. Não vamos entrar na área de qualquer jeito, por conta da dificuldade logística e infraestrutura e estamos tentando estabilizar o cenário de guerra no território", disse Tapeba.
Fake news
O secretário indígena também repudiou as fake news espalhadas em grupos bolsonaristas que dizem que as fotos dos indígenas eram de ianomâmis da Venezuela.
"Repudiamos a desinformação que estão espalhando. Os ianomâmis são originários do Brasil e estão aqui milenarmente. Graças a Deus temos a empatia e comoção da maioria da população, que está vendo que essa situação é emergencial. Repudiamos essas fake news que estão sendo espalhadas e que prejudicam as ações implementadas no território ianomâmi", disse.
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