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Governadores miram em vale-gás, ICMS e alimentos para suavizar inflação

Programas sociais podem render votos, segundo analistas, embora não ataquem raiz do problema

Entre as medidas propostas por governadores, há subsídio para compra do gás de cozinha (Pedro Ventura/agencia brasilia/Divulgação)
AO

Agência O Globo

Publicado em 3 de outubro de 2021 às 08h56.

Última atualização em 3 de outubro de 2021 às 11h39.

A escalada da inflação tem levado governadores a investir em programas sociais com objetivo de minimizar o impacto sofrido nos preços de serviços públicos, combustíveis e alimentos. Entre as medidas, há subsídio para compra do gás de cozinha e propostas legislativas para reduzir o imposto sobre combustíveis e itens da cesta básica. Segundo analistas, embora não resolvam o problema da inflação, essas medidas geram identificação com o eleitor, principalmente de baixa renda, e podem resultar em votos no ano que vem.

Ao menos sete governadores já adotaram programas de transferência de renda para compra de gás de cozinha. O produto, que sofreu com o aumento do petróleo e a alta do dólar, já passa de R$ 100 em 16 estados, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

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Em São Paulo, estado do presidenciável tucano João Doria, o governo anunciou em julho investimento de R$ 30 milhões num programa que prevê o pagamento de três parcelas de R$ 100 bimestrais para até 100 mil famílias comprarem gás. Doria, que concorre às prévias do PSDB para a presidência da República, também tenta emplacar seu vice, Rodrigo Garcia, na sucessão estadual.

Em agosto, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), sancionou lei que inclui um vale gás com valor entre R$ 50 e R$ 80 para beneficiários do programa assistencial Supera RJ, em vigor desde junho. Castro, que assumiu o governo em meio à pandemia após o afastamento de Wilson Witzel (PSC), vem sendo aconselhado por lideranças políticas fluminenses a adotar medidas populares para tornar-se mais conhecido, de olho na corrida à reeleição. O vale-gás deve atender 1,4 milhão de pessoas no estado. Ainda não há, no entanto, data para o começo do pagamento.

Água e alimentos

Há programas similares no Distrito Federal, Maranhão, Tocantins e no Pará, onde o governo estadual custeia também o consumo de água de beneficiários do Bolsa Família por dois anos. No Ceará, a gestão de Camilo Santana (PT) prevê pagamento de três botijões de gás para famílias em situação de vulnerabilidade, além de distribuir um cartão-alimentação de R$ 200 a quem teve a renda afetada pela pandemia.

— O voto é pragmático e essas medidas mexem com necessidades muito imediatas que resolvem problemas emergenciais — afirma a cientista política Gabriela Lotta, professora da FGV e professora visitante de Oxford. —O eleitor não precisa saber o índice de inflação para saber que o feijão e o arroz estão mais caros, para saber que a eletricidade aumentou e que seu salário não cobre mais os custos do mês. Mas medidas assim são insustentáveis a longo prazo e não revertem a pobreza.

Governadores têm atacado também a alta no preço dos alimentos. O governador Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal, enviou à Câmara Legislativa um projeto de lei para incluir 14 itens na cesta básica, como óleo, carnes e manteiga. No Paraná, Ratinho Junior (PSD), isentou de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) diversos produtos, como açúcar, arroz, café, farinha de trigo, feijão e leite.

Alvo do presidente Jair Bolsonaro, que tenta já há alguns meses dividir com os governadores o ônus da disparada do preço dos combustíveis, o ICMS também está na mira dos governadores. Em meio à disputa nas prévias do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, anunciou redução do ICMS no estado para a gasolina, de 30% para 25%. No Espírito Santo, a saída foi congelar o Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final, que serve de base para calcular o ICMS.

Para o economista Sérgio Vale, da MB Associados, no entanto, não se resolve o problema da inflação alterando impostos, já que a razão do aumento de preços dos combustíveis está na cotação internacional do petróleo e na taxa de câmbio, que voltou a subir.

— A dinâmica da inflação é de outra ordem. Baixar alíquota não resolve porque o consumidor vai continuar a ver os preços subirem nas bombas. Pode até subir um pouquinho menos, mas vai subir. O correto é centrar em quem precisa, não fazer um corte linear — diz Vale.

A isenção temporária do ICMS também tem sido proposta para minimizar o impacto da bandeira vermelha na conta de energia elétrica. O governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), levou ao Conselho Nacional de Política Fazendária a proposta de isentar do ICMS a tarifa extra. Paraná e Espírito Santo aderiram à proposta.

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