Gestores de fundos de R$ 20 tri pedem que o Brasil detenha desmatamento
Ambientalistas alertam que 2020 está em vias de se tornar o ano mais destrutivo na Amazônia de que se tem registro
AFP
Publicado em 23 de junho de 2020 às 07h37.
Fundos de investimento que gerenciam ativos que somam perto de US$ 4 trilhões (mais de R$ 20 trilhões) pediram ao Brasil nesta terça-feira (23) que suspenda o desmatamento na Amazônia em uma carta aberta na qual alertaram que a perda da biodiversidade e as emissões de carbono representam um "risco sistêmico" aos seus portfólios.
Gerentes de fundos de países europeus, asiáticos e sul-americanos expressaram o temor de que o governo do presidente Jair Bolsonaro esteja usando a crise sanitária da covid-19 para avançar sobre a desregulamentação ambiental, o que poderia "comprometer a sobrevivência da Amazônia".
"Estamos preocupados com o impacto financeiro do desmatamento, bem como as violações dos direitos dos povos indígenas, os quais implicam em potenciais consequências para os riscos de reputação, operacionais e regulatórios de nossos clientes e empresas investidas", diz a carta.
Enquanto as medidas de quarentena relacionadas com a pandemia do novo coronavírus provavelmente deverão resultar numa queda de alguns pontos percentuais nas emissões mundiais de carbono, o desmatamento crescente na Amazônia poderia elevar a contribuição anual do Brasil ao aquecimento global.
Ambientalistas alertam que 2020 está em vias de se tornar o ano mais destrutivo de que se tem registro para a maior floresta tropical do planeta, com inclusive mais perdas do que nos incêndios devastadores que geraram indignação em todo o mundo no ano passado.
Um total de 829 km2 da Amazônia brasileira, 14 vezes a área da ilha de Manhattan, em Nova York, foram perdidos para o desmatamento só em maio, segundo dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A cifra corresponde a um aumento de 12% com relação ao desmatamento do ano passado e marca o pior mês de maio desde que os registros começaram a ser feitos, em agosto de 2015.
Ativistas acusam o presidente Jair Bolsonaro, um cético das mudanças climáticas, de incentivar os responsáveis pelo desmatamento com pedidos para legalizar a agropecuária e a mineração em terras protegidas.