G77: Lula critica embargo a Cuba e cobra países ricos por 'dívida histórica' com aquecimento global
Presidente afirmou ainda que será preciso "insistir na implementação dos compromissos nunca cumpridos dos países ricos" na questão climática
Agência de notícias
Publicado em 16 de setembro de 2023 às 11h51.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou de "ilegal" o embargo econômico dos Estados Unido s contra Cuba. Lula afimou que a ilha "tem sido defensora de uma governança global mais justa" e que o Brasil é contra "qualquer medida coercitiva de caráter unilateral". Em seu discurso na Cúpula do G77 — grupo formado por 134 nações em desenvolvimento — , em Cuba, Lula ainda rechaçou "a inclusão de Cuba na lista de Estados patrocinadores do terrorismo".
— É de especial significado que, neste momento de grandes transformações geopolíticas, esta Cúpula seja realizada aqui em Havana. Cuba tem sido defensora de uma governança global mais justa. E até hoje é vítima de um embargo econômico ilegal. O Brasil é contra qualquer medida coercitiva de caráter unilateral. Rechaçamos a inclusão de Cuba na lista de Estados patrocinadores do terrorismo.
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A oposição ao embargo econômico é histórica na diplomacia brasileira com o objetivo de reiterar que o país não concorda com sanções unilaterais. O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, no entanto, rompeu com este posicionamento em 2019 e votou contra a resolução da ONU que condenava a medida.
Lula ainda voltou a cobrar os países ricos pela "dívida histórica" com o aquecimento global e afirmou que "o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas permanecem válidos" e cobrou o financiamento climático aos países em desenvolvimento.
— Temos que aproveitar o patrimônio genético da nossa biodiversidade com repartição justa dos benefícios resguardando a propriedade intelectual sobre nossos recursos e conhecimentos tradicionais. Vamos promover a industrialização sustentável, investir em energias renováveis na bioeconomia e na agricultura de baixo carbono. Faremos isso sem esquecer que não temos a mesma dívida histórica dos países ricos pelo aquecimento global.
Lula completou:
— O princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas permanecem válidos. É por isso que o financiamento climático tem de ser assegurado a todos os países em desenvolvimento segundo suas necessidades e prioridades
O presidente afirmou ainda que será preciso "insistir na implementação dos compromissos nunca cumpridos dos países ricos" em encontros mundiais para a discussão climática.
— No caminho entre a COP 28 em Dubai e a COP 30 na cidade de Belém, será necessário insistir na implementação dos compromissos nunca cumpridos pelos países ricos.
Lula também falou sobre a emergência cliática e afirmou que as mudanças impõem "novos imperativos", mas uma "transição justa traz oportunidades". Antes de embarcar para Cuba, lançou no Palácio do Planalto o Programa Combustível do Futuro, com uma série de propostas na área de combustíveis renováveis, com políticas públicas, entre elas o transporte de baixo carbono.
— A emergencia climatica nos impõe novos imperativos, mas a transição justa traz oportunidades. Com ela podemos ter o ar mais limpo, rios sem contaminação, cidades mais acolhedoras, comida de qualidade na mesa, emprego dignos e crianças mais saudáveis
Lula afirmou que o G77 foi "fundamental para expor as anomalias do comércio global" e para "defender a construção de uma Nova Ordem Econômica Internacional". O presidente, no entanto, lamentou que "muitas das nossas demandas nunca foram atendidas".
Em seguida, criticou a governança mundial da ONU, do sistema Bretton Woods e da OMC, chamando de "assimétricas".
— A governança mundial segue assimétrica. A ONU, o sistema Bretton Woods e a OMC estão perdendo credibilidade. Não podemos nos dividir. Devemos forjar uma visão comum que leve em consideração as preocupações dos países de renda baixa e média e de outros grupos mais vulneráveis.
Lula ainda falou sobre o setor tecnológico e afirmou que "multinacionais possuem um modelo de negóciosque acentua a concentração de riquezas", o "desrespeito das leis trabalhistas" e que podem violar os direitos humanos.
— Grandes multinacionais do setor de tecnologia possuem modelo de negócios que acentua a concentração de riquezas, desrespeita leis trabalhistas e muitas vezes alimenta violações de direitos humanos e fomenta o extremismo. Corremos riscos que vão da perda de privacidade ao uso de armas autônomas, passando pelo viés racista de muitos algoritmos.
Outras agendas em Cuba
A agenda de Lula para este sábado também prevê uma reunião bilateral com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel. O país caribenho passa por grave desabastecimento de itens básicos, como alimentos, remédios e energia. Porém, como deve US$ 520 milhões ao Brasil, está impedido de receber recursos de instituições como o BNDES. O assunto estará na mesa da reunião bilateral.
O governo brasileiro tem a intenção de voltar a financiar exportações do Brasil para Cuba, mas entende que antes é preciso que o país caribenho volte a pagar o que deve.
Haverá, ainda, uma bilateral com o diretor-geral da FAO. No final do dia, Lula embarcará para Nova York, onde ficará até o dia 21. No dia 19, Lula fará um discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU. Lá, a expectativa é que ele reforce sua pauta de combate à fome, redução das desigualdades, clima e reforma do Conselho de Segurança da ONU.