Faltam especialistas em microcefalia no país
Levantamento feito pelo Estado mostra que todos os estados nordestinos têm índice de especialistas abaixo da média nacional.
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2016 às 10h56.
Salvador e Recife - Com apenas cinco meses de vida, Kesia já enfrenta uma rotina difícil em busca de tratamento médico . Diagnosticada com microcefalia , a pequena moradora da cidade baiana de Simões Filho precisa deslocar-se até Salvador pelo menos duas vezes por semana para se consultar com neuropediatra, fisioterapeuta e fonoaudiólogo, profissionais não disponíveis na cidade onde vive.
São pelo menos duas horas de viagem para ir e outras duas para voltar, em ônibus cheios, sob forte calor e congestionamento.
"É bem difícil e sai muito caro para a gente porque eu não posso ir sozinha, preciso levar alguém para me ajudar", conta a balconista desempregada Joenice Figueiredo Tavares, de 22 anos, mãe de Kesia. "Até aqui só contamos mesmo com o salário do meu marido e a ajuda da família para a compra de remédios, roupas e fraldas", diz.
A Bahia é o segundo estado com o maior número de casos de microcefalia. No entanto, o índice de neurologistas e pediatras que atendem em municípios baianos é cinco vezes menor do que o do Distrito Federal, por exemplo.
O problema se repete em todo o Nordeste, região que concentra 90% dos registros da má-formação. Levantamento feito pelo Estado com base em dados da Demografia Médica 2015 mostra que todos os estados nordestinos têm índice desses especialistas abaixo da média nacional, o que dificulta o acesso dessas crianças à assistência médica.
Feito pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), o estudo mostra que o país tem hoje 34,6 mil pediatras, o equivalente a 19,2 médicos para cada 100 mil habitantes, mas o índice é desigual de acordo com a região do país.
Enquanto Distrito Federal e São Paulo têm índices de 46,2 e 22,6 pediatras por 100 mil habitantes, respectivamente, Bahia tem taxa de 8,4 e Pernambuco, de 11,2.
A distribuição dos neurologistas pelo país também é discrepante. A média brasileira é de 2,4 especialistas para cada 100 mil habitantes, mas nos dois Estados nordestinos mais afetados pela microcefalia, Pernambuco e Bahia, esse índice é de 1,4 e 1, respectivamente.
"A escassez de pediatras e de neurologistas no Norte e Nordeste do País é um retrato do que acontece com todos os tipos de especialidades. Por causa das condições difíceis de trabalho nesses locais, os médicos preferem Sul e Sudeste. Para fixar esses médicos teria de haver condições melhores de trabalho, não só financeiras, e mais vagas de residência nesses estados", diz Eduardo da Silva Vaz, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Consequências.
A dificuldade de acesso a especialistas e a consequente demora no início do tratamento dos bebês com microcefalia pode agravar ainda mais o quadro dessas crianças, segundo Ana Carolina Coan, secretária do Departamento Científico de Neurologia Infantil da Academia Brasileira de Neurologia.
"O primeiro problema é a falta de um profissional que acompanhe o grau de desenvolvimento da criança e indique as melhores terapias de estimulação para ela. O segundo é que alguns bebês com sequelas mais graves vão precisar de tratamento medicamentoso, que só poderá ser prescrito por um especialista. A gente sabe que parte dos bebês com microcefalia sofre de crises convulsivas e, se elas não forem tratadas, podem fazer a criança regredir", explica.
É esse o medo da dona de casa pernambucana Sandra Soares, de 31 anos, mãe de Amanda, nascida no dia 9 de fevereiro em Vitória de Santo Antão, a 45 quilômetros do Recife. A microcefalia da bebê só foi descoberta após o nascimento, e a consulta com neuropediatra está marcada só para abril. "Vivo uma batalha contra o tempo", diz.
"A pediatra disse que o quanto antes começarmos o acompanhamento especializado, mais chances ela vai ter de se desenvolver bem. Mas, infelizmente, não depende da nossa vontade", lamentou o pintor Gervásio Silva, pai de Amanda.
Medidas
O Ministério da Saúde afirmou que vai publicar nas próximas semanas, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, uma portaria para reforçar, por meio de incentivos financeiros, o apoio aos estados nas ações de diagnóstico de microcefalia e assistência aos bebês. De acordo com a pasta, o investimento vai custear exames e consultas com especialistas ou viabilizar transporte dos pacientes aos centros de referência.
O órgão afirma que, desde o início da epidemia, tem apoiado estados e municípios na organização dos seus serviços de saúde e ressalta que, desde novembro, já liberou R$ 135 milhões para a expansão da rede de cuidado às pessoas com deficiência, que ganhou 14 centros e terá outros 75 até o fim do ano.
A pasta diz ainda apostar em consultas a distância e na expansão das vagas de residência médica para aumentar a capacidade de assistência do Sistema Único de Saúde (SUS). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Salvador e Recife - Com apenas cinco meses de vida, Kesia já enfrenta uma rotina difícil em busca de tratamento médico . Diagnosticada com microcefalia , a pequena moradora da cidade baiana de Simões Filho precisa deslocar-se até Salvador pelo menos duas vezes por semana para se consultar com neuropediatra, fisioterapeuta e fonoaudiólogo, profissionais não disponíveis na cidade onde vive.
São pelo menos duas horas de viagem para ir e outras duas para voltar, em ônibus cheios, sob forte calor e congestionamento.
"É bem difícil e sai muito caro para a gente porque eu não posso ir sozinha, preciso levar alguém para me ajudar", conta a balconista desempregada Joenice Figueiredo Tavares, de 22 anos, mãe de Kesia. "Até aqui só contamos mesmo com o salário do meu marido e a ajuda da família para a compra de remédios, roupas e fraldas", diz.
A Bahia é o segundo estado com o maior número de casos de microcefalia. No entanto, o índice de neurologistas e pediatras que atendem em municípios baianos é cinco vezes menor do que o do Distrito Federal, por exemplo.
O problema se repete em todo o Nordeste, região que concentra 90% dos registros da má-formação. Levantamento feito pelo Estado com base em dados da Demografia Médica 2015 mostra que todos os estados nordestinos têm índice desses especialistas abaixo da média nacional, o que dificulta o acesso dessas crianças à assistência médica.
Feito pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), o estudo mostra que o país tem hoje 34,6 mil pediatras, o equivalente a 19,2 médicos para cada 100 mil habitantes, mas o índice é desigual de acordo com a região do país.
Enquanto Distrito Federal e São Paulo têm índices de 46,2 e 22,6 pediatras por 100 mil habitantes, respectivamente, Bahia tem taxa de 8,4 e Pernambuco, de 11,2.
A distribuição dos neurologistas pelo país também é discrepante. A média brasileira é de 2,4 especialistas para cada 100 mil habitantes, mas nos dois Estados nordestinos mais afetados pela microcefalia, Pernambuco e Bahia, esse índice é de 1,4 e 1, respectivamente.
"A escassez de pediatras e de neurologistas no Norte e Nordeste do País é um retrato do que acontece com todos os tipos de especialidades. Por causa das condições difíceis de trabalho nesses locais, os médicos preferem Sul e Sudeste. Para fixar esses médicos teria de haver condições melhores de trabalho, não só financeiras, e mais vagas de residência nesses estados", diz Eduardo da Silva Vaz, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Consequências.
A dificuldade de acesso a especialistas e a consequente demora no início do tratamento dos bebês com microcefalia pode agravar ainda mais o quadro dessas crianças, segundo Ana Carolina Coan, secretária do Departamento Científico de Neurologia Infantil da Academia Brasileira de Neurologia.
"O primeiro problema é a falta de um profissional que acompanhe o grau de desenvolvimento da criança e indique as melhores terapias de estimulação para ela. O segundo é que alguns bebês com sequelas mais graves vão precisar de tratamento medicamentoso, que só poderá ser prescrito por um especialista. A gente sabe que parte dos bebês com microcefalia sofre de crises convulsivas e, se elas não forem tratadas, podem fazer a criança regredir", explica.
É esse o medo da dona de casa pernambucana Sandra Soares, de 31 anos, mãe de Amanda, nascida no dia 9 de fevereiro em Vitória de Santo Antão, a 45 quilômetros do Recife. A microcefalia da bebê só foi descoberta após o nascimento, e a consulta com neuropediatra está marcada só para abril. "Vivo uma batalha contra o tempo", diz.
"A pediatra disse que o quanto antes começarmos o acompanhamento especializado, mais chances ela vai ter de se desenvolver bem. Mas, infelizmente, não depende da nossa vontade", lamentou o pintor Gervásio Silva, pai de Amanda.
Medidas
O Ministério da Saúde afirmou que vai publicar nas próximas semanas, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, uma portaria para reforçar, por meio de incentivos financeiros, o apoio aos estados nas ações de diagnóstico de microcefalia e assistência aos bebês. De acordo com a pasta, o investimento vai custear exames e consultas com especialistas ou viabilizar transporte dos pacientes aos centros de referência.
O órgão afirma que, desde o início da epidemia, tem apoiado estados e municípios na organização dos seus serviços de saúde e ressalta que, desde novembro, já liberou R$ 135 milhões para a expansão da rede de cuidado às pessoas com deficiência, que ganhou 14 centros e terá outros 75 até o fim do ano.
A pasta diz ainda apostar em consultas a distância e na expansão das vagas de residência médica para aumentar a capacidade de assistência do Sistema Único de Saúde (SUS). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.