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Especialistas alertam para riscos em salões e academias durante a pandemia

Virologistas dizem que fluxo de pessoas nesses locais aumenta o risco de contaminação; uso de álcool 70% minimiza, mas não garante desinfecção

Coronavírus: "Uso de máscaras ameniza a transmissão, mas as pessoas tocam as máscaras e os olhos com as mãos. Além de depositarem o vírus em objetos também", diz Abrahão, pesquisador da UFMG (Christophe Simon/AFP)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de maio de 2020 às 15h25.

Última atualização em 13 de maio de 2020 às 15h55.

O uso demáscaras, o distanciamento físicoea higienização com álcoolem gel minimizam, mas nãoeliminam o risco decontaminação do coronavírus nossalõesdebelezaebarbearias. Nas academias, a situação é ainda mais grave. Os frequentadores sempre tocam o rosto pararemover oexcesso desuor, saliva ou secreções oculareseencostam nosequipamentos queserão usados por outras pessoas, causando a disseminação dos vírus.

Essa é a visão deespecialistas da área desaúdesobreo decreto publicado pelo presidente Jair Bolsonaro queinclui academias,salõesdebelezaebarbearias na lista deserviçosessenciaiseque, portanto, poderiam voltar a funcionar durantea quarentena. O uso demáscarasedeluvas nãoelimina o risco decontaminação, na opinião deEduardo Flores, virologista da UniversidadeFederal deSanta Maria (UFSM) no Rio Grandedo Sul. "Prova disso é quemédicoseenfermeiras, profissionais treinados, também acabam seinfectando. O contatoentreo profissionaleo clienteé muito próximo nossalõesdebeleza", completa oespecialista.

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Outro virologista, PauloEduardo Brandão, da FaculdadedeMedicina VeterináriaeZootecnia da UniversidadedeSão Paulo (USP), lembra o fluxo constantedepessoas nesses locais. "Issoeleva a probabilidadedeentrada do vírusedesua disseminação" diz oespecialista. Para Jônatas Santos Abrahão, pesquisador da UniversidadeFederal deMinas Gerais (UFMG), os riscosexistem mesmo seprofissionaiseclientesestiverem usando máscaras. "Uma pessoa infectadaexpelepartículas viraisem quantidades muito altas. O vírus podepermanecer suspenso no ar por algum tempoeeventualmenteinfectar as pessoas. O uso demáscaras ameniza a transmissão, mas é muito comum as pessoas tocarem as máscaraseos olhos com as mãos.Em seguida, podem depositar o vírusem objetos", diz oestudioso. "O vírusem objetos podepermanecer infeccioso por dias, dependendo do materialedos procedimentos dedesinfecção", completa.

O professorexemplifica com uma pesquisa dequeparticipou recentemente.Em Belo Horizonte, foram selecionados os locais públicos das regiões com o maior número decasos, deacordo com dados da prefeitura. Das 101 amostras coletadasem superfícies públicas, o novo coronavírus foi confirmadoem 17. O coronavírus deixou sinais nos corrimãos dos pontos deônibus, calçadas, mesasebancos públicos. O laudo foi apresentado à prefeitura, quehigienizou os locais. "Os resultados da pesquisa reforçam quepacientes infectadosexpelemedepositam vírus nas cidades."

Evaldo Stanislau, infectologistaeprofessor demedicina da UniversidadeSão Judas, sublinha a preocupação com as superfícies. "Por mais quehaja distanciamento físico, uma superfíciequenãoesteja totalmentehigienizada podecontribuir para aumentar o risco.Esserisco nunca é zero.Elesemprefica na dependência do cumprimento dos procedimentos deprevenção à risca, uso correto deEPIsedeseevitar aglomerações", avalia.

Paula Martins, biólogaemicrobiologista formada pela Unesp,explica a função decadaequipamento deproteção individual. "No caso dossalões, a luva não quer dizer nada. O coronavírus não passa pela pele. A recomendação para lavar as mãos sedeveao fato dequelevamos muito as mãos ao rosto. Com a luva, seria a mesma coisa",exemplifica. "A ideia da máscara é minimizar a dispersão do vírus. Mas as caseiras não vedam totalmente, não têm uma filtragem. O arentraesai pelas beiradas, porexemplo.

Risco maior nas academias

Embora osespecialistas sejam unânimesem afirmar quenão háevidências sobrea transmissão do vírus pelo suor, todos consideram as academias locais dealto risco detransmissão, maior queossalõesdebeleza. A maioria dos frequentadores toca o rosto com frequência para remover oexcesso desuor, saliva ou secreções oculares. Com isso, toalhas bebedouros, halteres, barrasetodos osequipamentos queforam tocados são passíveis decontaminação.

Além disso, as pessoas respiram deforma intensa duranteosexercíciosepodem transmitir, pela respiração, gotículas com mais forçaedeforma mais abundante. Com isso,elas podem contaminar o instrutor ou outros clientes. "O risco deuma pessoa transmitir o coronavírus é maior do quedeuma pessoaem repouso", garanteEduardo Flores.

Especialistas afirmam queo uso deálcool 70% nas mãos, objetoseequipamentos podeajudar, mas não garantea desinfecção. Além disso, os ambientes são fechados, com grandecirculação depessoas. Brandão afirma queuma saída para diminuir o risco seria reduzir o número declientes, criando um sistema derodízio, porexemplo, descontaminando o materialeosequipamentos com álcoolem gel. Mesmo assim há riscos, alerta oespecialista. "Nem todos sabem usar máscaras adequadamente, nem todas as máscaras são adequadas. "Não consigo imaginar alguém usando máscara numa academia. Não vão usar", argumenta

O guia médico da Confederação Brasileira deFutebol (CBF) para a volta gradual do futebol após a pandemia traz tópicosespecíficos sobreos treinosem academias. "Deverá observaremanter o ambientedetreino ventiladoem caso detreinamentoem academia, com uso deventiladores, portasejanelas abertas", diz trecho do documentoentregueao Ministério da Saúdeeaguarda aprovação.

Stanislau afirma quea única forma dediminuir o risco decontaminação nas academias é não abri-las. "Não há como abrir uma academia coletivaem um momento depandemia. É uma medida tresloucada, sem suporteequenão poderá ser adotada. Oexercício teria deser feito sob controle,em academias individuais ou ao ar livre", opina.

Eduardo Flores concorda queos treinos deveriam ser individuais, com professorealuno usando máscaraseluvas,edesinfecção total dos aparelhos antes do uso pelo próximo aluno. Por outro lado,eleadmiteque, na prática, o modelo dificilmenteseria adotado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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