Doria lança candidatura ao governo de SP sem propostas e com ataques ao PT
Convenção Estadual teve lotação máxima, confusão na porta e "reaproximação" do ex-prefeito com Geraldo Alckmin
Raphael Martins
Publicado em 28 de julho de 2018 às 16h50.
Última atualização em 30 de julho de 2018 às 17h40.
São Paulo - A candidatura de João Doria (PSDB) ao governo do estado de São Paulo foi lançada oficialmente neste sábado, em Convenção Estadual do partido. O evento reuniu 6.400 militantes de todos os partidos da coligação Acelera São Paulo, que conta com DEM, PSD, PP, PRB e PTC, além dos tucanos.
Do lado de fora do Expo Barra Funda, na zona oeste da capital, mais cabos eleitorais se acotovelavam para tentar acompanhar o evento, que teve as portas fechadas. Alguns precisaram de atendimento médico em meio ao tumulto.
Doria subiu ao palco com três horas de atraso, cumprimentando a todos os correligionários. Discursaram Ciro Moura, presidente do PTC, o ex-ministro da Indústria e presidente do PRB, Marcos Pereira, o ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD, e o candidato a vice na chapa de Doria, Rodrigo Garcia, representando também o DEM. O ex-governador e presidenciável do partido, Geraldo Alckmin, também falou do palco.
Propostas
Do ponto de vista de propostas, não houve novidade. Doria voltou a fazer referência à vocação de sua chapa (e pessoal) ao trabalho, prometeu marcar presença nos debates e empunhar as bandeiras de Geraldo Alckmin no Palácio dos Bandeirantes.
Mantendo a tradição, atacou o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo o petista estando preso e a candidatura de Luiz Marinho (PT) não estar entre as mais competitivas. "Não sou como eles que prometem muito e fazem pouco, ou nada. Quando fazem, é para roubar", disse Doria.
O candidato ainda fez referência aos antigos gestores tucanos, que fizeram carreira com "trajetória de honestidade e decência" e acenou ao juiz Sergio Moro, um "herói, que colocou Lula na cadeia". "Inclusive no meu partido. Se é ladrão, cadeia", afirma sem dar nome aos bois.
Geraldo Alckmin saiu em defesa do pupilo, de quem se afastou no entrave para disputar a Presidência da República no ano passado. Chamou Doria de "homem da inovação, da parceria e da capacidade de trabalho". Aproveitando o palanque, defendeu-se da junção com o centrão na chapa nacional. "Alguns questionam nossas alianças. Toda vez que houve no Brasil um esforço conciliatório, de pacificação, a democracia se consolidou, a economia se fortaleceu e os avanços sociais foram maiores", disse o presidenciável.
Renovação
A peculiaridade do evento foram as caras novas. Em vez de comparecer, os tucanos de maior plumagem enviaram vídeos à Convenção. Foi o caso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. José Serra não apareceu. O movimento de renovação é sensível, mas evidente. Com o lançamento de Doria ao governo, termina a alternância entre Serra e Alckmin. Também são novos os nomes confirmados como candidatos ao Senado. Serão os deputados federais Ricardo Tripoli e Mara Gabrilli.
Tripoli, apesar de ser de uma tradicional casta política paulistana, tentará sua primeira eleição ao Senado depois de ser vereador, secretário de estado, deputado estadual e federal. Seu nome ganhou projeção verdadeira depois de se tornar líder do PSDB na Câmara, em 2016. "Passei por todos os cargos da política, sem pular fases", disse o deputado, em completo oposto ao que foi a carreira de Doria. "Será o maior desafio da minha vida".
Mara tem dois mandatos como deputada federal, com a luta pelos direitos de pessoas com deficiência como principal bandeira. Em seu discurso, agradeceu à coligação pela indicação de uma mulher ao Senado Federal. Da bancada feminina, já diminuta, apenas Rose de Freitas (Podemos-ES), Simone Tebet (MDB-MS), Fátima Bezerra (PT-RN), Maria do Carmo Alves (DEM-SE) e Kátia Abreu (PDT-TO) ainda tem quatro anos de mandato. Ao todo, 13 dos 81 senadores são mulheres.
Em pesquisa Datafolha de abril, Doria liderava a corrida com 29% das intenções de voto, mas amargava 33% de rejeição, puxada pela capital paulista. O eleitor ainda mostra resistência pelo abandono do cargo de prefeito após 15 meses de mandato, em abril passado. Seu principal adversário é Paulo Skaf (MDB), com 20%. O governador Márcio França (PSB) tinha 8%.