Doria diz que governo federal não participou de liberação de insumos para Coronavac
Governador terá uma reunião virtual nesta terça-feira com o embaixador chinês, Yang Wanming, e prometeu apresentar à imprensa os detalhes logísticos do recebimento dos insumos
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de janeiro de 2021 às 06h52.
Última atualização em 26 de janeiro de 2021 às 21h53.
Em mais um capítulo da disputa entre o governador João Doria e o presidente Jair Bolsonaro pelo protagonismo nas ações de vacinação contra a covid, o governo paulista divulgou nota na noite desta segunda-feira, 25, negando que o governo federal tenha tido participação na liberação dos insumos para a produção de 5 milhões de doses da Coronavac, conforme anunciado mais cedo por Bolsonaro no Twitter.
Nas redes sociais, o presidente afirmou que a exportação da matéria-prima foi autorizada pelo governo chinês e destacou que os insumos devem chegar ao Brasil nos próximos dias. No anúncio, ele agradeceu a "sensibilidade" do governo chinês e o "empenho" dos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Eduardo Pazuello (Saúde) e Tereza Cristina (Agricultura). Em um vídeo divulgado pelo Ministério da Saúde minutos depois, Pazuello disse que o problema foi solucionado "graças à ação diplomática do governo federal com o governo chinês por intermédio da Embaixada chinesa no Brasil".
De acordo com a gestão Doria, porém, "não é verdade" que a importação de insumos da China tenha sido uma realização do governo federal. "Todo o processo de negociação com o governo chinês para a liberação de 5.400 litros de insumo para a vacina do Butantan foi realizado pelo Instituto e pelo governo de São Paulo, que vem negociando com os chineses a importação de vacinas e insumos desde maio do ano passado", diz a nota.
Ainda de acordo com o governo paulista, a negociação é contínua e nunca foi interrompida, "mesmo quando o governo federal, através do presidente da República, anunciou publicamente, em mais de uma ocasião, que não iria adquirir a vacina por causa de sua origem chinesa". A nota refere-se ao episódio em que Bolsonaro desautorizou Pazuello em outubro, quando o ministro havia assinado um protocolo de intenções com o Butantan para a compra de doses da Coronavac. O presidente ordenou que o acordo fosse suspenso.
A gestão Doria destacou ainda que, no período em que o presidente se negava a admitir a compra dos imunizantes, quatro lotes de vacinas e insumos foram recebidas pelo governo de SP "sem nenhuma participação do governo Bolsonaro".
Na nota, o governo paulista confirmou que houve autorização do governo chinês para o envio dos insumos e esclareceu que eles estão nas instalações da Sinovac em Pequim.
Em sua página no Twitter, Doria afirmou ainda que os frequentes ataques de membros do governo federal à China dificultaram o processo. "Se não fosse o esforço de São Paulo e a excelente relação de respeito que mantemos com a China, o principal parceiro comercial do Brasil, não teríamos iniciado ainda a vacinação dos brasileiros", declarou.
O governador subiu o tom e acusou a gestão Bolsonaro de oportunismo. "Sem parasitismo dos negacionistas e oportunistas. Até aqui só atrapalharam nosso trabalho em prol da ciência e da vida. São engenheiros de obra pronta. Vergonha!".
Doria terá uma reunião virtual nesta terça-feira, 26, às 10h30, com o embaixador chinês, Yang Wanming, e prometeu apresentar à imprensa os detalhes logísticos do recebimento dos insumos após o encontro.
Até agora, o Butantan já liberou 6,9 milhões de doses da Coronavac para distribuição aos Estados e promete entregar, nos próximos dias, mais 3,2 milhões de unidades do imunizante, o que totalizaria 10,1 milhões de doses, suficiente para a vacinação de 5 milhões de pessoas. A promessa do Butantan é entregar 46 milhões de doses até abril.
Após a reação de Doria, o ministro das Comunicações de Bolsonaro Fábio Faria, publicou no Twitter uma carta do Embaixador da China no Brasil, Yang Wanming enviada a Pazuello nesta segunda comunicando a autorização do envio dos insumos para a Coronavac.
"Venho pelo presente cumprimentá-lo cordialmente e em continuidade da nossa conversa do dia 21 do mês corrente, aproveito para informar que a exportação ao Brasil do novo lote de 5.400 litros dos insumos da Coronavac acabou de ser autorizada pelos órgãos competentes da China", diz o comunicado do embaixador.
Em seguida, Faria escreveu, sem citar nomes, que "tem gente que quer holofote a todo custo". "É caso de psicanálise! Hoje será que veremos lágrimas de crocodilo de novo? A conferir..."