Discurso de Temer na ONU revela inquietações do governo
De olho na imagem de seu governo frente ao mercado internacional, Temer tocou em assuntos delicados durante seu discurso na ONU
Marcelo Ribeiro
Publicado em 20 de setembro de 2016 às 17h36.
Brasília – As primeiras semanas do governo efetivo do presidente Michel Temer (PMDB) têm sido carregadas de tensão. Aliados do peemedebista afirmam que ele estaria preocupado com a atuação de José Serra (PSDB-SP) à frente do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e com o fortalecimento da tese de golpe sobre o impeachment de Dilma Rousseff (PT) no contexto internacional.
A inquietação com essas questões foi determinante para a escolha dos temas para os discursos do peemedebista durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). É o que relatou membro do núcleo duro do governo Temer a EXAME.com.
Com a escolha de assuntos delicados (como o impeachment), Temer pretender resgatar o prestígio do país no cenário internacional. Ao falar sobre a crise dos refugiados, Temer quis atribuir marca mais nobre à política externa do seu governo.
“Temer acha que Serra perdeu a mão ao falar sobre a Venezuela, o que teria acirrado os conflitos dentro da América do Sul. A estratégia de falar sobre a abertura do Brasil à entrada de refugiados tem como objetivo melhorar a imagem do país no exterior”, relatou o aliado a EXAME.com.
Na semana passada, Serra afirmou que todos os países que defendem a democracia no mundo deveriam apoiar a realização de um referendo que pode decidir pela troca do governo na Venezuela. Segundo ele, o vizinho entrou no Mercosul de maneira ilegítima e sinalizou que o Brasil ajudará na reconstrução da Venezuela quando o país se ver livre de um governo autoritário.
Para conter fortalecimento da tese de golpe sobre o impeachment – defendida por Dilma no exterior, Temer afirmou que existe um clima de normalidade democrática no país.
O peemedebista disse ainda que o país já está recuperando a credibilidade, o que estabeleceu a retomada dos investimentos internacionais.
A estratégia de Temer, porém, pode ser classificada com um tiro pela culatra, já que, durante sua fala na ONU, representantes de Equador, Bolívia, Cuba e Venezuela, entre outros países, deixaram o plenário.