Portrait of small business man owner with face mask (F G Trade/Getty Images)
O Desenvolve SP, instituição financeira do governo do estado de São Paulo, normalmente financia projetos inovadores e sustentáveis. Mas, por causa da pandemia de covid-19, o banco ajustou sua política de crédito para atender à necessidade de capital de giro, obras de adequação e aquisição de equipamentos de empresas de vários setores. Só neste ano, entre recursos próprios, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Fundo Geral do Turismo (Fungetur), já foi disponibilizado 1,1 bilhão de reais para micro, pequenas e médias empresas paulistas.
Em 2020, a instituição atendeu 825% mais empresas do que em 2019. Ao todo, foram 3.036 operações, sendo 2.828 após o início da pandemia, a maior parte empresas de serviço. Em três meses, a demanda do Desenvolve SP superou a soma de 11 anos de operações, com aumento de 2.161% em abril e maio em comparação com fevereiro e março deste ano.
“Fomos o primeiro banco a oferecer um plano de apoio aos impactos financeiros gerados pela pandemia e, assim, cumprir nossa missão de apoiar o empreendedor paulista diante da necessidade emergencial de liquidez”, aponta Nelson de Souza, presidente do Desenvolve SP.
A Enjoy Hotéis e Resorts, de Olímpia, no interior paulista, foi uma das empresas atendidas. Cansado de buscar crédito em bancos públicos e privados, o CEO do grupo, Alexandre Zubaran, procurou o Desenvolve SP. Estava interessado no mecanismo de crédito voltado para auxílio às micro, pequenas e médias empresas ligadas direta ou indiretamente ao setor turístico, lançado ainda em março.
A linha exclusiva tinha condições diferenciadas – taxas reduzidas e prazos estendidos. “Buscamos capital de giro, mas, para nossa surpresa, só ouvimos negativas, apesar de ter um faturamento satisfatório e mais de 400 empregados. Até para antecipar recebíveis de cartão de crédito foi difícil”, conta Zubaran.
Com a ajuda do Desenvolve SP, o final da história foi outro. “Fomos prontamente atendidos e tratados com respeito. Passaram a orientação correta de qual linha solicitar e quais pré-requisitos cumprir. Um processo 100% online, mas nada moroso, com acompanhamento regular até o último momento, quando conseguimos o crédito”, diz o CEO do grupo.
Ele ressalta que o processo é rigoroso e reconhece sua importância, pois acredita que o recurso tem de ser repassado com responsabilidade. “É um risco para o estado de São Paulo, mas o governo está de parabéns. Não foi uma ação isolada de um executivo do banco”, afirma. “Agora estamos financeiramente protegidos e temos capital de giro para chegar até o verão, que esperamos ser o melhor dos últimos cinco anos.”
Desde o início da pandemia, o Desenvolve SP já liberou para empresas do setor turístico mais de 91 milhões de reais pela linha Fungetur giro, do Fungetur. Outras operações, que correspondem a quase 64 milhões de reais, foram aprovadas e seguem para liberação, totalizando mais de 154 milhões de reais em crédito para o setor turístico.
A parceria deu tão certo que o Desenvolve SP fechou novo acordo com o Ministério do Turismo para destinar mais de 400 milhões de reais em novas linhas de crédito do Fungetur, liberadas no início de setembro deste ano. As condições das três linhas liberadas incluem juros reduzidos de 0,41% ao mês e prazo estendido de até 120 meses, com até 36 meses de carência, além de garantia por meio do fundo garantidor e aval dos sócios.
Empresas ligadas direta ou indiretamente ao setor turístico podem realizar a solicitação de crédito pelo site do Desenvolve SP. É preciso ter certificação digital e-CNPJ, cadastro ativo no Sistema Nacional de Cadastro dos Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur) e Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) relacionada a atividades turísticas. A lista de atividades atendidas está disponível no site da instituição.
As ações do Desenvolve SP vão além do trabalho com empresas voltadas para o turismo. Ao contrário do mercado, a instituição reduziu a taxa de juro da linha de capital de giro de 1,43% para 1,20% ao mês, além de ampliar o prazo de financiamento de 36 para 42 meses e o de carência de três para nove meses para amparar as micro, pequenas e médias empresas durante a crise.
O crédito para projetos de investimento também passou a contar com prazo maior de carência, subindo de 24 para até 36 meses. Nessa modalidade, o prazo de pagamento é de até 120 meses e a taxa de juro começa em 0,41% ao mês, acrescida da Selic.
Além disso, a empresa criou fundos garantidores próprios como alternativa para empresários que não possuem garantias reais suficientes para serem utilizadas nas operações de crédito. Assim, torna o processo menos burocrático e ajuda a garantir a acessibilidade dos recursos.
"Durante o processo de contratação de crédito, é exigida uma série de garantias que as empresas têm dificuldades em prover neste momento, por estarem enfrentando uma crise de liquidez. Por isso, logo no início da pandemia, tivemos o cuidado de analisar a situação de empresas com baixo faturamento e criamos os fundos garantidores para tornar o processo menos burocrático e garantir a acessibilidade dos recursos”, conta o presidente do Desenvolve SP.
As ações do Desenvolve SP estão alinhadas ao Plano São Paulo, estratégia do governo do estado para a retomada segura e eficaz da economia durante a pandemia.
As ações foram divididas em três fases. A primeira, de resposta, durou de março a setembro. Com o cenário de queda do PIB do estado e aumento do número de casos de infectados, a instituição disponibilizou crédito emergencial para as empresas se manterem durante a paralisação das atividades, com aportes de 475 milhões de reais próprios, 334 milhões de reais do BNDES e 110 milhões de reais do Fungetur. O Desenvolve SP também ofereceu standstill, a suspensão das parcelas a vencer, para todos os clientes com contratos concedidos com recursos próprios da instituição até dezembro de 2020.
A etapa atual, de recuperação econômica, durará de seis a 12 meses. Nela, está prevista a retomada da economia, com a necessidade de alavancagem dos negócios. Agora, o Desenvolve SP negocia captações internacionais para investir em projetos de inovação de empresas privadas e na infraestrutura de municípios.
Foi nessa etapa que Vandir de Andrade Junior, dono do Glamping Mangarito, em Iporanga, no sul do estado de São Paulo, buscou recursos do Desenvolve SP. O glamping é um camping com “glamour”, voltado para pessoas que querem aproveitar a natureza sem renunciar ao conforto.
“Participei de um encontro com consultores do Desenvolve SP no Vale do Ribeira, mas todo o processo foi online. É muito fácil, simples e transparente: fiz o cadastro, segui os procedimentos, enviei a documentação e o próprio sistema informa os prazos”, avalia Andrade Junior. “O gerente está presente em todos os momentos e essa cumplicidade dá muita segurança.”
O empresário conta que previa permanecer fechado durante alguns meses para realizar as obras, mas não tanto tempo por causa da pandemia. “De qualquer forma, estamos aproveitando esse período para fazer as reformas e as melhorias no hotel”, diz.
A última etapa, de sustentação, vai durar de 12 meses a três anos. Foi pensada para o cenário de recessão mundial, que vai exigir o lançamento do programa de recuperação fiscal dos municípios paulistas e monetização de ativos.
Em paralelo ao lançamento das linhas de giro emergenciais, o Desenvolve SP intensificou o trabalho de captação de recursos nacionais e internacionais com o intuito de disponibilizar mais crédito e melhores condições ao empreendedor paulista.
“Para nos prepararmos para a retomada da economia, estamos negociando a captação de recursos internacionais. O objetivo é levantar 3,5 bilhões de reais para a economia do estado de São Paulo em um prazo de seis a nove meses”, aponta o presidente da instituição.
Em um feito inédito, a instituição firmou parceria com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF, na sigla em espanhol) no valor de 50 milhões de dólares. “É a primeira vez que uma agência de fomento brasileira, sem o suporte da garantia Soberana, capta diretamente no mercado internacional”, comemora Souza. “Captações internacionais já eram uma diretriz do banco. A necessidade de apoio à economia paulista em meio à crise do coronavírus intensificou a urgência e acelerou as tratativas.”
A operação foi feita com hedge cambial, em que o banco internaliza o valor em reais e empresta ao empreendedor sem o risco de oscilações de moedas estrangeiras. O aporte abastece linhas já operadas pelo Desenvolve SP e os recursos são destinados aos setores privado (projetos com foco em inovação, aumento da produtividade empresarial, eficiência energética, energias renováveis e inclusão financeira) e público (projetos de infraestrutura econômica e social com ênfase em melhorias de vias públicas, iluminação e saneamento).
O banco paulista está também em negociações com o International Finance Corporation (braço do Banco Mundial para o setor privado) para novo aporte de 75 milhões de dólares para projetos de despoluição do Rio Pinheiros, em São Paulo. Também negocia com o New Development Bank (Banco de Desenvolvimento dos Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para captar 200 milhões de dólares para projetos de infraestrutura sustentável e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para captar mais 400 milhões de reais para o Fungetur, com possibilidade de aumento de valor de acordo com a necessidade das empresas paulistas, além de buscar novos recursos com o BNDES e com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).