Cortejado pelos três candidatos, Lula quer na Presidência da Câmara “aliado de primeira hora”
O presidente da República deve manter neutralidade publicamente, mas atuará nos bastidores para sair vitorioso no pleito
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 24 de outubro de 2024 às 06h00.
Última atualização em 29 de outubro de 2024 às 10h27.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido cortejado pelos três candidatos à Presidência da Câmara dos Deputados: Hugo Motta (Republicanos-PB), Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA). Entretanto, não pretende – por enquanto – declarar apoio formal a nenhum deles, afirmaram à EXAME técnicos do governo que acompanham o assunto.
Publicamente, o chefe do Executivo tem dito que não se envolverá no processo eleitoral, mas nos corredores do Palácio Planalto já está claro que Lula trabalhará para ser vitorioso nesse processo.
A avaliação entre os auxiliares do petista é de que o governo não conseguiu construir uma base sólida na Câmara dos Deputados e depende do Centrão para aprovar os projetos governistas.
Com isso, será necessário atuar para ter no comando da Câmara uma pessoa com perfil mais conciliador e que esteja disposto a ajudar o governo nas pautas prioritárias.
Na equipe econômica, o diagnóstico é de que será necessária bastante disposição política na Câmara para aprovar mudanças nos benefícios trabalhistas e assistências. Um aliado na cadeira tende a ajudar nessas negociações.
Cortejo ao Planalto e ao PT
Motta, Brito e Nascimento sabem que o apoio de Lula é fundamental para direcionar os votos da base governista para um dos candidatos. Motta ofereceu ao PT a primeira-secretaria, que hoje ocupa da segunda-secretaria.
A vaga na mesa diretora da Câmara oferecida ao PT é uma espécie de "prefeitura", que lida dos assuntos administrativos.
Já Brito e Nascimento têm oferecido aprimeira vice-presidência da Câmara ao PT. O posto é o primeiro na linha sucessória da casa.
Reforma ministerial e emendas parlamentares
Entre os aliados do presidente já é esperada para fevereiro uma reforma ministerial para equilibrar as forças que resultarão das eleições municipais e do novo comando da Câmara. Não está descartada, por exemplo, a oferta de Ministérios da Esplanada para acomodar partidos em troca de votos na sucessão da Câmara.
É esperado, por exemplo, que o PSD possa receber mais espaço para abrir mão da disputa na Câmara. O deputado Antonio Brito (PSD-BA) ainda mantém a candidatura, mas isso pode mudar durante o processo de negociações.
Na avaliação do Planalto, outro ponto importante na sucessão da Câmara tem relação com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de barrar o pagamento de emendas parlamentares sem transparência.
Para o Planalto, essa decisão enfraqueceu o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que tem adiado a decisão de anunciar publicamente Hugo Motta como seu candidato.
A tendência, avaliam auxiliares de Lula, é que as negociações para a Presidência da Câmara ganham força após o segundo turno e após uma decisão do STF sobre as emendas parlamenatares.