Comissão da Câmara analisa PEC que prevê anistia a partidos por falhas em prestações de contas
Proposta livra os partidos de punições por falhas nas prestações de contas
Agência de notícias
Publicado em 16 de maio de 2023 às 07h33.
A Comissão de Constituição e Justiça ( CCJ ) da Câmara deve votar nesta terça-feira, 16, a Proposta de Emenda à Constituição ( PEC) da Anistia, que livra os partidos de punições por qualquer falha na prestação das contas eleitorais.
A PEC é de autoria do deputado Paulo Magalhães (PSD-BA) e é relatada na CCJ por Diego Coronel (PSD-BA). O texto conta com o apoio de um amplo leque de partidos na Casa. Os endossos vão desde o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), até o líder da oposição, Carlos Jordy (PL-RJ).
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O que prevê a PEC da Anistia:
A proposta estabelece um marco temporal para que partidos sejam punidos. A data usada como marco foi o dia que o Congresso promulgou uma emenda sobre cotas. A ideia é que toda falha em prestação de contas feita até 5 de abril de 2022 não seja passível de ser punida.
O texto também abre uma brecha para a volta do financiamento empresarial. A proposta permite que partidos usem recursos de pessoas jurídicas para o pagamento de dívidas contraídas antes de 2015.
O texto conta com o apoio da maioria dos partidos do Congresso, desde o PT até o PL. Apenas o Novo e a federação PSOL-Rede, que somam apenas 17 deputados, têm atuado contra a proposta.
É comum que o Congresso aprove regras para burlar o cumprimento das cotas. No ano passado, o Poder Legislativo promulgou outra emenda, que retirou as punições para quem descumprir o piso mínimo de 30% para as campanhas eleitorais financiarem mulheres.
A proposta foi apresentada por Magalhães sob a justificativa de estabelecer um marco inicial para a aplicação das novas determinações previstas em uma emenda constitucional aprovada em 2022, que estabelece critérios mínimos para candidaturas femininas. A ideia é que todas as prestações de contas feitas antes de abril do ano passado, quando a emenda foi promulgada, sejam anistiadas.
O texto chegou a entrar na pauta da CCJ no final de abril, mas não foi votado após PSOL e Novo protestarem contra a iniciativa.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), participou da comissão na ocasião e defendeu a votação da PEC. "Precisamos limpar esse terreno, votar essa PEC na CCJ, que é só a constitucionalidade, e remeter para um debate de mérito", disse. "É urgente discutir esse tema de maneira franca e aberta para saber o que temos que fazer para garantir a efetiva participação das mulheres na política brasileira", completou.
Apesar disso, integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o "Conselhão", criado por iniciativa do Ministério das Secretaria de Relações Institucionais, têm pressionado contra a votação da PEC.
Caso o texto seja aprovado, os partidos poderão se livrar de punições como a suspensão de repasses do fundo eleitoral; devoluções do valor gasto de forma irregular que pode ser descontado do partido nos exercícios seguintes; além de multas.
Não é incomum que o Congresso se movimente para burlar regras de fiscalização nos partidos. Em 2022, deputados e senadores anistiaram os partidos que não cumpriram a determinação do Supremo Tribunal Federal, fixada em 2018, de destinar pelo menos 30% dos recursos das campanhas para mulheres.
Organizações como Instituto Vladimir Herzog, Open Knowledge Brasil, Transparência Partidária e Transparência Eleitoral Brasil se movimentam contra a proposta.
Como mostrou levantamento do GLOBO, com base na prestação de contas parcial dos candidatos entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a maioria dos partidos não cumpriu as regras de repasses de verbas do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres e negros em 2022. Todos os dez partidos com as maiores bancadas no Congresso Nacional — como PL, PT e PSD — têm irregularidades nas cotas afirmativas.