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Com Lula fora da eleição, para quem vão seus votos?

Com Lula preso e afastado da corrida eleitoral pela Lei da Ficha Limpa, quais candidatos têm mais chances de chegar à presidência? Especialistas respondem

Lula: condenado por corrupção, o petista está fora da corrida eleitoral pela Lei da Ficha Limpa (Andressa Anholete/AFP)

Lula: condenado por corrupção, o petista está fora da corrida eleitoral pela Lei da Ficha Limpa (Andressa Anholete/AFP)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 6 de abril de 2018 às 11h04.

Última atualização em 6 de abril de 2018 às 11h10.

São Paulo – Depois da rejeição do Supremo Tribunal Federal (STF) ao pedido de habeas corpus e do mandado de prisão expedido por Sérgio Moro, a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições se complicou.

Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro e deve ser preso nas próximas horas. Ele é líder nas pesquisas de intenção de votos para a eleição presidencial deste ano. Mas, pela Lei da Ficha Limpa, não pode ser candidato após a condenação em segunda instância.

Mesmo diante desse cenário, o Partido dos Trabalhadores (PT) indicou que vai continuar insistindo na candidatura de Lula. Segundo cientistas políticos ouvidos pelo site EXAME, ainda é cedo para considerar Lula peça fora do baralho na eleição, porque ainda restam alternativas jurídicas (como recursos ao Superior Tribunal Eleitoral – TSE) para viabilizar a candidatura.

Dadas as possibilidades, no entanto, é preciso que o PT decida se vai continuar apostando em Lula para a Presidência ou se vai  lançar outro candidato. Para Maurício Moura, presidente do Ideia Big Data, consultoria de análise de dados, eleições anteriores mostram que trocas de candidatos em datas próximas ao pleito são aquelas nas quais ocorre maior transferência de votos.

Possibilidades de transferência

Maurício Moura explica que existem dois aspectos principais que direcionam a transferência de votos: ou o candidato que recebe os votos de alguém está no mesmo campo de valores e posições; ou ocorre uma transferência para um candidato de outro campo, que o eleitor julga como melhor opção. "Os argumentos são 'estamos no mesmo lado', ou 'esta alternativa é melhor do que a outra'", resume.

De acordo com a última pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada em 31 de janeiro, Lula tem 34% das intenções de voto em primeiro turno. Para Moura, o petista poderia transferir cerca de um terço dos seus votos para seu sucessor no PT — que pode ser Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo. Outro terço dos votos de Lula deve migrar para candidatos da esquerda, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).

A outra parcela dos votos que iriam para Lula se dividiria entre eleitores indecisos, outros que votariam em branco e aqueles que votariam em Jair Bolsonaro (Patriotas). Essa migração, explica Moura, seria de eleitores que votam com a lembrança do momento econômico favorável do governo Lula e que têm como prioridade a segurança pública, forte discurso do candidato do Patriotas.

Quem se beneficia

Jairo Pimentel, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da FGV, vê um beneficiário direto que pode ser fortalecido pela ausência de Lula: Ciro Gomes (PDT-CE). Para Pimentel, o cearense tem capacidade de aglutinar a esquerda em uma candidatura ampla, que seria vantajosa inclusive para o PT.

“Quando o PT perceber que a candidatura de Ciro Gomes é a mais competitiva, vai cristianizar (sacrificar) o candidato deles e apoiar Ciro. É interessante para Lula ter outra candidatura competitiva no campo da esquerda. E pode rolar um apoio. Afinal, Ciro no poder pode ser uma chance de o PT voltar ao poder também”, avalia.

Para Maurício Moura, da Ideia Big Data, Ciro Gomes teria a vantagem de capitalizar os votos que iriam para Lula no interior do Ceará.

Na opinião de Vitor Oliveira, da consultoria Pulso Público, os votos de Lula devem se pulverizar entre três frentes: parte deles migra para outro candidato forte da esquerda; parte, que não é ideológica, vai para coligações de partidos que trabalham bem o interior do Brasil (como votos que partidos como o PP garantiriam a Lula por terem controle da política municipal em cidades do interior).

Uma parcela final buscaria uma figura com o mesmo carisma de Lula – embora a avaliação dessa última parcela seja a mais difícil, já que não há, no horizonte próximo, algum candidato de esquerda que se equipare a ele por esse critério.  Até agora, o candidato que chegou mais perto do carisma sem igual de Lula é o direitista Jair Bolsonaro.

A situação da direita

As possibilidades dos candidatos de direita também se alteram com Lula fora da jogada. O discurso anti-petista deve continuar permeando os debates, mas com menos força, já que o que poderia ser o objetivo máximo desse impulso já teria ocorrido — a prisão do “líder da quadrilha”, na visão dessa parcela da população.

Nessa situação, Vitor Oliveira afirma que a tendência seria a pulverização das candidaturas de centro e centro-direita, fenômeno que já se observa. “A existência de um inimigo forte leva à aliança de partes que não teriam se juntado sob outras circunstâncias. Deste ponto de vista, seria de se esperar que, sem o inimigo, cada um dos outros fosse atrás dos próprios interesses."

O que pode frear esse movimento, segundo ele, é a articulação que o PSDB vinha fazendo com outros partidos, alicerçada no fato de que os tucanos estão menos desgastados pela Operação Lava Jato do que o PT – nenhuma de suas lideranças foi presa até agora.

Por outro lado, Jairo Pimentel já vê o cenário eleitoral delineado. Para ele, deve ocorrer um segundo turno entre Ciro Gomes e um candidato da direita ou da centro-direita: Jair Bolsonaro ou Geraldo Alckmin.

“Bolsonaro é o que tem mais chances de ir para o segundo turno contra Ciro, mas menos chances de ganhar; Alckmin, por sua vez, tem menos chances de ir para o segundo turno, mas mais chances de bater Ciro, caso chegue lá”, resume o pesquisador.

Se Alckmin conseguir amarrar em torno de si uma coligação mais consistente, no entanto, suas chances de chegar ao segundo turno aumentam, segundo Pimentel.

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