CNJ vai investigar juíza que associou homem a crime "em razão da sua raça"
Na decisão, a juíza Inês Marchalek Zarpelon, de Curitiba, disse que o réu era "seguramente integrante do grupo criminoso" por ser negro
Clara Cerioni
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 18h56.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 18h57.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu um procedimento, nesta quarta-feira, 12, para apurar a conduta de uma juíza do Paraná que citou a raça negra do réu como motivo para associá-lo a organização criminosa.
A decisão da juíza Inês Marchalek Zarpelon, da comarca de Curitiba, foi proferida em junho deste ano, mas somente nesta quarta-feira o caso ganhou repercussão depois que a advogada do réu expôs a condenação nas redes sociais.
A magistrada condenou sete homens por terem furtado mochilas, carteiras e celulares no centro da capital paranaense.
O que chamou a atenção, porém, foi que em uma das condenações, a juíza disse que o réu não tem antecedentes criminais mas que é "seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça."
O termo "em razão da sua raça" é citado outras duas vezes para justificar a decisão da magistrada. O réu foi condenado a pouco mais de 14 anos de prisão pelo crime de furto qualificado. Somente pela organização criminosa, ele teve a pena aumentada em três anos e sete meses.
Por meio da Associação dos Magistrados do Paraná, a juíza Inês Zarpelon disse que todos os réus foram condenados, independentemente da cor.
"A linguagem, não raro, quando extraída de um contexto, pode causar dubiedades.Sinto-me profundamente entristecida se fiz chegar, de forma inadequada, uma mensagem à sociedade que não condiz com os valores que todos nós devemos diuturnamente defender", disse ela em nota.
A corregedoria do Tribunal de Justiça do Paraná instaurou um procedimento administrativo para apurar a conduta da juíza.
A advogada, Thayse Pozzobon, que defende o réu, disse que vai recorrer da decisão e encaminhou o caso à Comissão de Igualdade Racial e Direitos Humanos da OAB-PR.