Manifestantes usam máscaras de Edward Snowden: revelações com base em documentos fornecidos pelo ex-técnico detalharam como EUA espionaram diversos alvos no Brasil (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2013 às 18h46.
Rio de Janeiro - A presidente Dilma Rousseff deseja encerrar a crise diplomática com os Estados Unidos por causa da revelação de que ela e outros brasileiros foram espionados, mas antes deseja se proteger contra novos vazamentos que possam constranger seu governo, disse um alto funcionário do governo brasileiro à Reuters na terça-feira.
Várias revelações feitas desde julho com base em documentos fornecidos pelo ex-técnico de uma agência inteligência Edward Snowden detalharam como os Estados Unidos espionaram diversos alvos comerciais e governamentais no Brasil.
Embora muitos países tenham sido citados como alvos nos documentos de Snowden, as denúncias envolvendo o Brasil são particularmente delicadas porque, em 23 de outubro, Dilma deve se tornar a primeira chefe de Estado brasileira em quase duas décadas a fazer uma visita de Estado -um grau excepcional de formalidade- à Casa Branca.
Essa é a única visita de Estado que o governo Obama planeja receber neste ano, e seu objetivo é salientar a aproximação entre as duas maiores economias das Américas. Ela também se destina a servir de plataforma para diversos acordos envolvendo biocombustíveis, petróleo e a possível compra de caças da norte-americana Boeing pelo Brasil.
Apesar de ter condenado vigorosamente a espionagem dos EUA, inclusive na última segunda-feira, Dilma espera "encerrar essa confusão" assim que possível e confirmar a visita a Washington, disse a fonte sob anonimato.
Mas ela também teme que novas revelações nas próximas semanas intensifiquem as críticas no Brasil, especialmente por parte da esquerda petista, de que ela não estaria sendo suficientemente dura com Washington.
Ela deseja, portanto, que o governo Obama faça imediatamente uma divulgação pública e completa sobre até onde foi a espionagem dos EUA no Brasil, acrescentou a fonte.
"Não podemos ficar reféns dessas reportagens que saem toda semana a partir do Snowden", disse a fonte. "A única solução para elas é dizer até onde foram, e explicar por que fizeram." Dilma e Obama se reuniram durante 45 minutos na semana passada, durante a cúpula o G20 em São Petersburgo, e ela disse posteriormente que Obama havia aceitado fornecer até quarta-feira um relatório completo sobre a espionagem feita pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos EUA.
"Quero saber tudo", disse Dilma a jornalistas antes de voltar ao Brasil, na sexta-feira.
O chanceler Luiz Alberto Figueiredo deve se reunir na quarta-feira em Washington com a assessora de segurança nacional, Susan Rice, para receber a resposta dos EUA.
Não está claro se o governo Obama está disposto a -ou será capaz de- oferecer uma resposta suficientemente abrangente para satisfazer o governo brasileiro, segundo João Augusto de Castro Neves, analista do Eurasia Group, em Washington.
"Não tenho nem certeza de que (na Casa Branca) saibam a quantidade de informação que possuem sobre o Brasil", afirmou. "Dilma obviamente deseja que tudo isso passe a tempo de ela ir a Washington, mas não sei se ela terá o que quer." Obama não pediu desculpas pela espionagem dos EUA no Brasil e em outros países aliados dos EUA, mas admitiu na sexta-feira que Washington precisa "dar um passo atrás e rever o que estamos fazendo".
As revelações sobre a espionagem da NSA há dois domingos consecutivos abalam o Brasil. As denúncias foram feitas no programa "Fantástico", da TV Globo, em colaboração com o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro e publicou várias reportagens no jornal Guardian sobre as revelações de Snowden.
No último domingo, o Fantástico revelou que a NSA havia espionado a Petrobras. Dilma divulgou na segunda-feira uma nota em termos duros, dizendo que essa atividade foi "manifestamente ilegítima", por não ter relação com as preocupações norte-americanas envolvendo terrorismo e segurança nacional.