Brasil é o país onde mais se morre por covid-19 no mundo em 2021
O país registra uma média de 72 vidas perdidas por hora ou um pouco mais de uma por minuto (1,2)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de agosto de 2021 às 19h33.
Última atualização em 4 de agosto de 2021 às 20h00.
Mesmo com o avanço da vacinação e queda de casos da covid-19 no último mês, o Brasil registra uma média de 72 vidas perdidas por hora ou um pouco mais de uma por minuto (1,2). É o maior patamar de mortes de todo o mundo, à frente de Estados Unidos e Índia, as outras duas nações com mais óbitos pelo coronavírus.
O levantamento é do demógrafo José Eustáquio, que já atuou no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) por quase 20 anos. Agora, ele trabalha como pesquisador independente.
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"A primeira vez que constatei essa média de uma morte por minuto no Brasil, fiquei escandalizado", diz Eustáquio. "Agora estamos com essa média para o ano inteiro; é impressionante." Para ele, mesmo com a melhora recente, a situação ainda exige cautela. "E parece que está tudo normal no Brasil, em termos de movimento, aglomeração, carros na rua, praias lotadas", continua.
Com a alta mortalidade que registrou entre abril e julho, o país acumulou nos primeiros 200 dias do ano 349.000 óbitos por covid-19. Foi seguido pela Índia, com 265.000 óbitos, e pelos Estados Unidos, com 261.000. As médias da Índia são 0,92, e dos EUA, 0,91, conforme Eustáquio, que tratou pela primeira vez do assunto em artigo no site Colabora.
Na soma de 2020 e 2021, os Estados Unidos já têm 613.000 mortes, seguidos do Brasil (557.000) e Índia (425.000). Pelas contas de José Eustáquio, porém, no ritmo atual de aumento do número de óbitos, em no máximo dois meses o Brasil deve ultrapassar os Estados Unidos. "Em setembro ou outubro, infelizmente, teremos o maior número de mortes em toda a pandemia", concluiu.
Na Índia, país com cerca de 1,37 bilhão de habitantes onde uma segunda onda com a variante delta fez explodir o total de mortes e sobrecarregou hospitais, especialistas apontam alta subnotificação. Estudo do Centro para o Desenvolvimento Global estima que o saldo de mortes no país asiático pode ser até dez vezes maior.
Já nos Estados Unidos, com população de 328,2 milhões de pessoas o avanço da imunização desacelerou o aumento de vítimas. O desafio agora é ampliar a cobertura vacinal e convencer uma parcela resistente da população a receber as doses no país, que foi líder de vítimas na maior parte da crise sanitária global
Especialistas apontam que o número crítico no Brasil ocorreu por fatores como as dificuldades de isolamento social efetivo nas cidades, além da demora na aquisição e aplicação de vacinas. Nos dois casos, a atuação do governo Jair Bolsonaro é apontada como decisiva, uma vez que ele minimizou riscos da doença, desestimulou ações de quarentena e o atraso na compra dos imunizantes é alvo de CPI no Senado.
À medida que avança a campanha de vacinação, por outro lado, as mortes por covid-19 vêm caindo no país. As médias diárias de óbitos das últimas semanas são as menores em quatro meses, e houve a desaceleração do número de novos casos da doença, segundo o especialista. A média de mortes ficou abaixo de 1.000 no sábado, 31, pela primeira vez desde o fim de janeiro.
O percentual de brasileiros completamente imunizados, com as duas doses das vacinas (ou dose única, quando for o caso), ainda não chega a 20%. Para Eustáquio, o otimismo excessivo pode ser prejudicial, num momento de disseminação da variante delta, mais transmissível, e de redução das medidas de isolamento.
"As pessoas se comportam como se a pandemia estivesse acabando. O fato de 1.100 pessoas morrerem por dia é banalizado", constatou. "Acho que precisamos estar atentos à entrada da variante delta, olhar para o que está acontecendo no resto do mundo. O número de casos está aumentando novamente em locais como os Estados Unidos e o México. Não quero ser pessimista, mas o Brasil vai registrar aumento também do jeito que as coisas estão indo. É questão de tempo."
De acordo com números do consórcio de veículos de imprensa, em julho (até o dia 27) o Brasil registrou 33.660 mortes por covid. O número representa uma queda muito expressiva (59%) em relação a abril, o pior da epidemia no país. No entanto, é superior aos registros de todos os meses de 2020.
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