Previsão de brancos e nulos para eleições 2018 está na média histórica
Volume de pessoas que não escolheu candidato em junho está dentro da média histórica das últimas eleições desde 1989
Luiza Calegari
Publicado em 23 de julho de 2018 às 06h30.
Última atualização em 23 de julho de 2018 às 12h58.
São Paulo — O prognóstico de uma eleição especialmente marcada pelo descrédito com a política e as instituições ainda não se concretizou, pelo menos nas pesquisas de intenção de votos.
De acordo com um levantamento feito por EXAME com dados do Datafolha , o volume de pessoas que declaram votar em branco, nulo ou que ainda não decidiram seus votos está dentro da média histórica do período da redemocratização, pelo menos quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está presente nos cenários, como mostra o gráfico abaixo:
Isso indica que o nível de abstenções também não deve ficar fora da média dos últimos sete pleitos, segundo o cientista político do Insper Fernando Schüller.
Intervalo
A proporção significativa de eleitores que declaram voto nulo ou branco não é anormal para o período, porque, para os brasileiros, ainda não chegou a hora de conhecer os candidatos a fundo.
Fernando Schüller chama a atenção para o fato de que desde fevereiro os resultados das pesquisas não têm mostrado alterações significativas entre si, especialmente por causa de uma característica da cultura política contemporânea: a de deixar a tomada de decisão para a última hora.
"Existe hoje uma overdose de informação, uma certa instabilidade política. Então, o eleitor, até para se proteger, acaba adiando o momento de decisão para quando a campanha começa na televisão", explica. "A decisão é tomada nas duas semanas finais".
E, no momento da campanha, tudo pode mudar. Se por enquanto o que vale são as redes sociais e a sensação difusa de revolta, depois que a campanha começar, outros fatores começam a ganhar peso, como as alianças partidárias, o tempo de propaganda eleitoral e o dinheiro que o candidato tem à disposição.
Abstenções
Schüller explica que uma eleição muito apertada, equilibrada, acaba sendo um incentivo para que os eleitores compareçam às urnas.
"É fácil criar a ilusão de que o seu voto conta, individualmente, quando três ou quatro candidatos têm chance real de ir para o segundo turno, por exemplo. A pessoa vai defender seu candidato, essa ideia é mobilizadora".
E esse é exatamente o cenário que se delineia nesta eleição, segundo o cientista político. Há mais opções de candidatos no cardápio, além de todo um nicho que não tinha representação desde 1989, que são os eleitores conservadores que passaram a se sentir contemplados pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSC).
O fim da era da polarização entre PT e PSDB e a ruptura para um modelo de pulverização, no qual há vários candidatos com propostas diversas, completa os argumentos que mostram que a eleição é menos atípica do que parece.
Portanto, não é que o número de abstenções vá diminuir nesse ano. O que acontece é que, havendo o potencial de que essa taxa crescesse devido ao sentimento de descrença com as instituições, a proporção deve se manter dentro da média, de acordo com o especialista.