Bolsonaro diz em live que "todo mundo ganha" com Ramagem na PF
Delegado indicado é amigo da família do presidente; ministro do STF entendeu que nomeação tinha conflito de interesse após denúncia sobre interferência
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de abril de 2020 às 20h41.
Última atualização em 30 de abril de 2020 às 20h43.
O presidente Jair Bolsonaro fez um apelo ao Supremo Tribunal Federal (STF), em especial ao ministro Alexandre de Moraes , para que seja revista a liminar que impediu Alexandre Ramagem de tomar posse como diretor-geral da Polícia Federal . O pedido do presidente foi feito nesta quinta-feira, 30, durante live de Facebook.
"Não é por mim, é pela vida pregressa desse homem, pelo seu passado, por tudo aquilo que ele fez pela pátria. Que revejam essa decisão para que ele possa assumir. A relação de amizade de Ramagem com o presidente Bolsonaro é porque ele foi considerado a pessoa mais preparada para fazer a segurança do presidente da República", disse Bolsonaro.
"O crime dele, o errado dele, é por ter participado da minha segurança, é a proximidade para comigo. Eu tenho certeza que com esse currículo, o delegado Ramagem vai fazer com que, à frente da Polícia Federal, ela tenha mais liberdade ainda", argumentou o presidente.
Falas do presidente ocorreu depois de exposição pormenorizada da carreira de Ramagem, que inclui passagem pela superintendência da PF no Ceará e pela equipe da operação Lava Jato no Rio de Janeiro, o que tornaria Ramagem "um homem afeito ao combate à corrupção".
A posse do delegado, antes no comando na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi impedida depois que o ministro Alexandre de Moraes considerou que a nomeação feria o princípio da impessoalidade, uma vez que Ramagem é próximo do presidente Bolsonaro e de sua família.
Repercutindo falas anteriores sobre o assunto, Bolsonaro disse na live que havia feito "um desabafo hoje de manhã" e que não havia "ofendido ninguém". Para o presidente, eventual posse de Ramagem como diretor-geral da PF traria ganhos generalizados. "Pensando no Ramagem, que essa decisão seja revista o mais breve possível", pediu o presidente.
Auxílio a informais
O presidente afirmou que 30 milhões de informais no país estão "em situação desesperadora". Segundo Bolsonaro, a segunda parcela do auxílio emergencial a informais já começou a ser paga a 44 milhões de brasileiros e que a situação dessas pessoas "só não é pior" por causa da ajuda do governo federal.
Durante transmissão semanal ao vivo, Bolsonaro citou estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que aponta uma perda de renda de até 80% para trabalhadores informais na América Latina e África.
Bolsonaro disse ainda que os gastos do governo federal para conter a crise do coronavírus chegaram à cifra de R$ 700 bilhões desde que foi decretada a situação de calamidade pública. Segundo Bolsonaro, o valor ainda pode alcançar a "quantia fantástica e enorme" de R$ 1 trilhão. "Nós sabemos o que pode acontecer ainda no Brasil por causa do coronavírus", disse.
Durante transmissão semanal ao vivo, o presidente afirmou que 4 milhões de empregos em micro e pequenas empresas foram salvos graças às ações do governo. De acordo com Bolsonaro, "o desemprego está aí, batendo forte na porta do trabalhador".
Bolsonaro também voltou a criticar as medidas de quarentena e classificou como "praticamente inútil" o empenho posto nas medidas de isolamento para diminuir a transmissão da doença em solo brasileiro.
Bolsonaro prestou "continência" aos profissionais da saúde e comparou a atuação de médicos, enfermeiros e técnicos à "soldados de branco, na linha de frente de combate ao coronavírus".