Araújo diz que Bolsonaro falou de Pfizer em reunião ministerial neste ano
Senadores destacaram a demora do assunto vir à tona nas reuniões ministeriais, lembrando que a farmacêutica enviou carta a Bolsonaro em setembro do ano passado
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de maio de 2021 às 17h32.
Depois de se contradizer em relação às demandas do presidente Jair Bolsonaro na pandemia, o ex-chanceler Ernesto Araújo disse em depoimento à CPI da Covid que, nas reuniões ministeriais dais quais participou, a compra de vacinas para a covid-19 não era discutida especificamente. A exceção foi o encontro que ocorreu em fevereiro ou março deste ano, quando se teria debatido o contato de Bolsonaro com a Pfizer.
"Com exceção em março ou fim de fevereiro onde se decidiu que o presidente faria contato com presidente da Pfizer para obtenção da vacina da Pfizer. Foi reunião onde o presidente disse 'sim, quero falar com o presidente da Pfizer'", relatou Araújo.
Os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacaram a demora do assunto vir à tona nas reuniões ministeriais, lembrando que a farmacêutica enviou carta a Bolsonaro em setembro do ano passado falando de uma oferta feita ao Ministério da Saúde que continuava sem resposta.
"Em diferentes reuniões ministeriais, surgiu o tema da covid. O presidente falava das preocupações com a pandemia, diferentes aspectos, inclusive aspecto econômico, de saúde, vacinas, mas orientações específicas para atuação do Itamaraty, negociações, vinham do Ministério da Saúde ", disse Araújo.
O ex-chanceler ainda rejeitou o entendimento de que agressões feitas pelo presidente Jair Bolsonaro a outras nações teriam prejudicado as relações externas do Brasil. A questão foi colocada pelo senador Alessandro Vieira. Para Araújo, os prejuízos à imagem do País no exterior são resultado de interpretações internas "equivocadas" que procuram "criar imagem de ameaça à democracia no Brasil".
"Também de que haveria política de afrontamento aos direitos humanos, que é falso, e que haveria uma política deliberada de destruição ambiental. Isso com base em interpretações equivocadas que conduziram a um problema de imagem no exterior, e não falas do presidente da República", completou Araújo, segundo quem a pandemia tem sido usada em alguns casos como pretexto para que se ataque as liberdades no Brasil e no mundo.
Vieira também questionou o ex-chanceler sobre uma afirmação feita em janeiro deste ano, de que "a biopolítica do 'fique em casa' talvez esteja ajudando o narcotráfico". "Estou falando do pretexto da pandemia para determinadas atitudes do controle social. Pudemos observar, aconteceu em alguns lugares do Brasil, durante a pandemia houve aumento de criminalidade. Pretexto do uso da pandemia para cercear determinadas atividades de combate ao crime, me parece que isso esteve presente", respondeu Araújo, que esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores até março deste ano.
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