Brasil levanta a guarda contra terrorismo na Olimpíada
O Brasil vem se empenhando em compartilhar informações de inteligência, realizar treinamentos de segurança e até estabelecer instalações conjuntas de segurança
Da Redação
Publicado em 1 de junho de 2016 às 14h01.
Rio de Janeiro - Os ataques terroristas em Paris e Bruxelas e uma ameaça enviada por um suposto militante do Estado Islâmico pelo Twitter fizeram as autoridades repensarem o esquema de segurança no Brasil enquanto o país se prepara para receber a Olimpíada do Rio de Janeiro em agosto.
"Acendeu uma luz maior para o terrorismo", afirma o almirante Ademir Sobrinho, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, ressaltando os esforços para intensificar a cooperação com governos estrangeiros para monitorar tudo, desde uma ameaça coordenada de militantes até ataques individuais bem mais difíceis de detectar dos chamados "lobos solitários".
No período que antecede os Jogos, que começam em 5 de agosto, o Brasil vem se empenhando em compartilhar informações de inteligência, realizar treinamentos de segurança e até estabelecer instalações conjuntas de segurança.
Além de um centro policial colaborativo, que agentes de mais de 50 países irão ajudar a monitorar a segurança, o governo brasileiro criou um centro antiterrorismo internacional, com especialistas de países como Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Espanha.
"Teremos pessoas de todo o mundo para compartilhar melhor as informações e aconselhar umas às outras em suas respectivas áreas de domínio", diz Andrei Rodrigues, chefe da Secretaria Extraordinário de Segurança para Grandes Eventos, do Ministério da Justiça.
Não significa que o Brasil não estivesse se preparando para o terrorismo antes, mas com a experiência de sediar eventos de grande porte, como Carnaval e a Copa do Mundo de 2014, as autoridades de segurança não o consideravam a maior de suas preocupações. Sem inimigos políticos ou histórico de guerras, e com poucos militantes locais para ameaçá-lo, o país se acostumou a ter que lidar primordialmente com os crimes urbanos e a violência cotidiana.
Mesmo durante o Mundial, realizado com sucesso em 12 cidades, o temor maior foi uma retomada das manifestações de rua que irromperam no país um ano antes por causa de problemas como a inflação e a corrupção.
Mas o Brasil tem suas vulnerabilidades. As vastas fronteiras de seu território, mais de 16 mil quilômetros compartilhados com 10 vizinhos, são mais do que cinco vezes o tamanho da fronteira norte-americana com o México. Grande parte se encontra em selvas remotas e sem proteção.
A recessão econômica em curso e os cortes orçamentários estão causando uma falta de financiamento para as forças de segurança, inclusive no Rio, onde algumas instalações policiais enfrentam uma penúria tão grande que vizinhos estão doando materiais de escritório e de limpeza.
Minimizando o risco
Mesmo assim, o governo está investindo recursos na proteção da Olimpíada, que deve atrair até 600 mil visitantes estrangeiros ao Rio.
Para estes, o sinal mais óbvio de segurança será o patrulhamento de 85 mil agentes de segurança, um destacamento que representa mais que o dobro do efetivo acionado para a Olimpíada de Londres em 2012.
Somando os Ministérios da Justiça e da Defesa, que estão dividindo a maior parte da conta do plano de segurança, o governo já gastou mais de 1,5 bilhão de reais nos preparativos. Especialistas em segurança afirmam que a grande quantidade de efetivos será útil em termos de dissuasão. Os agressores de Paris, por exemplo, teriam matado muito mais pessoas em novembro do ano passado se os perímetros estabelecidos pela polícia ao redor de um estádio de futebol, que recebia um amistoso internacional, não tivessem impedido a entrada de um homem-bomba.
"É uma resposta contundente que pode parecer desproporcional, mas é útil em termos de minimização do risco", diz Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, um centro de estudos de segurança e desenvolvimento sediado no Rio.
Em novembro, ataques de militantes islâmicos deixaram 130 mortos em Paris, e a cidade de Bruxelas foi alvo de ataques que mataram 32 pessoas em março, aumentando as preocupações de segurança para grandes eventos.
Para o pior cenário –-um ataque terrorista-– a maioria dos preparativos é invisível.
As autoridades de segurança vêm vasculhando as redes sociais, informações de inteligência estrangeiras e registros de imigração para detectar ameaças em potencial de possíveis militantes, suas redes e seus movimentos mundo afora. Elas vêm trabalhando de perto com governos estrangeiros em treinamentos de prontidão para situações como um atentado no estilo do que se viu na capital francesa, ou até para um ataque biológico.
Até agora as autoridades de segurança a par do "burburinho" de inteligência a respeito da Olimpíada dizem que nenhuma ameaça terrorista crível foi detectada.
Um alerta explícito surgiu em novembro, quando um suposto agente do Estado Islâmico afirmou que uma das células do grupo já estava no Brasil. Embora tenha alarmado os círculos de segurança, investigações posteriores levaram as autoridades a concluir que se tratava de uma bravata.
"Isso é uma coisa que a gente espera, é impossível o Brasil ter um evento desses e esse tipo de assunto não vir à tona", afirma Saulo Moura da Cunha, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
"Lobos solitários"
A ameaça mais difícil de se identificar, afirmam autoridades de segurança, é a de indivíduos sozinhos ou pequenos grupos que possivelmente se inspiram em facções organizadas que as agências de inteligência conhecem, mas não necessariamente estão ligados a elas.
Tais ameaças são mais escondidas, dizem agentes de inteligência, porque menos pessoas, e menos conhecidas, estão envolvidas, o que pode disparar menos alertas. "Uma pessoa pode fazer uma situação muito ruim", diz o secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame.
"A inteligência tem que procurar muito para analisar, estudar e fazer um micro relatório." Até agora as preocupações de longa data com células de recrutamento de terroristas em potencial no Brasil se mostraram infundadas.
Apesar da tensão resultante da entrada de mais de 2 mil refugiados sírios no país, seis dos quais foram pegos no ano passado cruzando a América Central com passaportes falsos enquanto tentavam encontrar parentes distantes, as autoridades de segurança dizem não haver indícios críveis de que suspeitos de terrorismo estejam entre eles.
E anos de investigações das polícias e das agências de inteligência não revelaram pistas de terroristas na região da tríplice fronteira no sul do país.
Embora a região seja conhecida pelas práticas de contrabando com o Paraguai e a Argentina, e tenha atraído muitos imigrantes árabes em meados do século 20, os rumores de ligações entre comerciantes e militantes islâmicos jamais foram provados.
As passagens de fronteira ali e em outros postos de imigração oficiais são uma área na qual uma cooperação maior com os vizinhos ajudou nos últimos anos durante a realização de grandes eventos.
Na época da Copa, por exemplo, dicas da inteligência argentina ajudaram seus colegas brasileiros a capturar um torcedor conhecido por incitar a violência em partidas de futebol. A polícia o prendeu em um estádio.
Apesar do sucesso do torneio de 2014, as autoridades do Brasil admitem que a Olimpíada será mais desafiadora em muitos sentidos.
Diferentemente dos jogos individuais em dias separados e cidades diferentes da Copa, a Olimpíada será um evento poliesportivo do amanhecer ao anoitecer em uma região metropolitana que já é caótica em dias normais.
"A complexidade é maior, o tamanho do evento é maior e, consequentemente, o esforço de segurança é maior", afirma Rodrigues, da Secretaria Extraordinário de Segurança para Grandes Eventos.
Rio de Janeiro - Os ataques terroristas em Paris e Bruxelas e uma ameaça enviada por um suposto militante do Estado Islâmico pelo Twitter fizeram as autoridades repensarem o esquema de segurança no Brasil enquanto o país se prepara para receber a Olimpíada do Rio de Janeiro em agosto.
"Acendeu uma luz maior para o terrorismo", afirma o almirante Ademir Sobrinho, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, ressaltando os esforços para intensificar a cooperação com governos estrangeiros para monitorar tudo, desde uma ameaça coordenada de militantes até ataques individuais bem mais difíceis de detectar dos chamados "lobos solitários".
No período que antecede os Jogos, que começam em 5 de agosto, o Brasil vem se empenhando em compartilhar informações de inteligência, realizar treinamentos de segurança e até estabelecer instalações conjuntas de segurança.
Além de um centro policial colaborativo, que agentes de mais de 50 países irão ajudar a monitorar a segurança, o governo brasileiro criou um centro antiterrorismo internacional, com especialistas de países como Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Espanha.
"Teremos pessoas de todo o mundo para compartilhar melhor as informações e aconselhar umas às outras em suas respectivas áreas de domínio", diz Andrei Rodrigues, chefe da Secretaria Extraordinário de Segurança para Grandes Eventos, do Ministério da Justiça.
Não significa que o Brasil não estivesse se preparando para o terrorismo antes, mas com a experiência de sediar eventos de grande porte, como Carnaval e a Copa do Mundo de 2014, as autoridades de segurança não o consideravam a maior de suas preocupações. Sem inimigos políticos ou histórico de guerras, e com poucos militantes locais para ameaçá-lo, o país se acostumou a ter que lidar primordialmente com os crimes urbanos e a violência cotidiana.
Mesmo durante o Mundial, realizado com sucesso em 12 cidades, o temor maior foi uma retomada das manifestações de rua que irromperam no país um ano antes por causa de problemas como a inflação e a corrupção.
Mas o Brasil tem suas vulnerabilidades. As vastas fronteiras de seu território, mais de 16 mil quilômetros compartilhados com 10 vizinhos, são mais do que cinco vezes o tamanho da fronteira norte-americana com o México. Grande parte se encontra em selvas remotas e sem proteção.
A recessão econômica em curso e os cortes orçamentários estão causando uma falta de financiamento para as forças de segurança, inclusive no Rio, onde algumas instalações policiais enfrentam uma penúria tão grande que vizinhos estão doando materiais de escritório e de limpeza.
Minimizando o risco
Mesmo assim, o governo está investindo recursos na proteção da Olimpíada, que deve atrair até 600 mil visitantes estrangeiros ao Rio.
Para estes, o sinal mais óbvio de segurança será o patrulhamento de 85 mil agentes de segurança, um destacamento que representa mais que o dobro do efetivo acionado para a Olimpíada de Londres em 2012.
Somando os Ministérios da Justiça e da Defesa, que estão dividindo a maior parte da conta do plano de segurança, o governo já gastou mais de 1,5 bilhão de reais nos preparativos. Especialistas em segurança afirmam que a grande quantidade de efetivos será útil em termos de dissuasão. Os agressores de Paris, por exemplo, teriam matado muito mais pessoas em novembro do ano passado se os perímetros estabelecidos pela polícia ao redor de um estádio de futebol, que recebia um amistoso internacional, não tivessem impedido a entrada de um homem-bomba.
"É uma resposta contundente que pode parecer desproporcional, mas é útil em termos de minimização do risco", diz Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, um centro de estudos de segurança e desenvolvimento sediado no Rio.
Em novembro, ataques de militantes islâmicos deixaram 130 mortos em Paris, e a cidade de Bruxelas foi alvo de ataques que mataram 32 pessoas em março, aumentando as preocupações de segurança para grandes eventos.
Para o pior cenário –-um ataque terrorista-– a maioria dos preparativos é invisível.
As autoridades de segurança vêm vasculhando as redes sociais, informações de inteligência estrangeiras e registros de imigração para detectar ameaças em potencial de possíveis militantes, suas redes e seus movimentos mundo afora. Elas vêm trabalhando de perto com governos estrangeiros em treinamentos de prontidão para situações como um atentado no estilo do que se viu na capital francesa, ou até para um ataque biológico.
Até agora as autoridades de segurança a par do "burburinho" de inteligência a respeito da Olimpíada dizem que nenhuma ameaça terrorista crível foi detectada.
Um alerta explícito surgiu em novembro, quando um suposto agente do Estado Islâmico afirmou que uma das células do grupo já estava no Brasil. Embora tenha alarmado os círculos de segurança, investigações posteriores levaram as autoridades a concluir que se tratava de uma bravata.
"Isso é uma coisa que a gente espera, é impossível o Brasil ter um evento desses e esse tipo de assunto não vir à tona", afirma Saulo Moura da Cunha, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
"Lobos solitários"
A ameaça mais difícil de se identificar, afirmam autoridades de segurança, é a de indivíduos sozinhos ou pequenos grupos que possivelmente se inspiram em facções organizadas que as agências de inteligência conhecem, mas não necessariamente estão ligados a elas.
Tais ameaças são mais escondidas, dizem agentes de inteligência, porque menos pessoas, e menos conhecidas, estão envolvidas, o que pode disparar menos alertas. "Uma pessoa pode fazer uma situação muito ruim", diz o secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame.
"A inteligência tem que procurar muito para analisar, estudar e fazer um micro relatório." Até agora as preocupações de longa data com células de recrutamento de terroristas em potencial no Brasil se mostraram infundadas.
Apesar da tensão resultante da entrada de mais de 2 mil refugiados sírios no país, seis dos quais foram pegos no ano passado cruzando a América Central com passaportes falsos enquanto tentavam encontrar parentes distantes, as autoridades de segurança dizem não haver indícios críveis de que suspeitos de terrorismo estejam entre eles.
E anos de investigações das polícias e das agências de inteligência não revelaram pistas de terroristas na região da tríplice fronteira no sul do país.
Embora a região seja conhecida pelas práticas de contrabando com o Paraguai e a Argentina, e tenha atraído muitos imigrantes árabes em meados do século 20, os rumores de ligações entre comerciantes e militantes islâmicos jamais foram provados.
As passagens de fronteira ali e em outros postos de imigração oficiais são uma área na qual uma cooperação maior com os vizinhos ajudou nos últimos anos durante a realização de grandes eventos.
Na época da Copa, por exemplo, dicas da inteligência argentina ajudaram seus colegas brasileiros a capturar um torcedor conhecido por incitar a violência em partidas de futebol. A polícia o prendeu em um estádio.
Apesar do sucesso do torneio de 2014, as autoridades do Brasil admitem que a Olimpíada será mais desafiadora em muitos sentidos.
Diferentemente dos jogos individuais em dias separados e cidades diferentes da Copa, a Olimpíada será um evento poliesportivo do amanhecer ao anoitecer em uma região metropolitana que já é caótica em dias normais.
"A complexidade é maior, o tamanho do evento é maior e, consequentemente, o esforço de segurança é maior", afirma Rodrigues, da Secretaria Extraordinário de Segurança para Grandes Eventos.