Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores (AFP/AFP)
Agência O Globo
Publicado em 29 de março de 2021 às 08h15.
Em meio à pressão para a saída do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o Centrão vai intensificar junto ao presidente Jair Bolsonaro o pleito para que haja uma reforma ministerial mais ampla, incluindo outros ministros como alvo. Bolsonaro trocou, na semana passada, o titular da Saúde, Eduardo Pazuello, mas não pôs em seu lugar um indicado pelos aliados no Congresso. Agora, líderes parlamentares fazem críticas a outros integrantes da Esplanada. O titular do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é alvo prioritário em seguida de Ernesto, mas há também insatisfação com nomes como Milton Ribeiro, à frente da Educação, Bento Albuquerque, de Minas e Energia, e Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura.
Salles sofre críticas semelhantes às direcionadas ao ministro das Relações Exteriores. Ambos são acusados pelo Congresso de prejudicar internacionalmente a imagem do país ao colocar o “ideologia acima do pragmatismo”. Os discursos de Salles passarão a ser monitorados com lupa pelo Congresso e qualquer sinalização hostil a países estratégicos deverá provocar reação de deputados e senadores. O ministro é visto como entrave à aproximação do Brasil com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que cobra maior empenho do país no combate ao desmatamento da Amazônia e chegou a oferecer um fundo bilionário em troca de contrapartidas ambientais.
Para tentar estreitar laços com países estratégicos, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem se reunido diretamente com o embaixador da China, Yang Wanming, e chegou a conversar por vídeo com o presidente do parlamento chinês, Li Zhanshu. Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), escreveu carta à vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, pedindo o envio de excedente de vacinas.
A avaliação do Centrão é que, após o surgimento da nova cepa do coronavírus, Bolsonaro “acordou” para a pandemia e passou a demonstrar a preocupação necessária com o tema. Só que a mudança de discurso do presidente precisaria estar acompanhada de gestos, como mudanças em pastas estratégicas, para “chacoalhar” a gestão e melhorar a imagem do governo. O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), avalia que “a política ambiental do Brasil tem funcionado como impeditivo para captação de investimentos internacionais”.
— A visão é muito negativa não só no Parlamento, mas no mundo inteiro, porque a política do Salles conflita com quem defende o meio ambiente. Ele é uma espécie de “antiministro” do Meio Ambiente.
Parte influente do Congresso também critica Tarcísio de Freitas na Infraestrutura. A alegação é que, à frente de uma superpasta, Freitas poderia produzir mais resultados do que apresenta. O ministro seria “supervalorizado” e contaria com amplo empenho do Planalto na divulgação de feitos, o que daria a “falsa impressão” de uma atuação exitosa. Como Tarcísio é prestigiado por Bolsonaro, tentar tirá-lo do ministério é visto como inviável, e a intenção é pressionar pelo desmembramento da sua estrutura para entregá-la a um indicado do Centrão.
À frente do Ministério da Educação, pasta com mais recursos no Orçamento, Milton Ribeiro é criticado pela “inércia” e por “não buscar alternativas” para o aprimoramento do ensino na pandemia. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, também é apontado como pouco ativo. Parlamentares do Centrão argumentam que faltam investimentos na área e, se o Brasil estivesse passando por um período com maior atividade econômica, a atuação de Bento traria risco de percalços como apagões.
— Tem ministro que você nem lembra que é ministro. O Ribeiro na Educação é um deles. E citaria também o astronauta Marcos Pontes, que, até hoje, parece não ter voltado da lua, diz Marcelo Ramos, referindo-se ao ministro da Ciência e Tecnologia, cuja saída, embora pleiteada, não está na lista de prioridades do Centrão.
Para além das críticas feitas aos ministros citados, há uma avaliação de que Bolsonaro não correspondeu ao apoio que tem recebido do Congresso. Desde que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) derrotou o indicado de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e foi eleito presidente da Câmara, Bolsonaro nomeou apenas um político, do Republicanos, para ministério — o deputado federal João Roma (BA) assumiu a pasta de Cidadania.
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