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6 questões sobre a doença ligada ao zika que causa paralisia

Além da microcefalia: cresce número de casos da síndrome de Guillain-Barré, que causa paralisia e tem sido associada ao zika vírus

Em 15% dos casos, a doença deixa sequelas, como a paralisia das pernas (Thinkstock)

Talita Abrantes

Publicado em 14 de fevereiro de 2016 às 07h58.

São Paulo – Uma fraqueza e dormência nos pés que pode, em poucos dias, evoluir para uma paralisia total do corpo e torna atos como falar, comer ou respirar praticamente impossíveis. Assim é a síndrome de Guillain-Barré em suas formas mais severas.

No final do ano passado, a doença – que ocorre quando o sistema imunológico se engana e começa a atacar o próprio corpo após infecções por diferentes tipos de bactérias e vírus – foi associada pelo governo federal ao surto de zika .

As primeiras suspeitas da relação entre a síndrome e o vírus, que também pode estar por trás da explosão de casos de microcefalia nos últimos meses, partiram do Hospital da Restauração, no Recife, em Pernambuco.

Entre janeiro e dezembro de 2015, 55 pacientes foram diagnosticados com a síndrome de Guillain-Barré na unidade, um número três vezes maior do que o registrado nos anos anteriores. Desse total, nove morreram – uma proporção também superior às médias históricas.

O mais curioso: todos relataram sintomas como febre, dores nas articulações, erupções cutâneas. “Tudo isso está relacionado a arboviroses, como a dengue , a chikungunya ou a zika”, afirma Maria Lúcia Brito Ferreira, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital da Restauração para EXAME.com.

Após testes clínicos, a equipe de médicos constatou que quatro desses pacientes tiveram zika. Nos outros 51 casos, não foi possível fazer o exame mais confiável para detecção da doença, segundo relato de Maria Lúcia Brito Ferreira.

Neste sábado, a Organização Mundial da Saúde ( OMS ) confirmou em comunicado um aumento da incidência de casos da Síndrome de Guillain-Barré no Brasil, Colômbia, El Salvador, Suriname e Venezuela, no entanto, admitiu que as causas para o fenômeno ainda são  desconhecidas.

Na semana passada, a organização pediu prudência em possíveis associações entre a síndrome e o zika vírus. A ponderação veio alguns dias depois que o governo da Colômbia divulgou a morte de três pessoas diagnosticadas com Guillain-Barré e zika.

No Hospital da Restauração, até o momento, não foi comprovada a relação entre a zika e os óbitos de pacientes com a síndrome.

“A gente está em uma situação em que há uma suspeita muito embasada. Mas para ter certeza completa, é preciso muita pesquisa”, afirma Marcondes Cavalcante França Júnior, professor do departamento de Neurologia da Unicamp e coordenador do departamento de Neurogenética da Academia Brasileira de Neurologia.

Confira uma lista de seis perguntas e respostas sobre a doença.

Quais são os sintomas?

A síndrome de Guillain-Barré é uma paralisia ascendente: geralmente, o paciente começa a ter sintomas de dormência, formigamento e perda de força nos pés. Conforme o quadro evolui, afirma França Júnior, os sintomas “sobem” para outros membros do corpo do paciente – da região da coxa aos membros superiores.

“Nos casos mais graves, a doença pode afetar a região da face e do pescoço”, afirma o professor da Unicamp. De acordo com ele, há pacientes que têm dificuldade para engolir e falar. Em situações extremas, os sintomas afetam até as vias respiratórias.

Quais são os outros vírus?

Há uma lista de vírus e bactérias que desencadeiam a doença. A forma mais comum, segundo o especialista da Unicamp, está ligada às bactérias do gênero da Campylobacter. Há casos de relação com o vírus da herpes, com o da catapora, HIV e até com o da dengue.

Qual a relação desses vírus e bactérias com a doença?

A Guillain-Barré não é uma doença infecciosa. Alguns vírus e bactérias têm algumas proteínas com estruturas muito semelhantes às das proteínas da mielina (substância que rodeia os nervos periféricos). Quando a pessoa tem uma infecção, o organismo cria anticorpos com a função de atacar a proteína do vírus ou da bactéria.

"Nesses casos, como a proteína é praticamente igual àquela da capa do nervo periférico, a reação do organismo acaba saindo pela culatra. Ela não só mata a bactéria e os vírus, mas danifica a mielina”, afirma França Júnior. “A síndrome de Guillain-Barré não é uma doença infecciosa. É o próprio organismo que é enganado”.

A síndrome é sempre tão severa?

Não, na maioria dos casos os sintomas são brandos. Segundo o especialista, os casos mais graves atingem entre 20% e 30% dos pacientes diagnosticados com a síndrome de Guillain-Barré. Para 85% dos casos, a recuperação é satisfatória, enquanto cerca de 15% dos pacientes ficam com sequelas.

A síndrome de Guillain-Barré pode levar à morte?

Sim, a taxa de mortalidade é de 2% a 5% dos casos diagnosticados com Guillain-Barré, geralmente, por falta de tratamento ou complicações hospitalares.

Como é o tratamento?

Há apenas dois métodos possíveis.

A técnica de plasmaférese lembra uma hemodiálise. “Nela, o sangue é filtrado com o objetivo de tirar os anticorpos que causam a doença. Depois, o sangue é novamente reinfundido no paciente”, descreve o professor da Unicamp. Em média, são necessárias cinco sessões.

O tratamento mais comum e mais fácil de ser administrado é a aplicação da imunoglobulina diretamente na veia dos pacientes. Sem contar os gastos com internação, o custo do tratamento gira em torno de 30 a 40 mil reais.

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No final do ano passado, a doença – que ocorre quando o sistema imunológico se engana e começa a atacar o próprio corpo após infecções por diferentes tipos de bactérias e vírus – foi associada pelo governo federal ao surto de zika .

As primeiras suspeitas da relação entre a síndrome e o vírus, que também pode estar por trás da explosão de casos de microcefalia nos últimos meses, partiram do Hospital da Restauração, no Recife, em Pernambuco.

Entre janeiro e dezembro de 2015, 55 pacientes foram diagnosticados com a síndrome de Guillain-Barré na unidade, um número três vezes maior do que o registrado nos anos anteriores. Desse total, nove morreram – uma proporção também superior às médias históricas.

O mais curioso: todos relataram sintomas como febre, dores nas articulações, erupções cutâneas. “Tudo isso está relacionado a arboviroses, como a dengue , a chikungunya ou a zika”, afirma Maria Lúcia Brito Ferreira, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital da Restauração para EXAME.com.

Após testes clínicos, a equipe de médicos constatou que quatro desses pacientes tiveram zika. Nos outros 51 casos, não foi possível fazer o exame mais confiável para detecção da doença, segundo relato de Maria Lúcia Brito Ferreira.

Neste sábado, a Organização Mundial da Saúde ( OMS ) confirmou em comunicado um aumento da incidência de casos da Síndrome de Guillain-Barré no Brasil, Colômbia, El Salvador, Suriname e Venezuela, no entanto, admitiu que as causas para o fenômeno ainda são  desconhecidas.

Na semana passada, a organização pediu prudência em possíveis associações entre a síndrome e o zika vírus. A ponderação veio alguns dias depois que o governo da Colômbia divulgou a morte de três pessoas diagnosticadas com Guillain-Barré e zika.

No Hospital da Restauração, até o momento, não foi comprovada a relação entre a zika e os óbitos de pacientes com a síndrome.

“A gente está em uma situação em que há uma suspeita muito embasada. Mas para ter certeza completa, é preciso muita pesquisa”, afirma Marcondes Cavalcante França Júnior, professor do departamento de Neurologia da Unicamp e coordenador do departamento de Neurogenética da Academia Brasileira de Neurologia.

Confira uma lista de seis perguntas e respostas sobre a doença.

Quais são os sintomas?

A síndrome de Guillain-Barré é uma paralisia ascendente: geralmente, o paciente começa a ter sintomas de dormência, formigamento e perda de força nos pés. Conforme o quadro evolui, afirma França Júnior, os sintomas “sobem” para outros membros do corpo do paciente – da região da coxa aos membros superiores.

“Nos casos mais graves, a doença pode afetar a região da face e do pescoço”, afirma o professor da Unicamp. De acordo com ele, há pacientes que têm dificuldade para engolir e falar. Em situações extremas, os sintomas afetam até as vias respiratórias.

Quais são os outros vírus?

Há uma lista de vírus e bactérias que desencadeiam a doença. A forma mais comum, segundo o especialista da Unicamp, está ligada às bactérias do gênero da Campylobacter. Há casos de relação com o vírus da herpes, com o da catapora, HIV e até com o da dengue.

Qual a relação desses vírus e bactérias com a doença?

A Guillain-Barré não é uma doença infecciosa. Alguns vírus e bactérias têm algumas proteínas com estruturas muito semelhantes às das proteínas da mielina (substância que rodeia os nervos periféricos). Quando a pessoa tem uma infecção, o organismo cria anticorpos com a função de atacar a proteína do vírus ou da bactéria.

"Nesses casos, como a proteína é praticamente igual àquela da capa do nervo periférico, a reação do organismo acaba saindo pela culatra. Ela não só mata a bactéria e os vírus, mas danifica a mielina”, afirma França Júnior. “A síndrome de Guillain-Barré não é uma doença infecciosa. É o próprio organismo que é enganado”.

A síndrome é sempre tão severa?

Não, na maioria dos casos os sintomas são brandos. Segundo o especialista, os casos mais graves atingem entre 20% e 30% dos pacientes diagnosticados com a síndrome de Guillain-Barré. Para 85% dos casos, a recuperação é satisfatória, enquanto cerca de 15% dos pacientes ficam com sequelas.

A síndrome de Guillain-Barré pode levar à morte?

Sim, a taxa de mortalidade é de 2% a 5% dos casos diagnosticados com Guillain-Barré, geralmente, por falta de tratamento ou complicações hospitalares.

Como é o tratamento?

Há apenas dois métodos possíveis.

A técnica de plasmaférese lembra uma hemodiálise. “Nela, o sangue é filtrado com o objetivo de tirar os anticorpos que causam a doença. Depois, o sangue é novamente reinfundido no paciente”, descreve o professor da Unicamp. Em média, são necessárias cinco sessões.

O tratamento mais comum e mais fácil de ser administrado é a aplicação da imunoglobulina diretamente na veia dos pacientes. Sem contar os gastos com internação, o custo do tratamento gira em torno de 30 a 40 mil reais.

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