45 maneiras de melhorar a educação no Brasil
Alunos vão para escola e não aprendem, o governo gasta bilhões e a educação no Brasil não decola. Veja 45 sugestões para mudar esta realidade no país
Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2012 às 10h25.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h13.
São Paulo - Um estudo já antigo dos economistas Ricardo Paes de Barros e Lauro Ramos estimava que, se todos os brasileiros tivessem o mesmo nível educacional, a desigualdade de renda seria até 50% menor no país. De meados dos anos 90 – quando foi realizada a pesquisa – para cá, o país se tornou a sexta maior economia do mundo e ganhou relevância política, mas a educação parece ter ficado patinando no caminho. Ainda fazemos feio em avaliações internacionais e só conseguimos fazer com que 1 em cada 10 estudantes terminem o ensino fundamental sabendo o que deveriam em matemática . Para tentar jogar luz sobre o abismo educacional brasileiro, EXAME.com selecionou 45 soluções, das pequenas às grandes, para melhorar a educação no Brasil , a chave para um país mais competitivo. Não há soluções mirabolantes para a educação. Disse à EXAME.com o professor da Universidade de Stanford e especialista em educação internacional comparada, Martin Carnoy: “ninguém encontrou uma melhor maneira de fazer as crianças aprenderem do que colocando bons professores ensinando na frente delas”. É hora de o Brasil fazer a (dura) lição de casa.
Muitas das medidas que poderiam causar grande transformação na sala de aula não acarretariam em gasto algum. Usar de maneira eficiente o tempo em que alunos já estão na escola é uma delas. Estudo do Banco Mundial divulgado no ano passado, realizado a partir da observação in loco de pesquisadores da instituição, mostrou que apenas 66% do tempo de sala de aula no Brasil é gasto efetivamente com o ensino. Outros 34% são desperdiçados com atividades burocráticas, como chamada, a cópia de deveres de casa ou pedindo disciplina. A cota de “desperdício” em países da OCDE é de apenas 15%. Usar sabiamente o tempo em sala de aula é uma das mais baratas e eficientes maneiras de melhorar a educação no Brasil.
Nas últimas duas décadas, o Brasil quase conseguiu universalizar a educação pública em um processo notável e propalado pelos governantes de plantão. A palavra universalizar, no entanto, esconde ainda um montante de 3,8 milhões de crianças e jovens entre 4 e 17 anos fora da escola, segundo dados do Movimento Todos pela Educação. O problema é concentrado no universo de crianças entre 4 e 5 anos e jovens acima de 14 anos. No meio deles, a educação é quase universalizada. Rumo a uma educação de qualidade, o Brasil deve avançar mais.
Do estado periclitante da educação brasileira, nenhum é tão ruim quanto do ensino médio. Entre as notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a do ensino médio é a mais baixa: 3,1, de 10. Parte das pessoas culpa o número de disciplinas ensinadas aos estudantes, 13; a outra, a maneira enciclopédica, que tenta ser passada de maneira mais profunda que o necessário. Escreveu em um blog um aluno bolsista da Fundação Estudar, quando estava nos Estados Unidos: “aqui o aluno não tem que aprender Matemática, Biologia ou Geografia em detalhe”, constatou. O fato é que o assunto voltou à tona recentemente, quando o Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, mostrou disposição de mudar o ensino médio, tornando-o mais multidisciplinar e integrado.
Uma pesquisa da Fundação Victor Civita, em 2009, constatou que a carreira de professor costuma ser hoje mais procurada por estudantes da rede pública, muitas vezes vindos de um panorama menos favorecido em termos escolares, culturais e financeiros. É uma diferença brutal para países como Finlândia e Coreia do Sul, onde os melhores alunos querem ser professores, até mesmo do ensino básico. No Brasil, somente os docentes de nível superior parecem manter algum prestígio como carreira. Fazer a educação brasileira se equiparar a destes países necessariamente passará por tornar a docência do ensino fundamental e médio atrativas no país. A questão pode até perpassar melhores salários. Sabe-se, no entanto, que aumentar o soldo não melhorará o trabalho dos professores que estão aí, embora possa servir para atrair alunos mais bem aplicados no futuro. Mas é preciso aumentar a dinâmica da carreira para atrair uma geração mais interessada em ascender do que ficar 30 anos exatamente fazendo a mesma coisa. E, quem sabe, conseguir atrair estudantes como o paraibano Felipe Abella, da foto ao lado, acostumado a ficar entre os primeiros em Olimpíadas mundiais do conhecimento, antes e depois de entrar na universidade.
Prática adotada em várias profissões com ótimos resultados, a meritocracia ainda precisa ser implantada de verdade no país, mas com cuidados. Em educação, o conceito não se restringe ao pagamento de bônus. Este, inclusive, demanda cautela. As pesquisas no setor não permitem concluir se o sistema funciona, ou como deveria funcionar, exatamente. O principal problema é isolar o papel do professor. Como dar menor bônus a um docente do 6º ano que conseguiu elevar o desempenho de alunos com deficiências em 50%, em relação ao professor que, com uma turma já melhor formada, quase nada fez, mesmo que, ao final do ano, o desempenho da segunda turma ainda seja melhor. Mas meritocracia é um conceito amplo que deve permear todo o sistema: da escolha dos gestores aos repasses para a escola, entre outros.
O Ministério da Saúde, para padronizar o atendimento de uma pessoa doente em Manaus ou no interior do Paraná, lança os chamados Protocolos Clínicos (PCDT) de várias doenças. O Ministério da Educação não faz o mesmo com sua área. Nem estabelece o que as crianças deveriam aprender em cada idade, o que seria um importante instrumento para medir – e se cobrar – qualidade no ensino. “A justificativa disso é deixar o professor contextualizar na sua sala o que o aluno deve aprender. Mas quando o governo não cria um currículo, ele deixa alguém criar”, afirma Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, organização criada pelo empresário Jorge Paulo Lemann para trazer soluções para a educação brasileira. No caso, são os próprios professores e as editoras de livros escolares que terminam por decidir algo que deveria ser definido pelo governo. É possível resolver o problema e ainda dar espaço para diferenças regionais e culturais.
Os 200 dias letivos e as 800 horas-aula do Brasil hoje são uma ilusão. Ilusão porque, como visto, este tempo é em grande parte desperdiçado. Ilusão, também, porque nem todos os professores trabalham todos os dias. “É como chegar no trabalho e em um dia a porta está fechada, no outro o chefe não aparece, e por aí vai”, afirma Denis Mizne, da Fundação Lemann. O resultado é que isso dificulta a cultura de estudar dos alunos. Trinta e três por cento dos gestores escolares reconhecem que os professores faltam “muito”, mas levantamentos de secretarias estaduais mostram números bem mais chocantes. As consequências são desastrosas. Em “ A Falta faz falta?”, pesquisadores da FGV e do Mackenzie constataram que a nota média dos alunos em matemática piorava 5% a cada 10 dias faltados pelos professores. É preciso conhecer as causas do problema a fundo – e combatê-las.
Quanto mais você pesquisa no Google ou participa da rede social Facebook, mais a internet conhece você e seus gostos, criando um poderoso material para venda de publicidade por parte dessas empresas. Os faturamentos são bilionários. Surpreende, portanto, que softwares inteligentes não estejam sendo usados para o bem coletivo através da educação. “A vantagem da tecnologia é permitir a individualização da aprendizagem, algo que a pedagogia defende há muito tempo”, afirma Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann. O uso mais intensivo de tecnologia, porém, não é o demagógico conceito de entregar tablets e computadores para crianças sem saber o que fazer com eles, algo que se provou um fracasso no programa Um Computador por Aluno. “O tablet é a lousa, o que vai ser escrito é que importa”, defende Mizne. Por isso, é mais importante definir um bom e eficiente software. Um que possa aprender com o aluno conforme ele estuda, por exemplo.
As notas do Ideb por escola mostram anomalias que não deveriam existir: instituições distintas que ensinam crianças da mesma idade, com mesmo perfil socioeconômico em uma mesma região arrancam desempenho díspares dos alunos. Essa troca de informação – homogeneizando o que dá certo em uma determinada área – é obrigação para a educação brasileira, e um equalizador de qualidade fácil de ser observado e alcançado. A Finlândia, um dos melhores sistemas educacionais do mundo, é conhecida justamente pela quase irrelevante discrepância entre suas escolas públicas. window.onload = function(){window.parent.CKEDITOR._["contentDomReadypicture_body"]( window );}
Persiste no Brasil a indicação política para os cargos de diretor de escolas públicas. O método é adotado por 42% das secretarias estaduais, apontou uma pesquisa da Fundação Victor Civita no ano passado. Tal qual se observa quando os partidos abocanham cargos eminentemente técnicos na esfera federal, o método só traz malefícios quando comparados à eleição direta pela comunidade escolar ou por concurso público, outros métodos empregados com maior valorização da meritocracia. window.onload = function(){window.parent.CKEDITOR._["contentDomReadypicture_body"]( window );}
Quase 98% das crianças e jovens entre 6 e 14 anos estão na escola. Seria o cenário ideal, não fosse um único problema: eles não estão aprendendo de verdade. Parte deles, nem a ler e interpretar textos de tal maneira que possam ser considerados alfabetizados. É como se os pais estivessem sendo enganados ao ver os filhos indo à escola. O IBGE considera 15,2% dos alunos com até 8 anos ainda não alfabetizados, mas na Prova ABC, aplicada pelo INEP e pelo Todos pela Educação no ano passado, 51% das crianças não aprenderam o que deveriam até o 8 anos. São crianças que, pelas dificuldades, aprenderão cada vez menos com o passar dos anos, porque nunca dominaram o básico. O governo federal finalmente deu ao problema a atenção merecida com o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado este mês.
É o governo, sem dúvida, que tem o poder e a responsabilidade de travar uma batalha que melhore o panorama da educação no Brasil. Mas em um país entre as 10 economias do mundo, aberto ao mercado, empresas podem e devem estar cientes de que a educação é o melhor setor para exercer a responsabilidade social corporativa. “Temos que pensar no médio e longo prazo”, afirma o Diretor de Pessoas e Organização da Odebrecht Infraestrutura, Paulo Quaresma. Desde 2008, a empresa, responsável por obras gigantescas em locais isolados, como Belo Monte, treinou 66 mil pessoas – 70% delas vindas do Bolsa Família - para trabalhar em seus canteiros. Terminou contratando apenas 40 mil. “O que significa que 26 mil não foram contratadas, mas estão com qualificação básica”, afirma Quaresma. Mesmo que sua empresa não seja uma gigante, pode ajudar, e ser ajudada, ao investir em educação.
No Canadá, a ênfase dos professores é na ponta do processo: naquilo que ele vai ensinar em sala de aula. “Aqui, é para o professor ser um pensador em educação”, constata Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação. Apenas 20,7% das aulas é efetivamente sobre o quê ensinar, mostra um levantamento da Fundação Victor Civita. E menos ainda sobre como ensinar. Assim, os aspirantes a docência se deparam com “História da Educação” e “Filosofia da Educação” mais do que com o que deveria ser o objetivo central da sua aula: fazer o aluno apreender tudo que for ensinado.
Uma grande pesquisa conduzida em 2005 pelo Inep, vinculado ao Ministério da Educação, mostrou que, de maneira geral, os pais de alunos da rede pública estão satisfeitos com as escolas dos filhos. Muitas notas dadas pelos responsáveis passavam de 75 (de um total de 100). A visão positiva está muito ligada ao fato dos pais perceberem a evolução da escola dos filhos em relação à sua própria. No mesmo ano, no Ideb, a mais importante avaliação de ensino do país, o Brasil inteiro cravou um desonroso 3,8, de um total de 10. O problema desta visão é que as mudanças necessárias ao sistema educacional só serão efetuadas por um governante que perceba que é melhor atender a milhões de pais exigentes que aos 5 milhões de professores e técnicos do setor, que podem se posicionar contra várias das medidas necessárias. “Se você tiver 20 milhões de pais dizendo que querem reforma e educação de qualidade, então o quadro político fará sentido”, afirma o economista especialista em educação Gustavo Ioschpe.
O Brasil tem hoje 1,3 milhão de estudantes cursando aulas de ensino técnico. Em universidades e faculdades, são 6,6 milhões. “Estamos apostando em 6 profissionais de nível superior para cada um de nível técnico. Isso não é sustentável”, defende Marcelo Feres, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação. De 15 a 19 anos, mais de 50% dos jovens alemães têm aulas de ensino profissionalizante com a educação regular. No Brasil, ficamos em 6,6%. É preciso acelerar a reversão deste cenário, para o bem da empregabilidade dos jovens e do desenvolvimento econômico brasileiro.
O governo mostrou que quer combater este cenário com o Pronatec, programa que pretende ampliar o acesso a este tipo de curso no país. Até 2014, a meta é chegar a 8,8 milhões de beneficiários. É ver para crer.
As taxas de repetência no Brasil são coisa séria na rede pública: 14,1% no ensino médio e 10,6% no ensino fundamental. Significa que de cada 100 alunos, 13 estão cursando a mesma série do ano anterior. A taxa está entre as maiores da América Latina e bem distante da de países desenvolvidos. Uma das bases do sistema finlandês é não deixar ninguém para trás – pesquisas comprovam que a repetência é um grande desestímulo que atinge as notas do estudante por toda a vida, além de um grande incentivo à evasão – o que significa fornecer reforço escolar para um grande número de jovens, quase como uma educação paralela, com professores habilitados para esse fim, durante todo o ano. Um sistema com bem mais chances de sucesso que fornecer aos alunos, em poucas semanas, todo o conteúdo do ano, na chamada - e temida - recuperação. O mito de que a repetência dá base para o aluno é falso: nada garante que, ensinado da mesma maneira, o aluno vá finalmente aprender no ano seguinte o que não conseguiu neste.
Hoje, 32 mil das 156 mil escolas brasileiras têm ensino integral em algum grau, isto é, o aluno tem as 4 horas normais de aula, mas também estudos complementares no outro turno. O governo tem 1,5 bilhão de reais para aumentar este número a até 60 mil até 2014. Segue na direção certa. A educação integral não precisa ser regra nem maioria, mas é particularmente benéfica para os estudantes de menor renda, que têm menos acesso a itens culturais em casa. “Se estudam de manhã, à tarde filhos de pais abastados são levados para o inglês e têm livros em casa. Mas as crianças pobres não têm isso”, afirma Priscilla Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação.
Quando se fala em educação continuada hoje no Brasil, principalmente no âmbito municipal, normalmente o que se quer dizer são a realização de eventos que misturam lazer e palestras de autoajuda para estimular o professor a ensinar. Nada que vá ter resultado no dia seguinte em sala de aula, basicamente. Assim como é preciso aperfeiçoar o curso de pedagogia, é preciso também capacitar professores, claro, mas com foco em resultados. Fazer com que os gastos de prefeituras com capacitação se transformem, de fato, em resultado para os alunos. A foto é de uma instituição de ensino norteamericana.
No 5º ano do ensino fundamental, apenas 37% dos estudantes aprenderam o adequado para a série em português. Ao final do 9º ano, este índice cai 15 pontos percentuais. Matemática começa próximo disso: apenas 33% de quem esta no 5º anos conhece o conteúdo que deveria. Mas ao final da 9º, o aprendizado despenca para 21 pontos percentuais, para 12%. É fato: números são um desafio para as nossas crianças e jovens. E elas não gostam de lidar com eles. Parte do problema pode estar em quem ensina. “O professor morre de medo da matemática porque não sabe (o conteúdo)”, afirmou Cláudio de Moura Castro, economista especialista em educação, ao falar com EXAME.com sobre os desafios para tornar o Brasil um país de engenheiros. Se a dificuldade em matemática é conhecida, então deveria haver um esforço adicional para que crianças possam aprender de fato a disciplina. O Brasil precisa de engenheiros. Mas tem que começar cedo a tornar os números menos temidos pela criançada.
Os custos estimados que o Brasil perde com a corrupção variam. Começam na casa dos 40 bilhões e daí só sobem. Independentemente do valor, o ralo por onde escoa esse montante é particularmente grande na saúde e educação. Um projeto do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) em avaliação na Comissão de Constituição e Justiça pretende transformar em crime hediondo o desvio de verbas destinadas a programas destes setores. Antes de se falar em aumento de recursos para a educação, vale fechar a torneira, com maior fiscalização e, principalmente, punição a quem desvia dinheiro da chave essencial do desenvolvimento brasileiro.
"Assegurar que os alunos aprendam" é, dentre as finalidades da escola, apenas a quarta na ordem de importância para os diretores escolares entrevistados por uma pesquisa da Fundação Victor Civita.
Primeiro, aparecem "formar cidadãos", "estimular o espírito crítico" e "assegurar igualdade de oportunidades". É por essa falta de foco pragmático no aprendizado espalhada por toda cadeia educacional que no Brasil consegue-se criar cursos para professores em que o ato de fazer os outros aprenderem passa ao largo. Para Priscila Cruz, do Todos pela Educação, o foco no aprender seria uma mudança “sutil”, mas com poder para transformar tudo no país: do dia a dia dos professores ao curso de capacitação docente e a formulação de politicas públicas. Para os pais, seria fazer com que se importassem com o que o filho efetivamente aprende, mais do que com as instalações escolares ou a presença de computadores, como é hoje. É uma mudança de mentalidade que traria progressos.
Primeiro, aparecem "formar cidadãos", "estimular o espírito crítico" e "assegurar igualdade de oportunidades". É por essa falta de foco pragmático no aprendizado espalhada por toda cadeia educacional que no Brasil consegue-se criar cursos para professores em que o ato de fazer os outros aprenderem passa ao largo. Para Priscila Cruz, do Todos pela Educação, o foco no aprender seria uma mudança “sutil”, mas com poder para transformar tudo no país: do dia a dia dos professores ao curso de capacitação docente e a formulação de politicas públicas. Para os pais, seria fazer com que se importassem com o que o filho efetivamente aprende, mais do que com as instalações escolares ou a presença de computadores, como é hoje. É uma mudança de mentalidade que traria progressos.
Quando for decidir suas metas, o Brasil precisa olhar o mundo. Todos os pesquisadores da educação que estudaram a fundo sistemas educacionais tidos de excelência, como da Finlândia e Coreia do Sul, são unânimes em apontar que não se pode importar nenhum deles pela particularidade da sociedade brasileira. Sem dúvida, no entanto, a vontade de estar entre os melhores do mundo é uma característica comum. ”Xangai (primeiro lugar nos teste do Pisa, importante estudo comparativo internacional) tem nível de renda parecido com brasileiro, mas desde 79 é um pais que pensa ‘somos pobres, queremos ser ricos, não é tolerável ter educação de baixa qualidade, queremos qualidade mundial. E vamos ser pragmáticos: todo mundo vai ter que trabalhar mais, estudar mais e as famílias participar mais. Essa filosofia é um conceito geral no qual o Brasil poderia se espelhar”, acredita o economista Gustavo Ioschpe. Os estudantes brasileiros não precisam, claro, ser obrigados a assistir a congressos do partido no comando, como os alunos chineses na foto ao lado, mas não há razão para não importar certos conceitos fundamentais.
Uma receita exaustivamente adotada por Índia e China há anos passa a ser também prioridade anunciada agora no Brasil: enviar para as melhores faculdades e universidades estrangeiras alunos que irão, depois, trazer este conhecimento para o Brasil e aplicá-los de várias formas. A China é hoje o país que mais envia estudantes ao exterior (atualmente, mais de 300 mil). Metade deles vai para os Estados Unidos. Isso é também parte da receita que tornou a Índia forte em engenharia, por exemplo. O governo brasileiro, com o programa Ciência Sem Fronteiras, pretende diminuir a lacuna de cerébros nacionais em território estrangeiro enviando mais de 100 mil bolsistas em quatro anos. O Brasil está atrasado em relação aos demais BRICs neste aspecto. Por isso, quanto mais, melhor.
Assim como no turismo – onde os brasileiros gastam bem mais lá fora do que os estrangeiros aqui – o Brasil pode até não enviar uma enorme força para estudar fora, mas recebe menos ainda. Segundo o Instituto Internacional de Educação, por exemplo, são 9 mil brasileiros cursando ensino superior nos Estados Unidos, enquanto há 3,5 mil universitários norteamericanos aqui. Mas observou-se um aumento de 12% na vinda de estudantes dos EUA no último ano. É preciso expandir a capacidade do Brasil em receber esta massa de alunos. A presença deles é, além de tudo, benéfica para lembrar com quem estamos competindo na busca pela eficiência e competitividade que o Brasil precisa alcançar.
É preciso enfrentar a visão de que o fato de muitos filhos terem hoje mais escolaridade que os pais torna um problema para estes acompanhar a vida escolar da prole. Mais importante que o ensino. é o incentivo familiar. Um estudo realizado em escolas latinoamericanaas por pesquisadores canadenses e britânicos, em 2001, mostrou que a presença paterna está associada a um melhor aprendizado das crianças. Isso significa perguntar como foi a aula, o que está sendo feito e aprendido, estimular o filho a fazer (bem) os deveres de casa, mas nunca dar a resposta do dever, mesmo que ela seja conhecida. Se possível, e havendo condição, é comprovadamente positivo também investir em livros e bens culturais. Pode ser surpreendente, mas há evidências de que isso pode ser mais determinante para o desempenho futuro da criança do que qualquer outra coisa.
O senso comum pode ser perigoso. O Brasil, com quase 200 milhões de habitantes, não pode se dar o luxo de adotar medidas educacionais que não estejam apoiadas em evidências e pesquisas. Claro que nada garante que um estudo bem sucedido em outro país possa ser replicado aqui, mas trata-se de um começo. O mesmo vale para pesquisas realizadas no Brasil. Exemplos de como adivinhar a realidade pode ser um exercício perigoso estão espalhados por aí. Por exemplo, a ideia de que professores, para conseguir fechar as contas no fim do mês, trabalham em várias escolas não corresponde à evidência. Dados de 2011 do Inep mostra que 58% deles trabalham em apenas uma escola. Chega a 94% os que trabalham em no máximo duas. É preciso, assim, estar apoiado em evidências para a decisão de políticas públicas.
Assim como uma empresa fixa metas ambiciosas para estimular seus funcionários a darem o melhor de si, também o Brasil deveria ambicionar resultados excepcionais na educação. Não é o que se vê.
Um exemplo claro da cautela do país na hora de pensar grande foi quando, em 2006, o MEC estipulou a nota que o país deveria atingir no Ideb até 2022: nota 6. A número equivale ao desempenho de países desenvolvidos... em 2006! Até lá, também estes países terão evoluído muito. A falta de ambição pela excelência está impregnada em vários setores da cultura brasileira. É preciso almejar mais do que ser apenas a melhor escola da cidade ou do estado.
Um exemplo claro da cautela do país na hora de pensar grande foi quando, em 2006, o MEC estipulou a nota que o país deveria atingir no Ideb até 2022: nota 6. A número equivale ao desempenho de países desenvolvidos... em 2006! Até lá, também estes países terão evoluído muito. A falta de ambição pela excelência está impregnada em vários setores da cultura brasileira. É preciso almejar mais do que ser apenas a melhor escola da cidade ou do estado.
Para cada aluno do ensino superior, o Brasil gasta hoje 11,7 mil dólares anualmente, próximo aos 13,7 da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quando se chega ao ensino básico, no entanto, é que a situação fica ruim: os 2,4 mil dólares anuais são três vezes menos do que esses países investem (7,7 mil dólares). É sabido que nenhum investimento gera tanto retorno social e econômico quanto investir na criança. O problema, considerado um entrave, é que tudo isto significa pensar a longo prazo, não exatamente uma especialidade da política brasileira. “Vai demorar 20 anos para que você tenha um retorno, mas este retorno, mostram as pesquisas e evidências, é muito alto”, lembra Martin Carnoy, da Universidade de Stanford.
A nota no Ideb 2011 do estado de Alagoas, para alunos do 6º ao 9º ano, foi de 2,5, o menor do Brasil. Dois anos antes, era de 2,7. Os 2,5 eram a mesma nota que o estado tinha obtido em 2005. Situação semelhante ocorreu no ensino médio. Enquanto vários estados do Brasil avançavam, os alunos de Alagoas retrocediam, uma situação considerada inaceitável para quem lida com educação. É por isso que entidades e especialistas defendem que, contra retrocessos, o melhor é haver responsabilização de gestores. Projetos para uma Lei de Responsabilidade Educacional (nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal) tramitam no Congresso. A dificuldade é dosar que tipos de punições estariam previstos para secretários, prefeitos e demais gestores da educação. “Queremos que essa lei seja tensionada na medida certa. Por que se você é rigoroso, vai ter todo mundo contra. Se for brando, não adianta nada”, afirma Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação.
É praticamente unânime, mas não custa lembrar: dever de casa deve ser levado a sério. Segundo pesquisas nacionais e internacionais compiladas pelo economista Gustavo Ioschpe, fazer mais dever de casa é um belo impulsionador para o aluno, com reflexos até mesmo nas taxas de abandono. O problema é que os pais se preocupam se os filhos estão fazendo a lição, e não se ela está sendo corrigida. É preciso que os professores, para atingir o objetivo, encerrem-na com a correção. Para fixação, é melhor que sejam poucos deveres de casa, mas que exijam esforço de mais tempo, do que muitas tarefas curtas. Pela sua importância, o dever de casa deve ser adotado criteriosamente, adequado ao que é dado em sala de aula e encarado como elemento fundamental da aprendizagem.
Quase universalizar o acesso ao ensino básico mas manter, ao mesmo, tempo, níveis baixos de conclusão de ensino médio mostram que, no Brasil, muita gente fica pelo caminho. Dados da OCDE de 2010 mostram que, no grupo entre 35 e 44 anos, somente 12% dos brasileiros têm diploma, contra 24% no Chile e 43% nos EUA. O problema é especialmente relevante porque o mesmo estudo, em sua edição seguinte, mostrou que os ganhos para quem tem diploma no Brasil são três vezes superiores à média da OCDE, onde os graduados já ganham 67% a mais.
O governo brasileiro se habituou nos últimos anos a intervenções pontuais para ajudar este ou aquele setor prejudicado pelas turbulências da economia mundial. Está na hora de incentivos mais gordos para estimular a participação privada na educação dos brasileiros. O melhor ponto para começar, por exemplo, seria reduzir – ou eliminar - a taxação de empresas que querem capacitar seus profissionais. É mais um exemplo da mania brasileira de taxar o que muitos não taxam. Para este fim, o BNDES mantém crédito com juros de 3,4% ao ano. Mas as empresas reclamam da burocracia para conseguir o dinheiro.
Muitos intercambistas brasileiros que vão cursar ensino médio ou mesmo alguma série anterior nos Estados Unidos se surpreendem com o quanto de coisa viram aqui que os norteamericanos nem tinham ouvido falar. Mas as avaliações internacionais mostram que a grande diferença é que, de qualquer maneira, eles aprendem, nós não. O problema do ensino pesado em conteúdo da educação brasileira não se restringe ao ensino médio. Também no superior, por vezes o conhecimento passa do exigido pela carreira e pela expectativa profissional da pessoa. “Temos uma grande relutância em aceitar que o aluno não sabe quase nada”, disse o economista Cláudio de Moura Castro, especialista em educação. E continuamos ensinando muito, como um rolo compressor. Por vezes, menos pode ser mais.
Por vezes ameaçada sob o argumento de reducionismo, as avaliações e as temidas provas são um importante instrumento para o aluno e professor. Pesquisas mostram que, quando frequentes – mas não de maneira exagerada - estas têm relação com melhor desempenho dos estudantes. A palavra “frequente” é importante para o aluno se manter em dia com os estudos, mas também por outra razão: a avaliação constante é um importante instrumento para que o professor reconheça como o conhecimento está chegando aos alunos e, possa, a partir daí, adaptar seu estilo. E é mais proveitoso devolver as provas com um grau de avaliação qualitativa, em vez de simplesmente “certo” e “errado”.
“A matriz educacional brasileira tem um problema que todo o conteúdo é como se todos fossem para a universidade, e 86% não vão”, critica o presidente do Senai, Rafael Lucchesi. A parte do fato de que ainda é vergonhoso o índice de acesso ao ensino superior no Brasil, é preciso também se adaptar às demandas que o mercado de trabalho disponibiliza. E se tem algo que tem caracterizado a educação brasileira é a inércia para fazer frente aos desafios que surgem a todo instante. A lição de outros países neste segmento é clara: a universidade é um belo caminho, mas não é o único. É preciso convencer os responsáveis e os próprios cidadãos que não é preciso apontar todo o sistema apenas para isso, desde os primeiros anos de escola.
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