10 números que mostram como está o ensino superior no Brasil
Dados do Censo da Educação Superior, divulgados na quinta-feira (6) pelo Inep, mostram o alarmante cenário das graduações do país
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2016 às 07h00.
São Paulo—Pela primeira vez o governo federal divulgou um indicador que revela a trajetória de todos os estudantes ingressantes de graduação pelo período de 5 anos, que é o tempo médio dos cursos universitários. E os resultados foram alarmantes: de todos os alunos que ingressaram no ensino superior em 2010, cerca de metade (49%) abandonaram os cursos até o quarto ano, em 2014. O dado mostra a principal dificuldade do país na graduação: fazer com que os estudantes escolham o curso mais alinhado ao perfil pessoal e, principalmente, que concluam o ensino superior. O cenário é ainda pior: no ano passado o Brasil voltou a registrar queda no número de novos alunos, fenômeno que não acontecia desde 2009. O total de calouros nas graduações do país caiu 6,1% em 2015, decréscimo causado principalmente pela redução de ingressantes nas instituições particulares. Essa conjuntura preocupante foi revelada pelo Censo da Educação Superior 2015, divulgado na quinta-feira (6) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Apesar desses índices, a gestão Michel Temer (PMDB) não tem tido, até agora, sucesso para estimular o acesso dos estudantes à graduação. O Ministério da Educação enfrenta uma crise no Fies, um dos principais programas de entrada ao ensino superior por meio do financiamento estudantil. Os valores não foram liberados para as faculdades privadas nos últimos 4 meses e a aprovação de crédito complementar para o programa já foi adiada diversas vezes no Congresso. Confira nos slides a seguir 10 números que retratam o estágio da educação superior no país.
O total de ingressantes apresentou em 2015 uma queda de 6,1%, quando mais de 2,9 milhões de calouros ingressaram em cursos de educação superior de graduação. Desse total, 81,7% deles estavam em instituições privadas. Essa foi a primeira queda do índice desde 2009. O número de ingressos caiu tanto na modalidade presencial quanto na modalidade a distância. Na modalidade presencial, o decréscimo foi de 6,6% entre 2014 e 2015 (de 2,38 milhões para 2,22 milhões) enquanto na EAD a queda foi de 4,6% no mesmo período (de 727 mil para 694 mil).
Além da diminuição do número de ingressantes, o país também registrou um baixo crescimento no total de matrículas (que leva em conta calouros e veteranos) na graduação. Em 2015, o total de alunos matriculados cresceu apenas 2,5%, alcançando o número de 8 milhões ante 7,8 milhões em 2014. O crescimento foi impulsionado apenas pela rede privada, que teve uma pequena alta de 3,5% no total de matrículas, saindo de 5,8 milhões em 2014 para 6 milhões em 2015. No entanto, as taxas da rede pública são ainda mais preocupantes: o número total de matrículas teve uma queda de 0,5%, saindo de 1,96 milhões em 2014 para 1,95 milhões em 2015.
O número de alunos concluintes teve um aumento de 11,9% em 2015, quando 1,15 milhão de alunos se formaram ante 1 milhão em 2014. O aumento foi carregado principalmente pela rede privada, que registrou um acréscimo de 15,9% no número de concluintes, enquanto a rede pública teve um recuo de 0,8%.
O Inep divulgou, neste censo, o acompanhamento da trajetória dos alunos que ingressaram em 2010 no ensino superior, levando em conta dados de permanência e de conclusão até 2015. Os números são alarmantes: dos alunos que entraram na graduação em 2010, 11% desistiram já no primeiro ano. Até 2014, quase metade (49%) dos estudantes saíram dos cursos que haviam optado em 2010. O Diretor de Estatísticas Educacionais do Ministério da Educação (MEC), Carlos Eduardo Moreno Sampaio, afirmou em coletiva de imprensa na quinta-feira (6) que, em comparação com o cenário internacional, o principal problema do Brasil é o baixo número de alunos concluintes, ou seja, aqueles que chegam ao fim dos cursos. “Nos países da OCDE, a estatística de ingressantes é muito parecida com a de concluintes. Já no Brasil, o número de concluintes é em torno da metade [de ingressantes]”, disse.
Entre as novas vagas oferecidas pelas universidades do país, mais da metade (58%) não chegou nem sequer a ser ocupada. O número de vagas novas criadas em 2015 chegou a 6.142.149, quase três vezes mais do que o total de egressos do ensino médio em 2014 (1.913.013). Mesmo considerando que apenas 42% destas vagas fossem preenchidas, o total seria suficiente para acomodar todos os alunos que concluíram a educação básica. O ingresso nas novas vagas foi maior na rede federal, que teve 90% de ocupação. Já na rede pública, apenas 4 em cada 10 novas vagas oferecidas foram preenchidas. Entre as vagas remanescentes, aquelas que sobram porque os vestibulares não tiveram números suficientes de aprovados, a taxa de ocupação é muito pior: apenas 13,5% foram preenchidas. Na rede privada, esse número cai para 12,6%.
Cerca de 17,4% de todos os alunos da graduação estão matriculados em cursos a distância. Essa modalidade de ensino foi a que mais se expandiu no país: de 2014 para 2015, houve um aumento de 3,9% no número de matrículas em cursos EAD contra um crescimento de 2,3% entre os cursos presenciais. A maior parte dos cursos a distância está na rede privada (90,8%) e se concentra principalmente nas licenciaturas, que são os programas de formação de professores. Além disso, o perfil dos alunos dos cursos a distância geralmente é mais velho: eles estão na faixa dos 33 anos. Já os estudantes de ensino presencial têm 21 anos, em média.
Nos cursos de graduação da modalidade presencial, o turno noturno é o mais demandado. Em 2015, 62% desses estudantes estavam matriculados nos cursos da noite. Essa proporção é ainda maior nas redes privadas e municipais, que têm taxas de 72% e 75% dos alunos estudando à noite, respectivamente. Apesar de serem públicas, algumas faculdades municipais cobram mensalidade, o que explica uma número semelhante de alunos que precisam trabalhar e, portanto, estudar no período noturno. A Constituição Federal prevê prevê que a educação pública seja gratuita. No entanto, essas instituições cobram mensalidade por meio de autorizações concedidas pela Justiça. Já nas redes federal e estaduais, os alunos majoritariamente estão matriculados no ensino diurno: 70% e 59%, respectivamente.
As mulheres são maioria entre os alunos das graduações do país. Entre o número de ingressantes, elas correspondem a 53,9% dos calouros. Essa proporção aumenta mais no total de alunos que se formam: são 59,9% de mulheres ante 40,1% de homens. Já entre as licenciaturas, cursos voltados à formação de professores, as mulheres correspondem a 71,6% dos alunos. A remuneração média das mulheres no Brasil hoje chega a 64,39% do que os homens ganham, valor bem abaixo da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 73,39%. Segundo o Ministério da Educação, uma das razões que explicam a menor remuneração das mulheres está na escolha dos cursos. Elas são maioria nos cursos de Pedagogia, Enfermagem e Psicologia, que têm uma remuneração menor, mas permitem que os alunos trabalhem durante a graduação. Já os homens preferem as engenharias, que tradicionalmente remuneram mais, mas normalmente exigem dedicação integral durante os estudos.
Direito, Administração, Pedagogia e Ciências Contábeis são os cursos de graduação com o maior número de alunos no país, segundo os dados do Censo da Educação Superior 2015. Essas são as graduações que historicamente, desde 2009, ocupam as primeiras posições no número de matrículas, ingressantes e concluintes no país, alterando apenas de posição entre elas. Nesta edição do Censo, que se refere a dados de 2015, os quatro cursos reúnem, juntos, 32,8% de todas as matrículas feitas na graduação. O curso de Direito aparece em primeiro lugar, com 10,6% do total (853.211 alunos matriculados), enquanto Administração figura em segundo, com 9,6% (766.859 de matrículas). Em terceiro e quarto lugares aparecem Pedagogia, com 8,2% (655.813), e Ciências Contábeis, com 4,5% (358.452). Veja a lista dos 1 0 cursos universitários com o maior número de alunos aqui.
A maioria das instituições de ensino superior no Brasil pertence à rede privada. Enquanto 87,5% delas são particulares, apenas 12,5% são públicas. Entre as instituições privadas, predominam os centros universitários (94%) e as faculdades (93%). Considerando apenas as públicas, 40,7% delas são estaduais, 36,3% são federais e 23% são municipais. Entre essas instituições públicas, o formato que predomina são as universidades, que são as mais completas estruturas de ensino superior oferecidas no país. De todas as 195 universidades brasileiras, 54,9% são públicas.