Mundo em transição – Gente em transição
Matutina Onze - uma história de empreendedorismo e mudança pra você que quer se inspirar para um novo voo profissional.
Publicado em 11 de setembro de 2018 às, 11h54.
Última atualização em 17 de setembro de 2018 às, 13h59.
Observo os pássaros migratórios no céu e percebo que eles se guiam por uma bússola interna.
Observo pessoas ao meu redor e percebo uma dupla que migrou como os pássaros, mas não para um território de conforto sazonal, e sim para uma nova jornada. Jornada essa de prosperidade e felicidade, justamente por não seguir o óbvio ou, o socialmente esperado. Os personagens dessa nova matéria são os artistas plásticos Glenio Lima e Fernanda Pacca, sócios da Galeria de Arte Contemporânea Matutina Onze. Faço um convite para que conheça com a gente esse caminho de transição que vem sendo construído a quatro mãos.
Em Julho a Matutina Onze celebrou 1 ano de vida, marcando o voo dos amigos Glenio e Fernanda de Brasília para a pitoresca cidade histórica de Pirenópolis - no interior de Goiás. Ambos decidiram em uníssono trocar a vida estável de Brasília para escutar um chamado que vinha do coração. E o que parecia uma aventura, foi se desenhado como um grande acerto em suas vidas.
E tudo começou em um feriado quando foram visitar outra grande artista, a amiga Vera Michels, com ateliê em Pirenópolis. Depois de muita troca e diversão, já no caminho de volta para Brasília, Fernanda conta que sentiu aquela famosa “pontada no coração” - quando estamos nos despedindo de algo que faz muito sentido para nós. Manifestou seu sentimento para o amigo Glenio que compartilhava das mesmas impressões. Aquele saudosismo, antes mesmo da partida, ajudou a estabelecer uma visão de futuro projetando um sonho comum aos dois: “Por que não mudar para Pirenópolis e montar algo juntos?”. Imediatamente mudaram o rumo do carro e começaram a caçar casas com plaquinhas de aluguel.
Loucura? Abstração? Devaneio?
Podia ser tudo isso, mas os olhos de ambos brilharam entusiasmados com o amanhã que começava a se delinear. Essa chama que pulsa por vezes dentro da gente, talvez seja o maior sinal de que algo grande está começando a acontecer. Ainda não sabiam contornos ou detalhes, mas a bússola de ambos apontava para Pirenópolis. Seguiram estrada, com alguns bairros na cabeça e telefones anotados, dias depois estavam de volta para ancorar a primeira galeria de Arte Contemporânea da cidade. “Foi tudo muito rápido. Visitamos Pirenópolis no dia 6 de Maio de 2017, em 15 de Junho já havíamos nos mudado e no dia 8 de Julho inauguramos a Galeria.” - conta Fernanda.
Questionei os dois como foi a tomada de decisão. Uma coisa é o frisson que sentimos quando nos alinhamos com a nossa jornada à seguir, outra é a coragem para recalcular a rota e dar os primeiros passos.
“Foi a partir de um passeio com a Fernanda que veio a ideia. Percebemos que apesar de Pirenópolis abrigar muitos artistas e ser um centro com tanto potencial cultural, não havia uma galeria de Arte Contemporânea. Isso acendeu nosso desejo de trazer a nossa arte e nossa experiência para um lugar a ser descoberto.” - conta Glenio, e segue dizendo que esse espírito aventureiro já havia se manifestado outras vezes, mas que dessa vez havia sentido algo diferente: “A decisão de montar um negócio de arte contemporânea, num lugar improvável e através de uma parceria, me pareceu meu maior desafio enquanto artista. Creio que tudo isso foi a revelação de um propósito que já existia antes, mas estava em estado de repouso.”
E a Fernanda emenda “Mudei para Pirenópolis porque queria viver exclusivamente da minha arte e ter um lugar para expor meu trabalho. Em Brasília, eu conciliava a vida de artista com a rotina de dentista. Suportei isso até 2015 quando larguei o consultório. Eu me sentia como se levasse uma vida que não havia sido desenhada por mim. A ideia de ter um emprego estável nunca me atraiu. Minha arte não combina com estabilidade. Eu precisava encontrar um lugar onde conseguisse produzir, expor e viver das minhas obras. Essa mudança de rota teve relação direta com a necessidade de desenhar minha própria vida, de perseguir o que faz sentido, de trabalhar com o que se gosta, mesmo que isso não seja exatamente o que os outros esperam de você.”
Como ela compartilhou, nem todos entenderam ou apoiaram essa mudança de rumo dos dois. Para os não sonhadores ou inovadores, é muito difícil entender como a ousadia vence a estabilidade e o sonho vence a rotina, ainda mais quando essa é uma rotina considerada de sucesso. Mas mesmo sem todas as aprovações ou apoios, a rota estava traçada. Havia uma certeza que só se estabelece quando estamos de fato conectados com o nosso propósito e a nossa essência. Aí sim somos capazes de ouvir nossa bússola…
Glenio compartilha que apesar de não ser nascido em Brasília - ele é do Tocantins, chegou lá ainda menino e construiu toda trajetória como artista no Distrito Federal. “Ultimamente me sentia confortável com as minhas conquistas e não tinha planos de mudança. Mas quando surgiu a ideia de vir para Pirenópolis, para viver e continuar trabalhando com arte, o meu conforto virou estímulo e atitude de transformação, o sentido da palavra mudança soou de forma mais ampla.”
Antes da transição, a conexão entre os dois já estava estabelecida fazia um tempo. A aproximação que resultou em amizade, depois em parceria e sociedade começou quando Glenio aceitou o convite de Fernanda para ser seu curador. “Ele aceitou meu convite logo de cara e me surpreendeu com isso. Foi assim que o Glenio começou a conhecer a fundo o minha obra e eu, a dele. Percebemos uma identificação entre nossos trabalhos e nossa forma de produzir. Participamos de vários eventos e exposições coletivas. A parceria se tornou uma sociedade e isso veio acontecer com a criação da Matutina Onze.”
É interessante acompanhar esses voos de autenticidade depois de um tempo e validar se as bússolas levaram mesmo seus “seres-voadores” para o destino correto. Quando se empreende um sonho, os aprendizados são inúmeros e a transformação é consequência inerente a todos. Conversando com os dois sobre aquilo que aprenderam com a jornada, Fernanda Pacca compartilha:
“No início, muitos diziam que o que estávamos fazendo era loucura, mas hoje estou convicta de que Pirenópolis é um bom lugar para o tipo de arte que fazemos. É uma cidade que tem um fluxo muito interessante de turistas de diferentes partes do Brasil e do mundo. Recebemos diariamente visitantes na galeria. Ganhamos visibilidade, produzimos e vendemos mais. Além disso, notamos que o surgimento de uma galeria de arte contemporânea em uma cidade do interior de Goiás foi de grande importância. Muitos não tinham acesso a esse tipo de expressão e as reações têm sido surpreendentes e estimulantes (A Galeria Matutina Onze recebe a visita não só da comunidade, como de escolas da região para que os alunos tenham contato com a arte contemporânea). Esse ano para mim foi importante para perceber que é possível viver da arte. Trabalhar todos os dias, como artista e empresária da minha própria produção. A maior conquista no âmbito pessoal foi me conhecer e ser reconhecida como artista plástica.”
Glenio também trouxe seus aprendizados: “Nesse primeiro ano tivemos uma produção intensa e muitas surpresas com a criação das obras, com os materiais utilizados e temas abordados. Tudo parece brotar do nosso imaginário poético em relação ao lugar que estamos vivendo. Percebemos que o nosso empreendimento virou uma espécie de provocação para nós mesmos. O período do desafio já passou, vivemos hoje o tempo da motivação, e quando percebemos que a motivação maior é viver o que amamos, tudo parece mais leve. Aprendi a viver, praticamente, em dois tempos: o tempo que parece lento - com a realidade da cultura popular, religiosa e da memória colonial brasileira, e um outro tempo, mais interno, mais reflexivo, com olhar contemporâneo sobre a tradição.”
Provoquei-os com a analogia sobre os pássaros migratórios que se norteiam através de sua bússola interna, perguntando como essa imagem se relacionava com a mudança de rota dos dois. Glenio me respondeu com a seguinte afirmação: “Assim como os pássaros, nós humanos também temos uma intuição que nos impulsiona ou nos faz recuar. Pirenópolis foi a chance de arriscar um tempero que ainda não havíamos experimentado. O mais óbvio seria buscar um grande centro com boas referências no mercado de arte, no entanto, a intuição nos fez investir em algo novo, fora do script no mundo artístico. Fizemos o caminho inverso e partimos da cidade grande para o interior do Planalto Central.”
Encerrei a conversa perguntando, “Em apenas uma frase, o que para vocês é Sucesso?”
Fernanda: “Fazer o que gosto, gostar do que faço e ser reconhecida por isso.”
Glenio: “É atingir uma meta, um sonho realizado.”
E Propósito?
E os dois responderam em sintonia: “É a construção de uma ideia e o desejo de realizá-la.”
Cada dia encontramos mais histórias de pessoas em transição, buscando voos com mais significado e propósito. Imagino que alguns anos para frente, essa época ganhe relevância como um momento de reflexão e despertar. Muitos não tem mais encontrado sentido naquilo que fazem, outros vem buscando nas asas dos pássaros inspiração e coragem para saltar para caminhos de maior realização. Existe ainda um grupo crescente já em pleno voo, pessoas em conexão com o seu interior, como Fernanda Pacca e Glenio Lima, que se deram a chance e o direito de escutar a bússola que aponta o norte, provavelmente pouco percebida, mas presente em todos nós.
Por Luah Galvão
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Idealizadores do Walk and Talk, Luah Galvão e Danilo España deram uma Volta ao Mundo por mais de 2 anos e visitaram 28 países para entender o que Motiva pessoas. Em seguida fizeram o Caminho de Compostela entrevistando peregrinos sobre Superação. Fecharam a tríade de viagens pesquisando “Resiliência” no projeto que batizaram de “Expedição Perú” Compartilham suas descobertas através de palestras e workshops por todo o Brasil.