Entenda os fatores que tiram a competitividade do Brasil
Zeina Latif e Samuel Pessôa destacam que questão ambiental é um dos fatores; mas há outros, como a lenta recuperação e insegurança jurídica
Publicado em 1 de outubro de 2020 às, 10h00.
Última atualização em 6 de outubro de 2020 às, 12h58.
A crise ambiental gerada pelas queimadas no Pantanal, somadas ao cenário de incerteza gerado pela pandemia do novo Coronavírus, ligaram o sinal de alerta para uma situação que já vinha acontecendo, mas pode se agravar a partir de agora: a perda de investimentos externos no país. Mas porque isso acontece e qual o caminho para recuperar esses recursos? O Instituto Millenium conversou com os economistas Samuel Pessôa e Zeina Latif, que comentaram o assunto. Confira!
De acordo com Zeina, o Brasil já perdeu participação no investimento estrangeiro há algum tempo. “Isso é anterior a essa questão. Tem a ver com a performance da economia, o baixo dinamismo, crescimento baixo mesmo após recessão tão severa, as incertezas em relação à questão fiscal, entre outras. Essa questão do meio ambiente é um fator adicional em um ambiente que já é de incertezas. Quando pensamos em investimentos diretos, se trata de não conseguir recursos como outros países em desenvolvimento”, afirmou.
Doutora em Economia pela Universidade de São Paulo, Zeina Latif alertou, no entanto, que apesar de ser um fator que se soma a situações que já vinham ocorrendo, a questão ambiental “veio para ficar” e deve entrar no rol de preocupações da sociedade brasileira, incluindo a agenda econômica global. “Há uma preocupação muito grande. Esse é um valor das novas gerações, felizmente, e se tornou um tema das corporações também. O consumidor quer saber o que está consumindo: se é de um país que respeita o meio ambiente, se aquele consumo de alguma forma implica em degradar a natureza, se há respeito na questão social”, disse, explicando que essa tendência vai crescer ainda mais, se tornando um valor decisivo para países emergentes.
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Professor em pós-graduação de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samuel Pessôa também acredita que a questão ambiental, embora importante, é apenas mais um fator em um país onde ainda reina a insegurança jurídica e um ambiente de negócios ruim. Pessôa destacou, como exemplo mais recente, decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que autorizou a Prefeitura do Rio de Janeiro a encampar a concessão da Linha Amarela, via expressa que liga as zonas norte e oeste da capital fluminense. “Este tipo de decisão tem impacto para investimentos e investidores internacionais, atrapalhando o ambiente de negócios”, disse.
Samuel Pessôa destaca três pontos fundamentais para que essa situação aconteça, impedindo o Brasil de avançar mais no cenário internacional: a própria destruição ambiental; a questão institucional, incluindo o ambiente de negócios, e a instabilidade macroeconômica. “Tivemos, recentemente, uma preocupação imensa com a responsabilidade fiscal. Estamos com câmbio muito fora do lugar, de qualquer parâmetro histórico, e é uma precificação de um desequilíbrio fiscal permanente, estrutural. Há uma deterioração generalizada no ambiente de negócios e institucional e a questão ambiental é um dos itens, mas não é o único”, destacou Samuel Pessôa.
E como sair dessa situação? De acordo com o economista, o caminho é estabelecer um bom caminho de interlocução com o Judiciário e debater os temas, respeitando a independência dos três poderes, mas salvaguardando o ambiente de negócios do Brasil. “É importante que haja aproximação do Ministério da Fazenda com os tribunais superiores para que os ministros consigam entender como a área técnica entende essas questões, garantindo segurança jurídica”, disse.
Com relação à macroeconomia, é preciso, de acordo com Pessôa, criar uma transição rápida entre o orçamento de guerra – por conta da pandemia – e uma realidade compatível com a Emenda Constitucional 95. “Na questão ambiental, é preciso equipar o Estado para fortalecer o combate às queimadas”, sugeriu.
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