Eleições municipais: a importância de ter um padrinho
"Importante ressaltar que fora no expectro ideológico, os tradicionais vermelhos e azuis estão migrando de posição em todo o país"
Publicado em 10 de outubro de 2020 às, 10h59.
Fosse um disputa tradicional em São Paulo, o atual prefeito Bruno Covas, do PSDB, se colocaria na propaganda eleitoral que iniciou hoje de forma plebicitária como alternativa `a volta do PT à administração da cidade.
Isso porque nas últimas oito rodadas, a final da capital paulista teve regras definidas: de um lado disputaram os azuis, com votos concentrados nas áreas mais centrais e ricas da cidade e de outro os vermelhos, com o PT na cabeça de chapa e apoio nas franjas mais pobres.
Este ano, para além de uma campanha esquisita em meio a uma pandemia e da baixa competitividade do candidato do PT, Jilmar Tatto, as peças do tabuleiro foram misturadas de última hora pelo presidente da República, que de personagem secundário dos pleitos municipais, passou a se colocar como protagonista no maior colégio eleitoral do país.
Os motivos para a entrada de Jair Bolsonaro (sem partido) na campanha de São Paulo através do candidato Celso Russomanno (Republicanos) são claros e de olho em 2022. A começar pela tentativa de neutralizar um concorrente estratégico, o governador João Dória, do mesmo PSDB paulista de Covas. Do ponto de vista da fotografia do momento, Bolsonaro não teria com o que se preocupar.
De acordo com a pesquisa EXAME/IDEIA divulgada hoje (realizada com 1200 pessoas, por telefone, entre os dias 5 e 8 de outubro) o presidente lidera tranquilamente o quadro da sua própria sucessão. A aprovação dele oscilou para cima na margem de erro e voltou aos melhores níveis de 2020, com 39%. Mais importante eleitoralmente é que 84% de quem o avalia positivamente está disposto a lhe dar o voto daqui a dois anos, o que sinaliza o alto grau de fidelidade de seus apoiadores.
Mas bicho político não sossega até contar o último voto na urna, e mesmo tendo o dobro de votos que Dória numa simulação de segundo turno (42% a 21%), Bolsonaro aparece hoje na estreia do programa eleitoral de São Paulo sendo citado três vezes no jingle do seu apadrinhado Russomanno.
Mais um candidato que estreiou hoje com padrinho nacional ocupando a maior parte da propaganda eleitoral em São Paulo foi Jilmar Tatto, do PT. Porém, ao contrário do que ocorre desde 1988, desta vez a sigla que tem o ex-presidente Lula como estrela maior terá que lutar para representar os vermelhos, já que este espaço tem chances de ser dominado pelo candidato do PSOL, Guilherme Boulos e até pelo próprio Covas, empurrado mais para a esquerda na comparação ideológica com Russomanno.
Importante ressaltar que fora no expectro ideológico, os tradicionais vermelhos e azuis estão migrando de posição em todo o país, seja pela repercussão do auxílio emergencial na camada mais pobre da população (Nordeste incluído), seja pela crescente importância da presença do eleitorado evangélico na equação.
Assim é que nesta última pesquisa EXAME/IDEIA confirma-se a mutação do perfil de apoiadores de Bolsonaro para uma base mais popular, com 44% de ótimo e bom para os eleitores de baixa escolaridade. Entre os evangélicos, Bolsonaro alcança as impressionantes marcas de 56% de avaliação positiva e de 45% de intenção de voto. Já na comparação com Lula, surge uma distância inédita e favorável a Bolsonaro de 8 pontos percentuais nas classes D e E.
Além da reacomodação das cores tradicionais das peças nos espaços geográfico, econômico e ideológico, um aspecto a ser observado agora será o quanto ter um padrinho se mostrará vantajoso para o candidato ou o quanto a vantagem pesará em favor do próprio padrinho, por ter seu nome e legado propagandeado no período eleitoral.
Em eleições municipais, a princípio o eleitor vota pela continuidade ou não da administração atual, especialmente quando há reeleição, como em São Paulo, onde apesar de Bruno Covas ter sido escolhido como vice-prefeito (o candidato foi Dória), é a sua gestão que está sob julgamento. Assim é que apesar de todo o apoio que dá a Bolsonaro, o eleitor não parece se comover com o pedido de voto do presidente em pleitos municipais.
Segundo a pesquisa EXAME/IDEIA, somente 19% dizem aumentar a chance de votar em determinado(a) candidato(a) em função de um eventual apoio de Bolsonaro. 41% são indiferentes e 36% dizem que o apoio presidencial diminuiria sua chance no(a) apoiado(a).