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Rali dos fertilizantes: grandes empresas compram revendedores (Getty Images/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 18 de outubro de 2022 às 16h46.
Última atualização em 18 de outubro de 2022 às 17h09.
O Brasil passa por uma ampla consolidação de empresas familiares que vendem produtos químicos agrícolas, um processo que pode amenizar a turbulência enfrentada em um importante segmento da cadeia de suprimentos de insumos para produção de alimentos.
Gigantes do agronegócio como Nutrien e Syngenta entram em cena para comprar partes de um setor fragmentado, composto por milhares de pequenas lojas de varejo que vendem desde herbicidas a fertilizantes diretamente a agricultores brasileiros. Pela primeira vez, esses grupos terão controle sobre a trajetória completa desses produtos do porto à fazenda.
No Brasil, o maior importador global de fertilizantes, o mercado para produtos que aumentam a produtividade das safras são acompanhados de perto, já que o país é líder na oferta de muitas commodities, como soja, laranja e açúcar, e depende muito de importações destes insumos para elevar a produção. Qualquer volatilidade nos preços dos produtos químicos agrícolas pode significar uma menor produção e, consequentemente, uma menor oferta de café ou menos óleo de cozinha em outras partes do mundo.
A consolidação poderia facilitar a obtenção de produtos químicos essenciais por agricultores, que poderiam acessar plataformas de grandes players para diversos serviços, como cotações rápidas e agendar entregas. A onda de aquisições coincide com preocupações em torno de cortes no fornecimento de fertilizantes devido à guerra na Ucrânia, que levaram os preços desses produtos a níveis recordes no início do ano.
A tendência tem fortes fatores a favor: há muito dinheiro a ser ganho com a compra dessas empresas menores. Agricultores têm expandido a área plantada e conseguido lucros recordes com os altos preços das commodities agrícolas. Por isso, não estão economizando nos produtos químicos que garantirão maior produção.
“Há uma concorrência acirrada”, disse João Paulo Kriigner Zampieri, fundador e sócio da consultoria ZMP. “Grandes empresas e fundos de private equity continuarão disputando mais espaço nos próximos meses e continuaremos vendo mais aquisições, o que demonstra o tamanho do apetite por esse mercado.”
Multinacionais de fertilizantes, firmas de private equity e tradings adquiriram mais de 50 revendedores locais de produtos químicos no valor de mais de US$ 1 bilhão nos últimos quatro anos, um número sem precedentes. As cifras provavelmente são maiores, mas nem todos os negócios são anunciados.
Ao todo, revendedoras controladas por empresas de private equity ou multinacionais devem faturar mais de R$ 40 bilhões em 2022 em 700 lojas de varejo, segundo estudo feito pela ZMP Consulting. Os compradores incluem a canadense Nutrien, Syngenta, Lavoro, Acqua Capital e AgroGalaxy.
Entre os negócios mais recentes está a oferta da Nutrien pela Casa do Adubo por mais de US$ 200 milhões. Lavoro, o maior player, acaba de anunciar um SPAC e mais dinheiro para aquisições. A Nutrien adquiriu mais de 39 lojas de varejo e 10 centros de distribuição em 11 estados e espera vendas adicionais de US$ 400 milhões, o que elevaria as receitas anuais na América do Sul para US$ 2,2 bilhões.
A Nutrien continuará a se expandir por meio de aquisições, disse a empresa por e-mail. A Yara, uma empresa norueguesa de fertilizantes, destacou em e-mail que busca “oportunidades de crescimento”.
No entanto, o mercado pode começar a esfriar se as negociações ficarem mais difíceis devido às margens atrativas, segundo o consultor agrícola Diogo Mazotini.
“Até alguns meses atrás, víamos corporações comprando outras grandes empresas, e agora vemos uma mudança no perfil de aquisição com alvos mais médios”, afirmou.
Ainda assim, empresas de maior porte estão motivadas a comprar. Quanto mais lojas conseguirem, mais volumes poderão movimentar, o que resulta em lucros maiores por conta das margens baixas.
Por enquanto, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não está preocupado com a concentração de mercado, já que milhares de pequenas lojas ainda estão espalhadas pelo país. Uma análise de mercado do Cade mostrou que a Nutrien, mesmo após a compra da Casa do Adubo, tinha menos de 20% do mercado.
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