Escassez de celulose, com guerra na Ucrânia, empurra preços a nível recorde
Fabricantes na Europa dependem de madeira russa, cuja produção segue impactada por sanções devido à guerra na Ucrânia; paradas inesperadas nos fornecedores retiraram 1,65 milhão de toneladas do mercado
Bloomberg
Publicado em 22 de junho de 2022 às 15h37.
Última atualização em 22 de junho de 2022 às 15h42.
Uma escassez inesperada de celulose empurra os preços da matéria-prima para níveis recordes sem perspectiva de alívio para os fabricantes de papel , segundo a Suzano, maior produtora mundial.
Paradas não programadas de produção nos principais fornecedores retiraram 1,65 milhão de toneladas de celulose do mercado até maio, mais que o dobro da média histórica anual por motivos semelhantes, disse Leonardo Grimaldi, diretor executivo da gigante brasileira de celulose, citando números de consultorias especializadas.
As interrupções no fornecimento são a principal razão para um aumento de 46% nos preços da celulose na China este ano, embora os preços em todos os mercados estejam em níveis recordes e o rali pode não ter acabado, disse Grimaldi em entrevista. Isso faz com que itens essenciais como papel higiênico, fraldas e embalagens de alimentos fiquem mais caros, piorando os problemas de inflação global.
O declínio da produção de celulose foi exacerbado por greves nas usinas da UPM na Finlândia, gargalos logísticos na América do Norte e Ásia e a guerra da Rússia na Ucrânia. Mais interrupções são prováveis com a continuidade da guerra.
Os fabricantes de celulose da Finlândia que dependem de madeira russa sofrem falta de suprimentos por causa das sanções contra a invasão da Ucrânia. As bétulas da Rússia são matéria-prima para 1,2 milhão de toneladas de celulose na Finlândia, disse Grimaldi, citando números de consultores globais.
“Esse é outro buraco no mercado de celulose de fibra curta, e não há como equacioná-lo”, disse Grimaldi. Incluir essa redução de oferta em um ano já apertado resultará em um impacto “gigantesco”, sem resolução no curto e médio prazo, disse. A demanda global por celulose de fibra curta totalizou 36 milhões de toneladas no ano passado.
O caos no transporte marítimo que atrasa embarques em todo o mundo também piora os problemas de fornecimento. Entre 1 milhão e 2 milhões de toneladas de celulose estão com entregas atrasada, disse ele. A logística global piorou com os controles mais rígidos de Covid e a falta de mão de obra, aumentando o tempo de viagem. As companhias de navegação não esperam que a situação melhore por pelo menos seis meses, segundo Grimaldi.
Novos projetos que teriam adicionado 3,6 milhões de toneladas de celulose ao mercado em 2021 e 2022 foram adiados, agravando a escassez, e as datas para o início dessas operações permanecem incertas, disse.
Embora os clientes da Suzano, com sede em São Paulo, tenham carteiras de pedidos cheias até setembro, as perspectivas de demanda enfrentam dois riscos: uma recessão global que pode reduzir o uso de papel e a capacidade dos produtores chineses de repassar os custos mais altos de celulose no segmento de impressão e escrita, de acordo com Grimaldi.
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