EXAME Agro

Apoio:

LOGO TIM 500X313
GOV. MT 500X313
Logo Engie preto
btgpactual-advisors_fc7f32

Como a Ourofino Agrociência quer faturar R$ 2,4 bilhões na safra 2024/25

Safra recorde no Brasil e recuperação das margens podem alavancar resultados da companhia

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 11 de setembro de 2024 às 09h48.

Última atualização em 11 de setembro de 2024 às 10h24.

O professor e consultor do mundo corporativo Peter Drucker afirmou em uma de suas obras que uma organização que não inova corre riscos. Na Ourofino Agrociência, fabricante de defensivos agrícolas de Uberaba, em Minas Gerais, essa máxima é levada a sério, segundo Leonardo Araújo, agrônomo e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D e PDI) da empresa.

Criada em 2010, a companhia originou-se da Ourofino Saúde Animal, uma empresa de capital aberto e listada na bolsa brasileira (B3) e que desenvolve produtos para nutrição animal. Sua fábrica é considerada uma das mais modernas do mundo no segmento justamente por desenvolver produtos, serviços e tecnologias baseados nas características do clima tropical.

Enquanto muitas empresas de defensivos agrícolas desenvolvem suas soluções no exterior e depois as adaptam para o mercado brasileiro, a Ourofino Agrociência adota uma abordagem distinta.

A empresa concentra seus esforços na tropicalização de seus produtos diretamente no Brasil, desenvolvendo modificações inovadoras para atender às condições específicas do país.

Os ajustes incluem maior adesividade, tolerância às chuvas, fotoproteção aprimorada, compatibilidade, melhor absorção e translocação, eficaz transposição da palha para o solo e distribuição otimizada dos ingredientes ativos no local de ação.

"Na nossa modelagem, nós avaliamos o que o produtor precisa para o ambiente de produção e levamos todas essas necessidades para a formulação", afirmou Araújo à EXAME.

No ano fiscal 2023/2024, a receita líquida da Ourofino Agrociência registrou uma queda de 16,5%, totalizando R$ 1,75 bilhão. Além disso, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) sofreu uma redução significativa de 70%, alcançando R$ 87,1 milhões. Ainda que o lucro tenha caído, a participação de mercado da empresa subiu de 2,8% para 3,7%.

O recuo da companhia acompanhou a queda no mercado de commodities, que viu seus preços despencarem. Para o próximo ano fiscal, ou seja, 2024/25, a expectativa é de um faturamento de R$ 2,4 bilhões — uma ambiciosa alta de 37% — e a aposta é na inovação para alavancar esse resultado.

Assim como outras empresas do setor agropecuário, a Ourofino Agrociência enfrentou dificuldades na temporada anterior.

Contudo, para o período atual, a companhia está otimista com a recuperação das margens e espera que as safras recordes de soja e milho no Brasil, como projetam o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e algumas consultorias agrícolas, impulsionem seu crescimento.

"Com a consolidação e fortalecimento das novas tecnologias, através dos produtos, vamos garantir acesso aos grandes clientes estratégicos do Brasil e obter crescimento nas principais culturas do mercado nacional", defende Araújo. E continua. "Muitas empresas do agro estão retomando o seu crescimento. É uma cadeia que está interligada e que tem reflexos positivos para todos do segmento."

Inovação aberta como estratégia

"Com muita liberdade, nós tentamos interpretar as tendências e materializar nossos projetos de forma inteligente e com apoio de tecnologia. Isso tem nos dado uma visão de fazer as coisas de forma diferente", diz Araújo.

De acordo com o diretor, a Ourofino Agrociência atua com o modelo de inovação aberta, uma abordagem de gestão que envolve a colaboração com parceiros externos para desenvolver projetos de inovação. Entre esses parceiros estão universidades, agências de inovação tecnológica, centros de pesquisa e escritórios de transferência tecnológica.

A Ourofino Agrociência tem investido em pesquisa e desenvolvimento, focando em tecnologias que aprimoram a eficiência dos seus produtos e serviços no campo. A empresa conta com uma infraestrutura dedicada, incluindo três estações experimentais.

Sua sede, localizada perto de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, é credenciada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para conduzir estudos avançados.

Além disso, a companhia também dispõe de laboratórios especializados, áreas para criação de pragas e um banco de patógenos, essenciais para o desenvolvimento de novas soluções. A empresa investe 2,3% da sua receita líquida em inovação e sustentabilidade, o que somou quase R$ 47 milhões em 2023/24.

No cenário de inovação, além de realizar investimentos, é crucial que as empresas desenvolvam invenções próprias, como processos ou modelos, e obtenham patentes para garantir seus direitos exclusivos.

A Ourofino Agrociência já possui quatro produtos patenteados pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), que concede a exclusividade para a exploração de invenções. Outros seis produtos estão atualmente em processo de análise pelo órgão – a patente fortalece a posição da empresa no mercado e aumenta sua competitividade.

A rede de inovação da Ourofino Agrociência conta com parcerias estratégicas, incluindo a Embrapa e a Finep, agência pública que apoia o financiamento de inovação.

Entre suas colaborações acadêmicas destacam-se instituições como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, além das universidades Unesp de Sorocaba, Jaboticabal, Botucatu e Universidade Estadual de Londrina (UEL) – a empresa também mantém vínculos com empresas especializadas em pesquisa e desenvolvimento, como BioAtiva, Agro do Mato e Herbae.

"Mergulhamos dentro das universidades brasileiras, que têm muita tecnologia engavetada por falta de recursos. Essa questão da iniciativa privada trabalhando lado a lado com a pública tem dado muito certo para nós", afirma Araújo.

A Ourofino Agrociência firmou uma parceria com hubs de inovação, incluindo o Agtech Innovation, uma iniciativa da PwC focada em inovação no setor do agronegócio.

O projeto, que terá duração de um ano e contará com um investimento inicial de R$ 500 mil, visa desenvolver soluções inovadoras para empresas do setor agropecuário – o objetivo é incorporar a inovação como uma estratégia corporativa central da empresa.

Segundo o diretor de inovação da Ourofino Agrociência, um dos principais obstáculos para aumentar os investimentos é o alto custo do capital no Brasil. Araújo destaca que a taxa Selic, atualmente em 10,50% ao ano, desestimula aportes significativos.

Além disso, ele aponta que a complexidade burocrática, o foco das empresas no cenário global em detrimento do mercado local e a falta de mão de obra qualificada contribuem para a dificuldade em atrair mais investimentos. "Nosso olhar e conhecimento são daqui. Precisamos olhar para dentro primeiro", diz.

Acompanhe tudo sobre:AgrotóxicosAgronegócioInovaçãoInovação AIAgriculturaMinistério da Agricultura e PecuáriaSojaMilho

Mais de EXAME Agro

'Atrasado', La Niña deve chegar em novembro; veja como o Brasil pode ser afetado

Carga pesada e mais cara: preços dos fretes sobem no Sudeste e devem pressionar margem do produtor

Churrasco mais caro: preços da carne bovina devem aumentar até o final do ano

CNA defende maior financiamento e papel estratégico do agro nas ações climáticas