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Estrada construída por judeus dividirá bairro palestino

11 mil habitantes são palestinos, alguns deles com passaporte israelense

Jerusalém: chefe negociador palestino, Saeb Erekat, organizou em março uma visita a Beit Safafa durante uma incomum visita de um dirigente palestino a Jerusalém Oriental (Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2013 às 09h08.

Beit Safafa - A construção de uma estrada para conectar várias colônias judias com a parte ocidental de Jerusalém através do bairro palestino de Beit Safafa - que se trata de uma das poucas áreas que ainda mantinha um ambiente semi-rural e tranquilo na parte oriental da cidade - causou polêmica.

Os moradores de Beit Safafa, agora, olham com impotência enquanto escavadeiras abrem caminho para a nova estrada 'contra a qual perderam a batalha'.

'Não tem mais como voltar atrás', lamenta Mohammed Yadalah, morador da cidade e um dos ativistas contra a construção da estrada que, segundo ele, levou ao confisco de vários quilômetros quadrados de suas terras.

A maior parte do bairro fica em território palestino, apesar de uma pequena parte pertencer a uma área que a comunidade internacional reconhece como de Israel. Além disso, os 11 mil habitantes são palestinos , alguns deles com passaporte israelense.

O chefe negociador palestino, Saeb Erekat, organizou em março uma visita a Beit Safafa durante uma incomum visita de um dirigente palestino a Jerusalém Oriental, acompanhado dos chefes das delegações diplomáticas europeias e latino-americanas da cidade, para que vissem 'com seus próprios olhos' o prejuízo que a nova estrada causará à população local.

'A estrada destruirá a organização social: as crianças já não poderão ir ao colégio andando, os moradores não irão conseguir passear até a mesquita nas sextas-feiras, as famílias ficarão divididas entre os dois lados da estrada, e há um enclave com 50 casas que podem ficar isoladas, sem a possibilidade de chegar até o próprio bairro de carro', explicou à Agência Efe a arquiteta da ONG israelense Bimkom, Sari Kronish.

No total, 13 dos 250 hectares de terras que o bairro ocupa atualmente foram desapropriados na década de 1990, para a construção de uma estrada de 12 metros de largura e que agora será transformada em uma via com largura entre 50 e 180 metros, com seis pistas e 3,5 quilômetros de extensão.


'Desde os anos 90 estamos lutando contra isso. Em 1995, operários israelenses chegaram a começar a derrubar oliveiras, amendoeiras, videiras e outras árvores, algumas com mais de quatro mil anos de idade. Beit Safafa era um oásis, mas o transformaram em uma verdadeira porcaria', afirmou o morador e ativista Mohammed Yadalah.

A pressão popular e internacional conseguiu que as obras fossem paralisadas, mas há cinco meses elas foram retomadas. Um imenso leito para a estrada foi feito no centro do bairro.

A arquiteta da ONG israelense Bimkom, Sari Kronish, explica que os moradores de Beit Safafa não querem que a estrada passe por suas terras, por vários motivos. O principal é o fato de que a via interligará territórios ocupados por Israel e beneficiará apenas os colonos judeus que vivem nos assentamentos próximos a Hebron e a Belém, e não a população palestina que ocupa o bairro.

'Ela ligará a estrada 60 e as colônias de Modin Ilit e Givat Zeev ao bloco de assentamentos de Gush Etzion. É provável que o projeto faça parte da tentativa de fortalecer a denominada 'grande Jerusalém', que inclui as colônias do norte e do sul, como satélites da cidade', disse a arquiteta.

Outro problema é que nenhum projeto urbanístico detalhado foi aprovado, como deveria ter sido, e por isso os moradores não puderam sequer apresentar objeções ao projeto ou pedir compensação pela perda de valor de suas terras.

'A primeira pergunta que deve ser feita é se a estrada é necessária, porque é um projeto com mais de 30 anos, e talvez agora haja alternativas, como a instalação de um sistema de bondes. Caso ela seja imprescindível, deverá ser construída uma passagem para que a população local possa atravessar as pistas. Se fosse um bairro judaico, seria feita uma passagem subterrânea e não haveria discussão', garante a arquiteta.

A prefeitura da cidade argumenta que a via 'é uma estrada importante que cruzará Jerusalém sem a presença de semáforos' e garante que 'os moradores de Beit Safafa se beneficiarão dela e poderão se adaptar facilmente'.


O palestino Ribhe Muaf olha as obras de sua varanda, a 200 metros da cerca repleta de pichações como 'Não à judaização', 'Fora colônias' e 'A prefeitura (de Jerusalém) é criminosa'.

'A estrada passará na frente da minha porta, mas não poderei utilizar nem atravessar. É só para os colonos judeus. Onde é que já se viu? Vou ter que ir à Índia para visitar meu irmão que vive a dois quarteirões. Como vou poder vê-lo? Vou ter que usar um helicóptero?', protesta Muaf.

Além disso, o morador não se conforma em saber que um muro - que as autoridades alegam ser uma medida contra a poluição sonora - será construído ao longo das laterais da estrada. Para ele, este se assemelha a outros muros que dividem e 'isolam' a população na Palestina.

'O muro segue a mesma ideia de outros, a política de Israel de fazer com que todos acreditem que não há ninguém do outro lado dele', afirma Yadalah.

Outro morador, Hussain Idin, funcionário de uma pizzaria, também está convencido de que o projeto é mais político do que logístico, e tem como objetivo 'controlar Jerusalém inteira e modificar sua demografia ao transformá-la em uma cidade exclusivamente judia'. EFE

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Os moradores de Beit Safafa, agora, olham com impotência enquanto escavadeiras abrem caminho para a nova estrada 'contra a qual perderam a batalha'.

'Não tem mais como voltar atrás', lamenta Mohammed Yadalah, morador da cidade e um dos ativistas contra a construção da estrada que, segundo ele, levou ao confisco de vários quilômetros quadrados de suas terras.

A maior parte do bairro fica em território palestino, apesar de uma pequena parte pertencer a uma área que a comunidade internacional reconhece como de Israel. Além disso, os 11 mil habitantes são palestinos , alguns deles com passaporte israelense.

O chefe negociador palestino, Saeb Erekat, organizou em março uma visita a Beit Safafa durante uma incomum visita de um dirigente palestino a Jerusalém Oriental, acompanhado dos chefes das delegações diplomáticas europeias e latino-americanas da cidade, para que vissem 'com seus próprios olhos' o prejuízo que a nova estrada causará à população local.

'A estrada destruirá a organização social: as crianças já não poderão ir ao colégio andando, os moradores não irão conseguir passear até a mesquita nas sextas-feiras, as famílias ficarão divididas entre os dois lados da estrada, e há um enclave com 50 casas que podem ficar isoladas, sem a possibilidade de chegar até o próprio bairro de carro', explicou à Agência Efe a arquiteta da ONG israelense Bimkom, Sari Kronish.

No total, 13 dos 250 hectares de terras que o bairro ocupa atualmente foram desapropriados na década de 1990, para a construção de uma estrada de 12 metros de largura e que agora será transformada em uma via com largura entre 50 e 180 metros, com seis pistas e 3,5 quilômetros de extensão.


'Desde os anos 90 estamos lutando contra isso. Em 1995, operários israelenses chegaram a começar a derrubar oliveiras, amendoeiras, videiras e outras árvores, algumas com mais de quatro mil anos de idade. Beit Safafa era um oásis, mas o transformaram em uma verdadeira porcaria', afirmou o morador e ativista Mohammed Yadalah.

A pressão popular e internacional conseguiu que as obras fossem paralisadas, mas há cinco meses elas foram retomadas. Um imenso leito para a estrada foi feito no centro do bairro.

A arquiteta da ONG israelense Bimkom, Sari Kronish, explica que os moradores de Beit Safafa não querem que a estrada passe por suas terras, por vários motivos. O principal é o fato de que a via interligará territórios ocupados por Israel e beneficiará apenas os colonos judeus que vivem nos assentamentos próximos a Hebron e a Belém, e não a população palestina que ocupa o bairro.

'Ela ligará a estrada 60 e as colônias de Modin Ilit e Givat Zeev ao bloco de assentamentos de Gush Etzion. É provável que o projeto faça parte da tentativa de fortalecer a denominada 'grande Jerusalém', que inclui as colônias do norte e do sul, como satélites da cidade', disse a arquiteta.

Outro problema é que nenhum projeto urbanístico detalhado foi aprovado, como deveria ter sido, e por isso os moradores não puderam sequer apresentar objeções ao projeto ou pedir compensação pela perda de valor de suas terras.

'A primeira pergunta que deve ser feita é se a estrada é necessária, porque é um projeto com mais de 30 anos, e talvez agora haja alternativas, como a instalação de um sistema de bondes. Caso ela seja imprescindível, deverá ser construída uma passagem para que a população local possa atravessar as pistas. Se fosse um bairro judaico, seria feita uma passagem subterrânea e não haveria discussão', garante a arquiteta.

A prefeitura da cidade argumenta que a via 'é uma estrada importante que cruzará Jerusalém sem a presença de semáforos' e garante que 'os moradores de Beit Safafa se beneficiarão dela e poderão se adaptar facilmente'.


O palestino Ribhe Muaf olha as obras de sua varanda, a 200 metros da cerca repleta de pichações como 'Não à judaização', 'Fora colônias' e 'A prefeitura (de Jerusalém) é criminosa'.

'A estrada passará na frente da minha porta, mas não poderei utilizar nem atravessar. É só para os colonos judeus. Onde é que já se viu? Vou ter que ir à Índia para visitar meu irmão que vive a dois quarteirões. Como vou poder vê-lo? Vou ter que usar um helicóptero?', protesta Muaf.

Além disso, o morador não se conforma em saber que um muro - que as autoridades alegam ser uma medida contra a poluição sonora - será construído ao longo das laterais da estrada. Para ele, este se assemelha a outros muros que dividem e 'isolam' a população na Palestina.

'O muro segue a mesma ideia de outros, a política de Israel de fazer com que todos acreditem que não há ninguém do outro lado dele', afirma Yadalah.

Outro morador, Hussain Idin, funcionário de uma pizzaria, também está convencido de que o projeto é mais político do que logístico, e tem como objetivo 'controlar Jerusalém inteira e modificar sua demografia ao transformá-la em uma cidade exclusivamente judia'. EFE

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