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Como o CIO da Bovespa, Luiz Gonzaga Simões, usou a TI para ajudar o mercado de capitais a crescer e dar um salto de modernidade

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h43.

Por duas vezes, Luiz Gonzaga Simões participou da evolução tecnológica da Bolsa de Valores de São Paulo. A primeira em 1975, como analista de sistemas, quando ajudou a criar a rede de comunicação com as corretoras de valores. Depois Simões foi trabalhar no Lloyds e no Citibank. Voltou à Bovespa há 12 anos, os últimos oito como CIO. Seu principal projeto foi o Mega Bolsa, que permitiu um salto no volume de compra e venda de ações. Hoje 100 mil negócios são fechados por dia na Bovespa. Leia, a seguir, trechos da entrevista de Simões a Info CORPORATE.

Info CORPORATE - Quanto a tecnologia da informação é importante para a Bovespa?

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LUIZ GONZAGA SIMÕES - Graças ao bom uso da tecnologia, o mercado de capitais brasileiro vem evoluindo. Há sete anos, eram feitos diariamente em torno de 8 mil negócios de compra e venda de ações, por 1 mil operadores que se digladiavam no pregão viva-voz. Hoje, com o pregão eletrônico, a mesma quantidade de pessoas consegue fazer até 600 mil ofertas de compra e venda por dia, das quais 100 mil são concluídas, sem precisar berrar ao telefone nem fazer sinais com as mãos. A operação acontece em tempo real, no terminal da corretora. Sem tecnologia seria inviável alcançar esse volume.

IC - Quando foi implantado o pregão eletrônico?

SIMÕES - Desde a década de 70, a Bovespa conta com terminais instalados nas corretoras, mas o pregão viva-voz predominava. Em 1996, fizemos uma licitação internacional para um novo sistema eletrônico de negociação de ações. Visitamos 17 bolsas, e escolhemos a solução implementada em Paris, pela Atos Euronext, uma joint venture da Atos Origin com a Bolsa de Paris, que hoje presta serviços a 20 bolsas. Em 1997, antes de o projeto Mega Bolsa entrar em funcionamento, 90% das operações eram presenciais. O encerramento do pregão viva-voz se deu em setembro de 2005. Hoje, no Mega Bolsa, 99% das operações ocorrem em menos de um segundo, num ambiente preparado para recuperação de desastres.

IC - Como garantir essa performance?

SIMÕES - Esse nível de serviço é assegurado pela infra-estrutura de TI, em constante atualização e toda duplicada, pelo acordo de evolução tecnológica com o fornecedor do sistema Mega Bolsa, e também pelas regras de mercado. Explico: a Bovespa é de propriedade das corretoras, que são 92 em todo o país. A ponta de negociação é um servidor alocado na corretora, controlado, gerenciado e contingenciado pela Bovespa. São dois links, de operadoras diferentes e que trafegam por caminhos distintos. Os computadores centrais estão na sede e também no site backup. Todos os procedimentos são duplicados, para que em caso de desastre, parcial ou total, a Bovespa tenha condições de continuar operando. A informação deve chegar ao mesmo tempo a todas as corretoras. E o operador que for mais ágil em colocar a oferta chegará na frente. Se houver fila, o sistema atenderá a ordem de chegada, que é a regra de mercado.

IC - O site de backup é contratado?

SIMÕES - Não, proprietário. É um edifício próprio da Bovespa, construído de 1998 até 2000, que abriga equipamentos e sistemas próprios, desenvolvidos por nós.

IC - Quanto a Bovespa investe anualmente em TI?

SIMÕES - São 20 milhões de reais, valor que tem se mantido constante nos últimos anos. O montante pode ser considerado baixo em relação ao tanto que os grandes bancos costumam aplicar, mas em termos proporcionais é alto. A Bovespa investe 10% de sua receita em tecnologia. A necessidade de investimento é crescente, mas temos procurado aumentar a perfomance e a eficiência com o mesmo orçamento. Uma das iniciativas é sair do mainframe em busca de uma arquitetura flexível, que permita o crescimento da Bovespa tanto na forma vertical, com a adoção de processadores mais velozes, quanto na horizontal, para o melhor aproveitamento das máquinas existentes. Ao todo, são 400 servidores, no edifício central e no site de backup. A nova família de sistemas, nas tecnologias Intel, HP e Microsoft, exige que todas as aplicações sejam refeitas, seguindo uma nova metodologia de desenvolvimento, com a participação das áreas usuárias. O ambiente elaborado dessa forma é mais complexo de administrar, porém mais eficiente do ponto de vista de controle de custos.

IC - Quais atividades são de sua responsabilidade?

SIMÕES - A área de tecnologia atende duas empresas: a Bovespa, para o ambiente de negociação de ações, e a Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia, que faz a entrega, a guarda, o pagamento e a avaliação de risco dos papéis. Todas essas atividades são realizadas em sistemas desenvolvidos e gerenciados internamente. Das 250 pessoas da equipe de TI, metade está dedicada ao desenvolvimento de aplicativos. A outra responde pela produção  (funções técnicas) e suporte 24 por 7 aos usuários da rede Bovespa, ou seja, as corretoras e os vendors (agências de notícia). É nossa obrigação fornecer a esses 150 usuários informações em tempo real. Isso significa 240 milhões de mensagens/dia que tragefam pela rede própria da Bovespa, devidamente criptografadas.

IC - Como é o processo de tomada de decisão?

SIMÕES - Respondo ao CEO (Gilberto Mifano). Porém, todas as decisões são tomadas em conjunto pelas áreas usuárias e de forma integrada. Em 2004, nos adequamos à governança de TI. Criamos um processo formal de demanda, segundo o qual a área usuária deve dizer o que quer, por que e qual retorno o projeto terá para a corporação. Em seguida, minha equipe avalia e leva para decisão do Comitê de Tecnologia. Ao todo, somos nove membros, envolvendo outras áreas de negócios. Já no Comitê de Segurança, vou como participante.

IC - Por que separar tecnologia de segurança da informação?

SIMÕES - Não dá para colocar a raposa e a galinha juntas. Minha equipe tem a preocupação com o desenvolvimento e a produção dos sistemas de negociação e custódia. Já o acompanhamento e o controle de acesso são feitos por outra área, que foi separada de TI em 2003.

IC - Em 24 anos de Bovespa, como você vê a evolução da TI?

SIMÕES - Tecnologia sempre ajudou a fazer a Bovespa crescer. Nunca foi objetivo colocar TI à frente dos negócios. Sinto-me orgulhoso de ter ajudado a bolsa a crescer. Porque às vezes você tem a tecnologia e os recursos, mas o projeto não vinga. Há um esforço grande nos últimos quatro anos de popularização do mercado de capitais, que tem dado resultados também por causa da TI. A participação do investidor pessoa física já é de 30%.

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