A Polícia criou em janeiro deste ano uma divisão especial encarregada de vigiar servidores e usuários, e prevenir "delitos cibernéticos" (Armin Hanisch)
Da Redação
Publicado em 2 de junho de 2011 às 10h27.
Teerã - Reunidos em uma grande sala no interior de uma escola corânica, clérigos de turbantes brancos e estudantes religiosos trabalham diante de uma fileira de computadores.
Financiados e dirigidos pelo Organismo para a Propagação da Ideologia Islâmica, seu ambicioso objetivo é criar a "Wiki-fiqh", uma enciclopédia similar a existente na rede, mas dedicada exclusivamente a divulgar e esclarecer aspectos da filosofia e da religião islâmica.
Sua meta é colocar o Islã no ciberespaço "em um momento no qual a rápida comunicação eletrônica conecta gente de todo o mundo" e quando as redes sociais são "fonte de saber e fórum de discussão acadêmica", explica seu diretor, o clérigo Mehdi Khamoushi.
A "Wiki-fiqh" é um dos exemplos mais claros dos dois pesos e duas medidas com o qual o regime iraniano trata a internet - um país com mais de 20 milhões de usuários, milhões de sites censurados e ataques constantes às liberdades de expressão.
A última novidade nesse campo é o projeto para a criação de uma gigantesca rede doméstica nacional para isolar os iranianos do resto da malha mundial e facilitar ao regime a tarefa de controlar o fluxo de informação que navega pela internet.
O diretor do Ministério de Telecomunicações iraniano, Reza Bagheri, ressaltou que em breve 60% das casas e empresas iranianas estarão conectadas a essa rede nacional.
Apenas órgãos governamentais, instituições religiosas, projetos como "Wiki-fiqh" e meios de comunicação de propaganda externa seguirão vinculados à rede internacional.
"Este é o penúltimo dos ataques à liberdade das pessoas deste regime. Mas, como em outras vezes, nos anteciparemos. Se fizermos uma nova lei, faremos uma nova armadilha", afirmou à Agência Efe o dono de um cybercafé do norte de Teerã, que pediu para não ser identificado.
Uma rápida olhada na loja permite comprovar que mais da metade dos clientes, todos jovens, consultam redes sociais como o Facebook. Evidentemente, todas as máquinas estão equipadas com algum tipo de programa para driblar a censura oficial, que tem bloqueado o acesso à rede social e a outros milhões de sites.
Sem esses programas, um usuário interessado em consultar jornais como o britânico "The Guardian" e o espanhol "El País", é redirecionado para um site do Estado advertindo que visitá-los infringe a lei e recomenda paginas alternativas, como uma sobre o Corão.
Apesar da Polícia iraniana avisar que o uso destes programas constitui um delito, seu emprego é comum tanto em cybercafés quanto em domicílios. "Não, não tenho medo que me prendam ou fechem o local. Acho que é um direito pelo qual vale à pena nos arriscar", insiste o dono do estabelecimento.
A guerra cibernética se intensificou com os protestos posteriores às eleições de 2009, quando as autoridades tentaram impedir a difusão de vídeos e o acesso às redes sociais com uma redução drástica da velocidade de download e upload de arquivos.
No marco desta queda-de-braço entre a sociedade e o regime, a Polícia criou em janeiro deste ano uma divisão especial encarregada de vigiar servidores e usuários, e prevenir "delitos cibernéticos".
Além disso, a Guarda Revolucionária, tropa de elite das Forças de Segurança iranianas e braço ideológico do regime, tem uma divisão similar, que se vangloria de ter pirateado 29 sites "que espionavam para os Estados Unidos".