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Pirataria do futebol passa dos PCs à TV com conversores

As vendas de conversores que podem ser ligados diretamente aos televisores para exibir jogos e filmes pirateados aumentaram nos últimos meses


	Televisão: crescimento das vendas de conversores ameaça as receitas das ligas de futebol e de emissoras
 (Stock.xchng)

Televisão: crescimento das vendas de conversores ameaça as receitas das ligas de futebol e de emissoras (Stock.xchng)

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Da Redação

Publicado em 8 de maio de 2015 às 20h29.

Madri - Em seus 32 anos como policial, John McGowan supervisionou investigações de assassinatos, tráfico de drogas e terrorismo.

Atualmente, a maior parte de sua apuração se resume a assistir futebol em pubs e hotéis.

Depois que se aposentou, 15 anos atrás, como superintendente de polícia na Escócia, McGowan começou a trabalhar para uma empresa que caça transmissões não autorizadas de jogos de futebol e eventos de outros esportes -- um emprego que se tornou mais complexo nos últimos tempos com as vendas crescentes de conversores que podem ser ligados diretamente aos televisores para exibir jogos e filmes pirateados.

“Tem muito trabalho de detetive do jeito antigo”, disse McGowan, diretor de operações da Glasgow ID Inquiries, que realiza investigações para a Premier League inglesa. “Caminhar por aí, ir a pubs para ver o que eles estão exibindo, prestar atenção”.

As vendas dos aparelhos, que podem custar apenas US$ 30 pela caixa mais um ano de programação, aumentaram nos últimos meses, segundo a empresa de pesquisa Irdeto USA Inc.

A empresa diz que o número de sites que os vendem mais do que duplicou desde novembro, para quase 450, e que novos sites estão surgindo diariamente. Mais de 2,4 milhões de conversores ilegais estão em uso em todo o mundo, estima a Irdeto.

Prejuízo para as emissoras

O crescimento ameaça as receitas das ligas de futebol e de emissoras como a Sky Plc e a BT Group Plc., que em fevereiro fechou um acordo para pagar 5,1 bilhões de libras (US$ 7,7 bilhões) pelos direitos de transmitir os jogos de futebol da Premier League inglesa ao vivo no Reino Unido por três anos.

Se todos os que possuem um conversor ilegal pagassem o preço cheio de uma assinatura, as emissoras teriam pelo menos US$ 553 milhões por ano em novas receitas, estima a Irdeto.

Um conversor hackeado pode ser adquirido na internet, geralmente de vendedores da China. Quando o aparelho chega, para colocá-lo em funcionamento é preciso pouco mais que plugar um cabo na TV e outro na internet.

Os fornecedores configuram a caixa para que receba automaticamente – e de forma ilegal -- conteúdo de empresas pay-per-view como a Sky Plc ou a Promotora de Informaciones SA, a Prisa, da Espanha, que transmite as partidas espanholas.

Os vendedores normalmente pagam uma única assinatura legal para as transmissões, alimentam assim um servidor em algum lugar -- muitas vezes na China ou na antiga União Soviética -- e depois direcionam a programação para quem comprar suas caixas. Isso dá aos usuários acesso aos jogos de equipes como Manchester United e Real Madrid sem terem assinatura da Sky ou da Prisa, que cobram até 47 libras (US$ 70) por mês por sua programação esportiva.

Investigação contra pirataria

Até cerca de dois anos atrás, a maior parte da pirataria era feita por meio de streaming para um computador, disse Rory O’Connor, vice-presidente da Irdeto.

Os conversores oferecem diversas vantagens: não enchem a tela com anúncios pop-up, as TVs não ficam vulneráveis aos vírus que podem ameaçar os PCs e o sinal não desaparece ou fica congelado, como em muitas transmissões pela internet.

“As pessoas podem obter serviços de alta definição que são mais estáveis do que o streaming pela internet. Pode ser muito difícil notar a diferença entre um serviço pirata e um serviço legal”, disse O’Connor.

Nos últimos anos, as polícias e os tribunais de dezenas de países desativaram sites que retransmitiam programas ao vivo sem permissão -- a Premier League diz que bloqueou 45.000 em todo o mundo na última temporada --, mas os piratas muitas vezes ressurgem com nomes diferentes.

As pessoas que compram as caixas para assistir em casa enfrentam alguns riscos legais, embora pequenos, segundo Samuel Parra, um advogado espanhol especializado em lei cibernética.

“É muito difícil ir atrás do usuário, mas a lei está sendo aperfeiçoada na Espanha e em outras partes da Europa para tornar isso mais fácil”, disse Parra.

Os conversores abrem uma nova frente na luta contra a pirataria. A mudança mostra que aqueles que vendem transmissões ilegais estão buscando novos modelos de negócio e adotando medidas para ficar ainda mais fácil para os compradores assistirem, segundo Alex Martínez Roig, diretor-geral de conteúdo da Prisa.

“Esses piratas não jogam de acordo com as regras”, disse Martínez Roig. “Nós ainda não encontramos uma forma de agir contra eles. Isto é mais novo e mais perigoso que o streaming”.

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