Indústria brasileira de software se parece com a chinesa, diz presidente mundial da Intel
O presidente mundial da Intel, Craig Barrett, afirma que o Brasil é um dos países com grande potencial de crescimento em tecnologia da informação. Mas, ao contrário de Índia e Israel, cujos setores tecnológicos sempre foram voltados para o exterior por causa do reduzido mercado interno, a indústria de software brasileira ainda está voltada para […]
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h39.
O presidente mundial da Intel, Craig Barrett, afirma que o Brasil é um dos países com grande potencial de crescimento em tecnologia da informação. Mas, ao contrário de Índia e Israel, cujos setores tecnológicos sempre foram voltados para o exterior por causa do reduzido mercado interno, a indústria de software brasileira ainda está voltada para dentro. Barrett diz que, como a China, o Brasil precisa aprender a se abrir. Mas ele também aponta várias diferenças entre os dois países. Leia abaixo a entrevista exclusiva que Barrett concedeu a EXAME da última vez que passou por São Paulo.
Quanto vocês já investiram em software? Por que investem em software e como decidem esses investimentos?
Se você olhar para os investimentos da Intel, verá que eles sempre são de quatro tipos. Primeiro, no departamento da Intel onde criamos produtos. Segundo, em capacidade industrial para poder produzir esses produtos. Terceiro, na marca. E o quarto tipo são os investimento do nosso fundo Intel Capital na tecnologia complementar que cerca nossa linha de produtos. Tome o mais recente produto apresentado, a tecnologia móvel para o chip Centrino. Os investimentos de Pesquisa e Desenvolvimento criam os processadores e a tecnologia sem fio. Os industriais obviamente os fabricam. A marca é nossa maior marca em campanha. E, na quarta parte, temos os US$ 150 bilhões da Intel Capital para investir em tecnologias associadas, algumas orientadas para o serviço, outras para software, outras ainda orientadas para desenvolver a infra-estrutura inteira. Sempre que fazemos alguma coisa, há uma combinação de serviço, hardware, produtos, software. Seria difícil fazer uma lista, entre os bilhões de dólares que investimos, do que é hardware e do que é software, porque sempre há um pouco de combinação. Mas é um investimento para apoiar nossos produtos. Assim, no caso do Centrino, procuramos as aplicações de software para usar as vantagens daquela tecnologia de telefonia móvel. Vamos trabalhar com quem crie a tecnologia sem fio e, assim, trabalhamos para tentar criar a infra-estrutura de apoio ao produto. É quase como se você tivesse uma cadeira de quatro pernas para qualquer coisa que fazemos e as pernas são formadas de desenvolvimento, produção, marca. A Intel Capital é a quarta perna.
E a distribuição geográfica desses investimentos? Como o senhor compararia aos países onde estão, como Índia, China, Israel ou Irlanda?
A Irlanda é principalmente um investimento industrial e não tanto um investimento da Intel Capital, assim podemos excluir a Irlanda. Hoje aproximadamente 50% de nossos investimentos estão fora dos Estados Unidos. Isso está bem acima dos números dos últimos anos. Dois anos atrás, 80% do investimento era dentro dos Estados Unidos, e 20%, fora. Agora a proporção é de aproximadamente 50-50%. Espero que os investimentos internacionais continuem crescendo. Se você olhar para países como China, Índia e Israel verá que eles são provavelmente um pouco mais bem servidos para o investimento de capital de risco hoje que o brasil. O mercado de capitais é talvez mais desenvolvido, assim como a infra-estrutura para desenvolver idéias básicas, transformar conceitos em produtos e levar os produtos aos consumidores. Algumas das regras de governo e políticas de imposto são mais desenvolvidas para promover o investimento, como a facilidade de montar empresas e de abrir o capital na bolsa de valores. Nenhum desses problemas é insolúvel, mas todas estas são áreas em que o Brasil poderia aprender com outros países.
Em termos de tecnologia, como o senhor avaliaria o Brasil em comparação com esses países. Em que fase tecnológica estamos? Como poderíamos nos desenvolver?
Vocês tem bons negócios de aviação...( risos )
Esse é o único exemplo?
Bem, nós compramos, por isso é muito competitivo ( risos ). Li alguns estudos recentemente sobre a industria de software do brasil. Eles sugerem que há aqui uma indústria de software bem-capacitada. Provavelmente o que mais promoveu o desenvolvimento no Brasil foi a informatização bancária. O governo também tem sido agressivo em se adaptar à tecnologia. Então, acho que a industria de software cresceu aqui e se tornou capaz, inovadora e muito competente. Há cada vez mais gente se graduando em universidades a cada ano. O único desafio é usar essa capacidade de base no mercado internacional.
A maior parte de nossos códigos não é certificada pelos padrões internacionais, mas há empresas certificadas. Qual a importância disso?
No fim das contas é importante, mas, se você olhar para os códigos nos Estados Unidos, muitas empresas também não estão certificadas. Até na Europa. As empresas indianas são muito agressivas nessa área, e eles têm a grande maioria das certificações. Mas isso pode ser acomodado se as empresas quiserem resolver a questão. Elas podem fazer exatamente o que a Intel faz hoje para certificar a criação de software. Não acho que isso represente uma barreira.
No ano passado, 97% das declarações de imposto de renda foram enviadas pela internet. Se o senhor olhar a quantidade de pessoas que usam a internet para pagar contas, verá que, proporcionalmente, ultrapassamos os Estados Unidos. Isso não é algo trivial em termos de internet.
Claro que não.
Por que não então mandamos nosso software para os bancos americanos, franceses, alemães ou chineses? Pelo menos nessa área temos muito potencial de competência.
As oportunidades existem, se as companhias forem atrás, procurarem as oportunidades para vender para o resto do mundo e obviamente usarem as fontes internacionais. Talvez o foco interno em tecnologia da informação e nos sistemas bancários eletrônicos, todas essas iniciativas governamentais, de imposto de renda etc., sejam tanto bênçãos quanto maldições. Os empresários devem focar pesadamente a capacidade de software para atender à demanda interna enquanto não tiverem necessidade de sair do mercado. Se você for para a Índia por exemplo, não há paralelo. Não há atividade interna. Quem se gradua nas universidades ou no institutos de tecnologia naturalmente migra para o software porque software é uma tecnologia muito mais barata. Então há gente com essa capacidade sem que o pais faça uso dela internamente. Aí eles têm de vendê-la lá fora e obviamente vão para os Estados Unidos, para a Europa e para outros países...
... porque o mercado indiano é muito pequeno. A mesma coisa se aplica a Israel?
O mercado israelense é relativamente pequeno. E obviamente em Israel você não vê somente software, mas também muitas parcerias. Tudo é feito para o mercado externo. A população de israel é pequena e o consumo é trivial, comparado ao resto do mercado de tecnologia da informação.
Então o país mais similar ao Brasil seria a China?
Até certo ponto a China seria uma boa comparação. Embora eu pense que há obviamente algumas diferenças significativas. A China tem um governo muito centralizado capaz de dirigir investimentos. Ambos os países são fortes, têm boa educação e boas universidades. A china tem uma população bem maior, e mais pessoas se graduam em engenharia todos os anos do que o brasil. Eles não têm historicamente um grande consumo interno, porém nos últimos poucos anos o consumo interno cresceu dramaticamente na China. Eles são hoje os maiores consumidores de celular do mundo, o segundo maior mercado de PCs do mundo. Estão construindo o sistema de infra-estrutura de comunicação muito rápido. Têm aproximadamente 25 milhões de novas linhas telefônicas a cada ano. A china é hoje tanto um consumidor razoável como um produtor.
O que o senhor acha que podemos aprender com esses países? Há alguma lição objetiva?
Tenho algumas sugestões que continuo a fazer ao governo brasileiro. Primeiro, ele deveria ratificar o acordo internacional de tecnologia de informação (ITA, ou Information Technology Agreement). O Brasil é um dos poucos países do mundo que ainda não concordaram com zero porcento de tarifa sobre tecnologia e capacidade de comunicação, e vocês deveriam se juntar ao resto do mundo. E há outras políticas que tornariam a infra-estrutura industrial menos cara aqui e mais integrada ao resto do mundo. O governo tem de começar a olhar para a sua política para promover as exportações, a exemplo do que fazem a China e a Índia, dois governos muito orientados para a exportação.
Que tipo de política, por exemplo? Suponhamos, por um momento, que o senhor estivesse no alto do governo brasileiro. O que faria?
Eu declararia minha adesão ao ITA. Continuaria a promover pesquisas nas universidades nas áreas ligadas a tecnologia da informação. E talvez promovesse alguns investimentos ou concedesse créditos para levar as empresas a investir na área, além de tentar fortalecer a exportação.
No que tange as universidades, o senhor adotaria uma políticas de cobrança de desempenho? Como avaliaria as universidades? Como faria para ter certeza de que estas pessoas estão sendo direcionadas para os lugares certos no mercado?
Não estou certo de que seja desejável impor restrições sobre os lugares, mas acredito que tudo possa funcionar como nas universidades dos Estados Unidos. Há bases puras para os propósitos de pesquisa.
Uma dos fatores importantes do desenvolvimento tecnológico seria então a independência da comunidade científica?
O papel de qualquer país deveria ser promover pesquisas. Alguém tem de fazer isso, julgar a qualidade, e isso deveria ser feito pela comunidade científica. Não acho que se deva apenas fixar uma política industrial para saber aonde se quer chegar. Dá para dizer: quero financiar projetos na área de computadores de alta performance ou tecnologia sem fio, por exemplo. Então você deixa os especialistas técnicos julgarem a competência da pesquisa para decidir se ela vai obter fundos ou não.
O Brasil tem feito pesquisas nas universidades. Um passo adiante seria a ligação entre universidade e indústria. Temos várias pesquisas em andamento, mas freqüentemente elas não traduzem uma necessidade da indústria.
Essa questão das pesquisas nunca terá fim. Sempre haverá desencontros entre as pesquisas e as industrias. as companhias maiores, como a Intel, podem contribuir para pesquisas nas universidades, e então você terá intercâmbio entre pesquisadores e indústrias em ambas as direções. Haverá professores passando algum tempo nas empresas, pesquisadores da empresa passando algum tempo na universidade.
Houve muito barulho quando vocês decidiram instalar uma fábrica na Costa Rica. Mas não era um centro de pesquisas, algo que seria muito mais significativo para o país. A Microsoft no ano passado estabeleceu um ponto de pesquisas em Petrópolis. O senhor vê a intel estabelecendo pontos de pesquisa no Brasil? Quais seriam as condições para que isso ocorresse?
Na verdade, está ocorrendo. Temos laboratórios em três universidades brasileiras, basicamente para desenvolver tecnologia sem fio. Há planos de gastar mais em áreas de computação de alta performance, pesquisas medicas, pesquisas em engenharia. Temos um projeto de rede sem fio, lançado no ano passado, com a Universidade Federal de Pernambuco e a Unesp. Também fizemos doações e trabalhamos com algumas universidades em comércio eletrônico. Neste ano, a Intel Capital assinou um acordo com a PUC-RJ para promover algumas atividades do programa Gênesis.
O presidente mundial da Intel, Craig Barrett, afirma que o Brasil é um dos países com grande potencial de crescimento em tecnologia da informação. Mas, ao contrário de Índia e Israel, cujos setores tecnológicos sempre foram voltados para o exterior por causa do reduzido mercado interno, a indústria de software brasileira ainda está voltada para dentro. Barrett diz que, como a China, o Brasil precisa aprender a se abrir. Mas ele também aponta várias diferenças entre os dois países. Leia abaixo a entrevista exclusiva que Barrett concedeu a EXAME da última vez que passou por São Paulo.
Quanto vocês já investiram em software? Por que investem em software e como decidem esses investimentos?
Se você olhar para os investimentos da Intel, verá que eles sempre são de quatro tipos. Primeiro, no departamento da Intel onde criamos produtos. Segundo, em capacidade industrial para poder produzir esses produtos. Terceiro, na marca. E o quarto tipo são os investimento do nosso fundo Intel Capital na tecnologia complementar que cerca nossa linha de produtos. Tome o mais recente produto apresentado, a tecnologia móvel para o chip Centrino. Os investimentos de Pesquisa e Desenvolvimento criam os processadores e a tecnologia sem fio. Os industriais obviamente os fabricam. A marca é nossa maior marca em campanha. E, na quarta parte, temos os US$ 150 bilhões da Intel Capital para investir em tecnologias associadas, algumas orientadas para o serviço, outras para software, outras ainda orientadas para desenvolver a infra-estrutura inteira. Sempre que fazemos alguma coisa, há uma combinação de serviço, hardware, produtos, software. Seria difícil fazer uma lista, entre os bilhões de dólares que investimos, do que é hardware e do que é software, porque sempre há um pouco de combinação. Mas é um investimento para apoiar nossos produtos. Assim, no caso do Centrino, procuramos as aplicações de software para usar as vantagens daquela tecnologia de telefonia móvel. Vamos trabalhar com quem crie a tecnologia sem fio e, assim, trabalhamos para tentar criar a infra-estrutura de apoio ao produto. É quase como se você tivesse uma cadeira de quatro pernas para qualquer coisa que fazemos e as pernas são formadas de desenvolvimento, produção, marca. A Intel Capital é a quarta perna.
E a distribuição geográfica desses investimentos? Como o senhor compararia aos países onde estão, como Índia, China, Israel ou Irlanda?
A Irlanda é principalmente um investimento industrial e não tanto um investimento da Intel Capital, assim podemos excluir a Irlanda. Hoje aproximadamente 50% de nossos investimentos estão fora dos Estados Unidos. Isso está bem acima dos números dos últimos anos. Dois anos atrás, 80% do investimento era dentro dos Estados Unidos, e 20%, fora. Agora a proporção é de aproximadamente 50-50%. Espero que os investimentos internacionais continuem crescendo. Se você olhar para países como China, Índia e Israel verá que eles são provavelmente um pouco mais bem servidos para o investimento de capital de risco hoje que o brasil. O mercado de capitais é talvez mais desenvolvido, assim como a infra-estrutura para desenvolver idéias básicas, transformar conceitos em produtos e levar os produtos aos consumidores. Algumas das regras de governo e políticas de imposto são mais desenvolvidas para promover o investimento, como a facilidade de montar empresas e de abrir o capital na bolsa de valores. Nenhum desses problemas é insolúvel, mas todas estas são áreas em que o Brasil poderia aprender com outros países.
Em termos de tecnologia, como o senhor avaliaria o Brasil em comparação com esses países. Em que fase tecnológica estamos? Como poderíamos nos desenvolver?
Vocês tem bons negócios de aviação...( risos )
Esse é o único exemplo?
Bem, nós compramos, por isso é muito competitivo ( risos ). Li alguns estudos recentemente sobre a industria de software do brasil. Eles sugerem que há aqui uma indústria de software bem-capacitada. Provavelmente o que mais promoveu o desenvolvimento no Brasil foi a informatização bancária. O governo também tem sido agressivo em se adaptar à tecnologia. Então, acho que a industria de software cresceu aqui e se tornou capaz, inovadora e muito competente. Há cada vez mais gente se graduando em universidades a cada ano. O único desafio é usar essa capacidade de base no mercado internacional.
A maior parte de nossos códigos não é certificada pelos padrões internacionais, mas há empresas certificadas. Qual a importância disso?
No fim das contas é importante, mas, se você olhar para os códigos nos Estados Unidos, muitas empresas também não estão certificadas. Até na Europa. As empresas indianas são muito agressivas nessa área, e eles têm a grande maioria das certificações. Mas isso pode ser acomodado se as empresas quiserem resolver a questão. Elas podem fazer exatamente o que a Intel faz hoje para certificar a criação de software. Não acho que isso represente uma barreira.
No ano passado, 97% das declarações de imposto de renda foram enviadas pela internet. Se o senhor olhar a quantidade de pessoas que usam a internet para pagar contas, verá que, proporcionalmente, ultrapassamos os Estados Unidos. Isso não é algo trivial em termos de internet.
Claro que não.
Por que não então mandamos nosso software para os bancos americanos, franceses, alemães ou chineses? Pelo menos nessa área temos muito potencial de competência.
As oportunidades existem, se as companhias forem atrás, procurarem as oportunidades para vender para o resto do mundo e obviamente usarem as fontes internacionais. Talvez o foco interno em tecnologia da informação e nos sistemas bancários eletrônicos, todas essas iniciativas governamentais, de imposto de renda etc., sejam tanto bênçãos quanto maldições. Os empresários devem focar pesadamente a capacidade de software para atender à demanda interna enquanto não tiverem necessidade de sair do mercado. Se você for para a Índia por exemplo, não há paralelo. Não há atividade interna. Quem se gradua nas universidades ou no institutos de tecnologia naturalmente migra para o software porque software é uma tecnologia muito mais barata. Então há gente com essa capacidade sem que o pais faça uso dela internamente. Aí eles têm de vendê-la lá fora e obviamente vão para os Estados Unidos, para a Europa e para outros países...
... porque o mercado indiano é muito pequeno. A mesma coisa se aplica a Israel?
O mercado israelense é relativamente pequeno. E obviamente em Israel você não vê somente software, mas também muitas parcerias. Tudo é feito para o mercado externo. A população de israel é pequena e o consumo é trivial, comparado ao resto do mercado de tecnologia da informação.
Então o país mais similar ao Brasil seria a China?
Até certo ponto a China seria uma boa comparação. Embora eu pense que há obviamente algumas diferenças significativas. A China tem um governo muito centralizado capaz de dirigir investimentos. Ambos os países são fortes, têm boa educação e boas universidades. A china tem uma população bem maior, e mais pessoas se graduam em engenharia todos os anos do que o brasil. Eles não têm historicamente um grande consumo interno, porém nos últimos poucos anos o consumo interno cresceu dramaticamente na China. Eles são hoje os maiores consumidores de celular do mundo, o segundo maior mercado de PCs do mundo. Estão construindo o sistema de infra-estrutura de comunicação muito rápido. Têm aproximadamente 25 milhões de novas linhas telefônicas a cada ano. A china é hoje tanto um consumidor razoável como um produtor.
O que o senhor acha que podemos aprender com esses países? Há alguma lição objetiva?
Tenho algumas sugestões que continuo a fazer ao governo brasileiro. Primeiro, ele deveria ratificar o acordo internacional de tecnologia de informação (ITA, ou Information Technology Agreement). O Brasil é um dos poucos países do mundo que ainda não concordaram com zero porcento de tarifa sobre tecnologia e capacidade de comunicação, e vocês deveriam se juntar ao resto do mundo. E há outras políticas que tornariam a infra-estrutura industrial menos cara aqui e mais integrada ao resto do mundo. O governo tem de começar a olhar para a sua política para promover as exportações, a exemplo do que fazem a China e a Índia, dois governos muito orientados para a exportação.
Que tipo de política, por exemplo? Suponhamos, por um momento, que o senhor estivesse no alto do governo brasileiro. O que faria?
Eu declararia minha adesão ao ITA. Continuaria a promover pesquisas nas universidades nas áreas ligadas a tecnologia da informação. E talvez promovesse alguns investimentos ou concedesse créditos para levar as empresas a investir na área, além de tentar fortalecer a exportação.
No que tange as universidades, o senhor adotaria uma políticas de cobrança de desempenho? Como avaliaria as universidades? Como faria para ter certeza de que estas pessoas estão sendo direcionadas para os lugares certos no mercado?
Não estou certo de que seja desejável impor restrições sobre os lugares, mas acredito que tudo possa funcionar como nas universidades dos Estados Unidos. Há bases puras para os propósitos de pesquisa.
Uma dos fatores importantes do desenvolvimento tecnológico seria então a independência da comunidade científica?
O papel de qualquer país deveria ser promover pesquisas. Alguém tem de fazer isso, julgar a qualidade, e isso deveria ser feito pela comunidade científica. Não acho que se deva apenas fixar uma política industrial para saber aonde se quer chegar. Dá para dizer: quero financiar projetos na área de computadores de alta performance ou tecnologia sem fio, por exemplo. Então você deixa os especialistas técnicos julgarem a competência da pesquisa para decidir se ela vai obter fundos ou não.
O Brasil tem feito pesquisas nas universidades. Um passo adiante seria a ligação entre universidade e indústria. Temos várias pesquisas em andamento, mas freqüentemente elas não traduzem uma necessidade da indústria.
Essa questão das pesquisas nunca terá fim. Sempre haverá desencontros entre as pesquisas e as industrias. as companhias maiores, como a Intel, podem contribuir para pesquisas nas universidades, e então você terá intercâmbio entre pesquisadores e indústrias em ambas as direções. Haverá professores passando algum tempo nas empresas, pesquisadores da empresa passando algum tempo na universidade.
Houve muito barulho quando vocês decidiram instalar uma fábrica na Costa Rica. Mas não era um centro de pesquisas, algo que seria muito mais significativo para o país. A Microsoft no ano passado estabeleceu um ponto de pesquisas em Petrópolis. O senhor vê a intel estabelecendo pontos de pesquisa no Brasil? Quais seriam as condições para que isso ocorresse?
Na verdade, está ocorrendo. Temos laboratórios em três universidades brasileiras, basicamente para desenvolver tecnologia sem fio. Há planos de gastar mais em áreas de computação de alta performance, pesquisas medicas, pesquisas em engenharia. Temos um projeto de rede sem fio, lançado no ano passado, com a Universidade Federal de Pernambuco e a Unesp. Também fizemos doações e trabalhamos com algumas universidades em comércio eletrônico. Neste ano, a Intel Capital assinou um acordo com a PUC-RJ para promover algumas atividades do programa Gênesis.