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Governança dá trabalho

Como Luciano Corsini, CIO da Visanet, tirou do papel um extenso programa de reestruturação da TI

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h39.

Um pedaço de papel-toalha rabiscado na lanchonete Fran's Café contém a essência da estratégia de governança de TI da Visanet, empresa que opera as transações realizadas com cartões Visa em 1 milhão de estabelecimentos comerciais no Brasil. Os tópicos foram escritos por Luciano Corsini, diretor executivo de tecnologia da Visanet, e entregues a Gianni Ricciardi, especialista em governança que, desde aquele café, em dezembro de 2005, guardou o papel na carteira e aceitou o convite para chefiar o projeto na Visanet.

"Sem um líder para tocar bumbo, governança de TI não acontece, pois a prioridade da tecnologia sempre será atender as demandas de negócio", diz Corsini. Segundo ele, não adianta ter pressa. A perspectiva é que o programa, organizado em 12 planos de ação, seja concluído somente em 2008. Corsini falou sobre a empreitada rumo à governança em entrevista concedida a Info CORPORATE.

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Info CORPORATE - Como manter um projeto de governança dentro do escopo e do orçamento?

CORSINI - Governança não é bem um projeto, está mais para um programa, dada a sua amplitude e complexidade. Na Visanet, a perspectiva de implantação da governança é de três anos, período em que serão realizados 12 planos de ação. Cada qual está sob a coordenação de um gestor, que são os próprios gerentes das áreas de TI, como sistemas, infra-estrutura e telecomunicações, entre outras. Mas eles já têm tantas responsabilidades nas operações do dia-a-dia que fica complicado colocar um programa de governança de TI em marcha de forma linear, sincronizada. Não acontece assim. Então, a primeira decisão de investimento foi contratar um líder, com uma visão horizontal de todas as áreas. Ele é quem garante que cada gestor faça seu pedaço no prazo e como será a junção com o todo. Esse líder é um batedor de bumbo.

IC - Como foi colocar isso na prática?

CORSINI - Para pôr na prática os conceitos, partimos para um segundo investimento, que foi uma análise de gaps feita em conjunto com o fornecedor CPqD. O objetivo era ter uma visão da situação e outra de prioridades, procurando tirar o melhor benefício no menor tempo e com uma relação entre custo e benefício adequada. A idéia era nos antecipar a uma auditoria que por ventura ocorresse. Mas não seria justo contrapor nossos processos aos do Cobit, que ainda não era praticado, mas que seria usado como modelo de referência. O levantamento de gaps durou 51 dias e, ao final, desenhamos os planos de ação, com uma visão de tempo e de esforço. O programa foi comunicado para a companhia. Mas mostramos que governança de TI não dá resultados no mês seguinte.

IC - Quais são os planos de ação em andamento?

CORSINI - Em janeiro, entraram em execução os planos de ação (PA) prioritários para 2006. O PA00 é o próprio desenho da governança. O PA01, em conclusão, é o planejamento estratégico de tecnologia. Ele já emenda com o PA02, que é a organização de TI para suportar essa estratégia, que por sua vez está alinhada às necessidades corporativas da companhia, atuais e futuras. O PA03 é a estruturação dos serviços em si.

IC - Será um catálogo de serviços?

CORSINI - O catálogo de serviços de TI é um dos entregáveis desse plano, denominado Alinhamento da demanda de TI. Ele inclui gestão da demanda e gestão da entrega de todos os serviços internos e externos, que bem ou mal estão na cabeça da equipe. Pergunte se alguma empresa tem contratos internos de SLA. Dou um doce para quem tiver algo estruturado. A estruturação e a formalização dos processos geram credibilidade para o cliente de TI. Não adianta fazer mais do que o necessário. É preciso esquartejar a TI e reconstruíla de forma abrangente, flexível e descomplicada. Melhor discutir antes e, na hora de fazer, fazer direito, com certificações e SLA junto aos clientes. Mas é uma tarefa complexa.

IC - A intenção é ter o nível de certificação do mercado?
CORSINI- Não precisamos necessariamente ter a certificação CMMi 5, porque não somos uma fábrica de software. Mas nossos fornecedores, sim, devem se diferenciar pela qualidade. Adotamos sempre como pré-requisito a apresentação das certificações. Internamente os gestores já estão 100% certificados em Itil e no ano que vem devemos contemplar Cobit e PMI. Em 2008, devemos chegar a algum nível intermediário de CMMi.

IC - Como mensurar os resultados da governança?

CORSINI - Não digo que haja ROI em governança.O retorno aparece na melhora da eficiência de TI, na eliminação de retrabalho e de eventuais falhas operacionais, na maior exatidão nas estimativas. Isso tudo são ganhos tangíveis do ponto de vista de controles de gestão, o que agrega valor ao negócio. O grande mérito do programa é a formalização dos processos, para que haja transparência na entrega de TI. Há um investimento forte em ferramentas, em capacitação da equipe e em estruturação de processos. Não temos um orçamento específico para governança, o programa corre junto com o orçamento total de TI para o ano fiscal, mas é controlado de maneira separada. Todo mês fazemos uma reunião de alinhamento com as áreas usuárias, os controllers, o RH, o pessoal de projeto, a área de segurança e os consultores. Assim, podemos acompanhar os resultados e conhecer os riscos.

IC - Quais os planos de TI para os próximos dez anos?

CORSINI - Estaremos muito mais focados no negócio. A governança de TI deve estar alinhada com a estratégia. Na medida em que houver um novo ciclo de planejamento estratégico, a TI estará mais bem preparada para responder às demandas que aparecerem em cinco ou dez anos. A Visanet é uma empresa em crescimento. O faturamento em 2005 foi de 92,4 bilhões de reais, e a meta para 2006 é chegar a 116 bilhões de reais. Pelas características do negócio, há enorme dependência de TI, que conta com 200 pessoas. Hoje, 99% das operações com cartão são feitas eletronicamente e a estimativa é encerrar 2006 com 2,2 bilhões de transações, ante 1,7 bilhão em 2005.

IC - Qual o maior desafio? Onde é que complica?

CORSINI - Tem sido prazeroso fazer a governança. Mas sua magnitude me preocupa. O desafio é manter o equilíbrio entre a ansiedade de querer ver tudo pronto e o fôlego na capacidade de execução. Não é simples. Governança dá trabalho. Se alguém falar que vai completar dez planos em um ano e que a equipe ficará 100% focada em governança, pode trocar o CIO. As metas de negócio têm de ser atingidas. É a prioridade. E o segredo é tocar o bumbo.

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