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Equilíbrio dinâmico

Eu já fui um aficionado por tecnologia. Na época do mainframe, você ganhava status com os colegas de acordo com a capacidade dos computadores que programava. Todos nos dedicávamos a entender bem uma verdadeira linguagem marciana de números e letras, códigos que na verdade eram simplesmente os nomes dos produtos do maior fornecedor -- cujo […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h27.

Eu já fui um aficionado por tecnologia. Na época do mainframe, você ganhava status com os colegas de acordo com a capacidade dos computadores que programava. Todos nos dedicávamos a entender bem uma verdadeira linguagem marciana de números e letras, códigos que na verdade eram simplesmente os nomes dos produtos do maior fornecedor -- cujo nome, aliás, era formado por três letras. Engenheiros desenvolviam argumentos, contra-argumentos e contra-contra-argumentos complicadíssimos para defender suas tecnologias (ou suas letrinhas) preferidas. Era um trabalho analítico sério, mas quase sempre com alguma dose de paixão...

Com 30 anos de vivência na área, aprendi a discernir entre os fundamentos e os movimentos de mercado. Há um ajuste permanente em busca do equilíbrio entre oferta e demanda -- o problema é que os momentos em que o equilíbrio vigora são a exceção. O pêndulo do mercado sofre o tempo todo puxões e empurrões de ações "marketeiras" dos produtores de tecnologia, que induzem a criação de modas e influenciam decisões de compra.

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Olhando para trás, é até engraçado acompanhar a oscilação do pêndulo e da empolgação dos aficionados por tecnologia. O mainframe era concentrador por natureza. Era tão caro, que a melhor equação econômica era mantê-lo no centro e garantir que todos fossem (fisicamente) até ele.

O primeiro movimento contrário, rumo à descentralização, foi a implementação dos terminais online, conhecidos como "terminais burros". Tudo que conseguiam fazer era captar o que digitávamos em seus teclados e mostrar a resposta em uma tela de texto. Mas eles foram o embrião da onda seguinte: o surgimento da computação pessoal

Antes que muitos engenheiros percebessem essa tendência, porém, a moda da estação foi outra. Conforme as redes de comunicação que ligavam terminais burros a mainframes ganhavam poder, inaugurou-se o caríssimo processamento em tempo real. Ele realmente gerava valor, quando aplicado a alguns problemas que tinham de ser resolvidos "na hora". Mas o mais importante, para muitos especialistas, era poder dizer de boca cheia "puxa, estou trabalhando duro em um sistema real time".

Logo, porém, os computadores pessoais transformaram-se no maior movimento de descentralização dos feudos da informática. E criaram uma expectativa irreal: ninguém mais dependeria de técnicos. Afinal, com a eliminação de muitos mainframes, a inauguração das interfaces gráficas e a capacidade de processamento local, os usuários poderiam sempre programar suas máquinas e resolver seus problemas, certo? Só na cabeça de quem não viu que o pêndulo já estava voltando...

O mercado se ajustou novamente e começaram a surgir servidores, redes locais, plataformas em três camadas, centralização de bancos de dados, máquinas redundantes... chamem os técnicos de volta! Afinal, quem vai cuidar disso tudo? Com a expansão da capacidade das redes de comunicação, os computadores menores passam a processar os problemas mais complexos em computadores centrais e, vejam só, de novo o usuário fica do lado mais leve da gangorra.

Para quem acha que a história terminou, só lembro o seguinte: estamos vendo os equipamentos portáteis crescerem em poder e importância. Logo, haverá gente celebrando de novo a democratização do poder de processamento, a possibilidade de dispensar os técnicos...

Por isso, o que vale são os fundamentos. Movimentos de mercado que aumentem a capacidade de um dos componentes da cadeia geram desequilíbrio -- e reação do mercado logo em seguida.

Pedro Donda é CEO do Ibope.com.

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